O centro histórico aplicado à realidade dos Vales do Cávado, do Ave, do Minho e, mesmo do noroeste ibérico, obtém um significado de relevo no que toca à geração de atração por parte das cidades, juntamente com o património cultural das mesmas. Esta componente pode ser entendida como um ativo único de projeção à escala global devido à condição de autenticidade à qual estes “centros” correspondem. Isto verifica-se sob a alçada de uma ampla quantidade de dados históricos e antropológicos dos quais cidades como Braga não se podem dissociar. A presença da mesma como polo urbano bimilenar é intrínseca ao seu património em âmbito geral e, por consequência, ao antigo centro.
Por
dados como são os referidos anteriormente, são tecidos os novos fatores de
influência naquilo que são as estratégias de projeção e competitividade de
urbes com idiossincrasias deste género (cidade retalhada e milenar).
Desenvolve-se assim a caraterização de um “branding” no qual o património
histórico dificilmente ocupará uma posição que não a de primeira no pódio,
tendo em conta que, independentemente de qualquer estratégia, se sobrepõem os
milénios de auto disseminação impostos pela ocupação humana intensa da região.
A
competitividade entre ativos deste género nas regiões referidas é volumosa e
remonta, historicamente, às raízes da construção e urbanismo intrínsecos à
“função” das cidades. O caso de Braga e Santiago de Compostela é um processo
inequívoco de luta por protagonismo religioso e cultural que, na idade média,
permitiu ao polo urbano galego superiorizar-se na atração de peregrinos. A
arquitetura Românica existente na Sé de Braga e na Catedral de Santiago, sustentadas
por diferentes capacidades de investimento, mão-de-obra e poderio económico
permitiram um maior desenvolvimento da cidade espanhola, mesmo que,
historicamente, Braga tenha tido o protagonismo durante os anos antecedentes como
capital romana, assim como dos povos suevos e visigodos.
As
considerações a estruturar esta comparação são várias. A nível demográfico,
demonstrou-se que, perante a atratividade real, em termos de crescimento da
população, na contemporaneidade, Braga, acabou por se distanciar superando
cidades vizinhas em Portugal. O preço do solo e valor reduzido das rendas foram
fatores com forte influência nesta área. No entanto, comparando o desenvolvimento
económico das cidades com fatores como, por exemplo, o PIB per capita, podemos
inferir sobre a inferioridade de Braga quando comparada com as cidades galegas.
A
componente internacional da comparação torna-a mais complexa, verificada a
grande disparidade entre os índices sintéticos de desenvolvimento de ambos os
países. O caso do turismo também coloca Braga abaixo de Santiago de Compostela,
com maior percentagem de dormidas no município. Neste caso, as capacidades do
património e centro histórico entram em plano de análise com maior grau de
comparabilidade. Tendo o turismo um peso tão significativo na economia
portuguesa, e observando os números de Braga e Santiago, acabamos por
identificar uma evolução profundamente relacionada com o património sob os
quais ambas as cidades subsistem.
Enquanto
Braga se diferenciou por um preço do solo mais reduzido, com uma forte atração
demográfica ao longo dos anos, Santiago de Compostela fortificou a componente
turística promovendo uma cidade menos populosa, mas com maior número de visitas,
desenvolvendo a economia de forma distinta. Isto sucede-se de forma idêntica ao
passado competitivo entre ambas as localidades.
“A
popularidade do património histórico tem grande importância, e existem números
confirmativos. Aproximadamente 53% da população viaja para experienciar a
atmosfera de uma cidade histórica pelo menos uma vez por ano, e 42% visitam um
museu ou galeria”. Estes dados, apresentados em “Investing in success. Heritage
and UK tourism economy”, atribuem alguma credibilidade a este setor económico,
assim como acrescentada importância devido ao caráter resiliente no que toca a
períodos de crise, apresentando-se como uma forma catalisadora de outros
setores, como no caso particular de Santiago (ex: indústria madeireira) e Braga
(ex: inovação associada aos laboratórios e universidade, indústria de construção
civil).
Tiago Madureira
Bibliografia:
https://www.heritagefund.org.uk/sites/default/files/media/about_us/hlf_tourism_impact_single.pdf
https://www.turismodeportugal.pt/SiteCollectionDocuments/estrategia/estrategia-turismo-2027.pdf
file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/ISDR.pdf
file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/PIN2007.pdf
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)
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