As bandas filarmónicas são grandes promotores da cultura na Região Autónoma dos Açores, existindo atualmente 103 bandas, algumas com mais de 100 anos de existência. Em média, cada freguesia Açoreana possui 0,66 bandas, ou seja, cerca de uma banda por freguesia, existindo casos em que existe mais do que uma, promovendo assim “rivalidades” entre as mesmas. Estas são formadas por tocadores amadores, das faixas etárias dos 8 aos 80 anos.
O
surgimento destas bandas filarmónicas, entre os meados do século XIX e o século
XX, deve-se há influencia das charangas militares. Por esta razão as fardas das
filarmónicas são semelhantes ao fardamento militar, apesar de nos últimos anos o
cenário ter vindo a modificar-se. No fardamento, os elementos que não têm
sofrido alterações são o seu símbolo e o estandarte, que representam a
coletividade e que são únicos a cada um dos grupos musicais.
Como
mencionado anteriormente, estas filarmónicas são formadas maioritariamente por amadores,
tendo por vezes, no máximo, um ano de formação em educação musical. Isto era a
norma no século passado, sendo apenas necessário o gosto pela música ou pelo
convívio para entrar num grupo destes mas, atualmente, as gerações mais novas
já possuem mais conhecimentos musicais e são encorajadas a adquirir mais
conhecimento nesta área. Estas bandas são compostas por um grupo bastante
heterogéneo, quer em idade, quer em tipo de instrumentos. A maioria destas
bandas é composta por instrumentos de sopro e precursão e, em alguns casos,
instrumentos de cordas.
Estes
grupos musicais desempenham um papel importante a nível social e cultural no
arquipélago, fazendo parte do património desta região, representando a essência
e a identidade do povo Açoreano. Os grupos participam em várias festividades
profanas e religiosas, tendo uma agenda preenchida de arraiais todo o ano, não existindo
nenhuma festa na Região Autónoma dos Açores que não tenha a participação de uma
banda filarmónica. Estas são dinamizadoras da cultura, organizando várias
festividades, como é o caso da Rainha Santa Isabel, na quinta das rosas, na
ilha do Pico, e da festa de Nossa Senhora da Barca, também na mesma ilha. Para
além disto, as filarmónicas participam em intercâmbios com outras bandas, nos
quais existe partilha de tradições, costumes e produtos gastronómicos (vinhos, queijos,
licores), dando a conhecer os produtos da região e havendo assim um desenvolvimento
económico e local em volta dos mesmos.
Estas
bandas, como referido anteriormente, têm uma agenda muito preenchida, o que
lhes permite conseguir gerir a coletividade sem muitas dificuldades a nível
monetário. Com o cenário que presenciamos desde o ano passado, quando nos
vimos impedidos de organizar festas profanas e religiosas por causa da covid-19,
esta gestão financeira atingiu alguns obstáculos, sendo que muitas destas
coletividades tiveram uma grande redução nas suas receitas. Apesar deste
panorama, a região autónoma dos Açores não tem sofrido tanto como Portugal
continental, acabando por se realizarem algumas festividades de caráter
religioso dos padroeiros mais cultivados e que mais pessoas movimentam, tanto
das diversas ilhas dos Açores, como da América do Norte e de outros sítios,
pelo menos no caso da ilha do Pico, mas sem o aparato dos anos anteriores.
Por
fim, a Covid trouxe muitas consequências para estas bandas filarmónicas, isto
porque sem arraiais não há receitas, vendo-se afogar em dívidas para pagar as
despesas das suas sedes, o arranjo de instrumentos, e a precisar de ajuda do
Governo Açoreano para se manterem. Este cenário, a longo prazo, pode significar
o desaparecimento destes grupos e de muitas das tradições que eles transmitem.
Em consequência deste cenário, ficam algumas questões no ar sobre o impacte que
a Covid-19 terá, a longo prazo, nestes grupos, nomeadamente: se o turismo
religioso irá diminuir ou morrer com a extinção das bandas? Isto porque a maior
parte das festas religiosas centram-se na participação das filarmónicas,
beneficiando com as mesmas. O futuro destes grupos ainda é muito incerto, tal
como o das festividades.
Catarina
Medeiros
Referências
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Russo, S. B. (2007). AS BANDAS FILARMÓNICAS ENQUANTO PATRIMÓNIO: UM
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(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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