segunda-feira, abril 19, 2021

Centros históricos e património arquitetónico como ativos únicos de projeção global

O centro histórico aplicado à realidade dos Vales do Cávado, do Ave, do Minho e, mesmo do noroeste ibérico, obtém um significado de relevo no que toca à geração de atração por parte das cidades, juntamente com o património cultural das mesmas. Esta componente pode ser entendida como um ativo único de projeção à escala global devido à condição de autenticidade à qual estes “centros” correspondem. Isto verifica-se sob a alçada de uma ampla quantidade de dados históricos e antropológicos dos quais cidades como Braga não se podem dissociar. A presença da mesma como polo urbano bimilenar é intrínseca ao seu património em âmbito geral e, por consequência, ao antigo centro.

Por dados como são os referidos anteriormente, são tecidos os novos fatores de influência naquilo que são as estratégias de projeção e competitividade de urbes com idiossincrasias deste género (cidade retalhada e milenar). Desenvolve-se assim a caraterização de um “branding” no qual o património histórico dificilmente ocupará uma posição que não a de primeira no pódio, tendo em conta que, independentemente de qualquer estratégia, se sobrepõem os milénios de auto disseminação impostos pela ocupação humana intensa da região.

A competitividade entre ativos deste género nas regiões referidas é volumosa e remonta, historicamente, às raízes da construção e urbanismo intrínsecos à “função” das cidades. O caso de Braga e Santiago de Compostela é um processo inequívoco de luta por protagonismo religioso e cultural que, na idade média, permitiu ao polo urbano galego superiorizar-se na atração de peregrinos. A arquitetura Românica existente na Sé de Braga e na Catedral de Santiago, sustentadas por diferentes capacidades de investimento, mão-de-obra e poderio económico permitiram um maior desenvolvimento da cidade espanhola, mesmo que, historicamente, Braga tenha tido o protagonismo durante os anos antecedentes como capital romana, assim como dos povos suevos e visigodos.

As considerações a estruturar esta comparação são várias. A nível demográfico, demonstrou-se que, perante a atratividade real, em termos de crescimento da população, na contemporaneidade, Braga, acabou por se distanciar superando cidades vizinhas em Portugal. O preço do solo e valor reduzido das rendas foram fatores com forte influência nesta área. No entanto, comparando o desenvolvimento económico das cidades com fatores como, por exemplo, o PIB per capita, podemos inferir sobre a inferioridade de Braga quando comparada com as cidades galegas.

A componente internacional da comparação torna-a mais complexa, verificada a grande disparidade entre os índices sintéticos de desenvolvimento de ambos os países. O caso do turismo também coloca Braga abaixo de Santiago de Compostela, com maior percentagem de dormidas no município. Neste caso, as capacidades do património e centro histórico entram em plano de análise com maior grau de comparabilidade. Tendo o turismo um peso tão significativo na economia portuguesa, e observando os números de Braga e Santiago, acabamos por identificar uma evolução profundamente relacionada com o património sob os quais ambas as cidades subsistem.

Enquanto Braga se diferenciou por um preço do solo mais reduzido, com uma forte atração demográfica ao longo dos anos, Santiago de Compostela fortificou a componente turística promovendo uma cidade menos populosa, mas com maior número de visitas, desenvolvendo a economia de forma distinta. Isto sucede-se de forma idêntica ao passado competitivo entre ambas as localidades.

“A popularidade do património histórico tem grande importância, e existem números confirmativos. Aproximadamente 53% da população viaja para experienciar a atmosfera de uma cidade histórica pelo menos uma vez por ano, e 42% visitam um museu ou galeria”. Estes dados, apresentados em “Investing in success. Heritage and UK tourism economy”, atribuem alguma credibilidade a este setor económico, assim como acrescentada importância devido ao caráter resiliente no que toca a períodos de crise, apresentando-se como uma forma catalisadora de outros setores, como no caso particular de Santiago (ex: indústria madeireira) e Braga (ex: inovação associada aos laboratórios e universidade, indústria de construção civil).

 

Tiago Madureira

Bibliografia:

https://www.heritagefund.org.uk/sites/default/files/media/about_us/hlf_tourism_impact_single.pdf

https://www.turismodeportugal.pt/SiteCollectionDocuments/estrategia/estrategia-turismo-2027.pdf

file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/ISDR.pdf

file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/PIN2007.pdf

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)

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