A par com o desenvolvimento das primeiras cidades e da progressiva sedentarização das comunidades humanas que aí residiam, transforma-se também a sua relação com a água e o usufruto de algumas das suas propriedades naturais, para além, naturalmente, da sua insubstituível e imperativa função biológica.
Para além das sociedades milenares do Próximo Oriente, como o Antigo Egipto ou a Suméria, na manipulação de minerais e algas nos seus rituais de purificação e aproveitamento das caraterísticas mineromedicinais das suas águas, referimo-nos em particular ao desenvolvimento do termalismo, fortemente praticado e disseminado na Grécia e Roma Antiga.
As práticas ligadas aos balneários e estâncias termais, certo que não acessíveis a toda a população da sua época, prolongaram-se até às invasões bárbaras e ao advento da Idade Média, que não acolheu os banhos com igual entusiasmo.
Em Portugal, o aproveitamento das águas termais é anterior à própria fundação da nacionalidade[1], facto reiterado pela observação e investigação arqueológica, das quais se destacam Chaves, S. Pedro do Sul ou Caldas da Rainha.
Com distintos períodos de maior ou menor afluência, e maior ou menor interesse público, certamente aos quais a moda e o marketing associados não se desligam, até ao anúncio do estado de Pandemia pela OMS, a 11 de Março de 2020, Portugal, no ano transato, com os seus 47 estabelecimentos termais em atividade, recebeu 112 866 clientes, faturando 13,7 milhões de €[2].
Esta atividade, enquanto produto de saúde e bem estar, tem sido assim um importante fator de valorização turística e de desenvolvimento local, registando um crescimento anual de 5% a 10%, fruto de uma maior atenção por parte do público, de forma transgeracional e descentralizada, aos cuidados de saúde e de bem-estar.[3]
No Norte de Portugal, para lá do Marão, e rasgada por uma das rotas viárias mais bonitas e igualmente movimentadas do país, a EN2, encontramos a vila termal de Pedras Salgadas. As propriedades ímpares das águas naturais gasocarbónicas que lá nascem, e aproveitadas de forma consistente e comercial desde finais do século XIX, creio permitirem fazer desta vila do concelho de Vila Pouca de Aguiar um bom exemplo do Turismo da Natureza e de Bem-Estar.
Não se estranha o seu dinamismo entre
as suas congéneres, apesar da salutar concorrência das estâncias próximas de
Vidago ou até Chaves, pois já a monarquia portuguesa, nos primeiros anos de
novecentos, aqui se instalava e prolongava a sua estadia recorrentemente.
A oferta turística do, agora denominado, Pedras Salgadas Spa & Nature Park, transcende a degustação da famosa água da garrafa verde. O complexo oferece o alojamento nas Eco-Houses e Tree-Houses, projecto de design moderno do arquiteto Luís Rebelo de Andrade, que se fundem de forma harmoniosa com a paisagem autóctone do Parque. Mostram-se os sabores e produtos da região através da cozinha do seu restaurante “Casa de Chá”, e conhece-se a história da região através do novo museu interativo Pedras Experience.
Naturalmente, o ex-libris é desenvolvido nas atividades do Spa Termal, nos tratamentos termais gerais e específicos,
prescritos pelos responsáveis médicos das áreas de Hidrologia e Climatologia.
Aos apreciadores do turismo da natureza, que certamente todos teremos um pouco, apresentam-se ainda agregadas à vila de Pedras Salgadas atividades como o cicloturismo, o arborismo, as caminhadas quer à volta dos centros urbanizados quer nos imensos trilhos das localidades próximas, não faltando, tal como já referimos, a sempre boa gastronomia local
Parece-me importante, do ponto de vista do desenvolvimento regional, que as políticas que neste campo se desenvolvem não esqueçam os regionalismos ou, melhor, as especificidades de cada região, que na esmagadora maioria das vezes são não só diferenciadoras como absolutas mais-valias.
Marco Rodrigues e Matos
[1] CANTISTA, António Pedro, Anales de
Hidrología Médica O termalismo em Portugal
2008-2010, vol. 3, 79-107
[2]
(https://travelbi.turismodeportugal.pt/pt-pt/Paginas/termas-em-portugal-2019.aspx)
[3] Global Spa and
Wellness Economy Monitor
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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