Este
artigo reflete sobre o património que se encontra ao abandono, tendo como
exemplo o caso do palácio D. Chica, um imóvel de interesse público localizado
em Braga, na freguesia de Palmeira.
O
palácio D. Chica, construído no ano de 1915, foi projetado pelo arquiteto suíço
Ernesto Korrodi. Os proprietários procuraram construir uma fortaleza apalaçada de
estilo romântico. Na área exterior encontram-se diferentes plantas de origem
tropical, provenientes do brasil.
Construído
a mando do D. João José Ferreira Rego, com o intuito de o oferecer à sua
esposa, D. Francisca Peixoto Rego, o edifício acabou por nunca ser habitado, sendo
vendido a um fidalgo Inglês e posteriormente a um guarda-livros do Conde de
Vizela, Alberto Torres de Figueiredo.
Na segunda metade do séc. XX, a junta de freguesia de Palmeira compra o imóvel e aluga-o ao IPALTUR, que o transformou numa discoteca. Após a falência da empresa, o edifício é adquirido pela Caixa Geral de Depósitos.
Fig.
1: Palácio D. Chica
Fonte:
https://ominho.pt/palacio-d-chica-em-braga-e-um-dos-dez-mais-belos-lugares-abandonados-do-mundo/
Durante
o decorrer do séc. XIX e nos inícios do séc. XX, poucos eram os restauros que
tinham em conta os elementos caraterísticos do edifício, acabando por destruir
grande parte do seu valor arquitetónico. No séc. XX, começa a nascer uma
preocupação tanto a nível da salvaguarda como da valorização do património,
sendo no ano de 1965 criado o ICOMOS. No
caso do palácio D. Chica foram realizadas diversas obras que acabaram por
destruir muito do seu valor arquitetónico, especialmente a nível dos diferentes
tipos de cerâmica.
A
partir da década de 30 surge, através da legislação, a classificação de Imóvel
de Interesse Público, onde é destacado o mérito artístico, histórico e
social. Atualmente, este património classificado encontra-se sob a direção da
DGPC, onde é reconhecido apenas o valor patrimonial. Caso a DGPC não seja o
proprietário do edifício, não possui a instrumentos para realizar qualquer tipo
de intervenção, deixando o mesmo ao abandono, tornando-se perigoso para as
pessoas que pretendem visitar o local.
Quando
falamos de património que carece de recuperação temos de ter em mente que os
custos são elevados. Contudo, é possível identificar alguns casos que obtiveram
sucesso e se transformaram num património rentável, sendo um desses casos a
Torre de Gomariz, um Spa Hotel de 5 estrelas localizado na freguesia de
Cervães. Este é um hotel que se centra num conceito de Boutique Hotel, isto é, um edifício com história, de pequenas
dimensões, para um público com alguma capacidade económica.
É a sociedade que deve ser responsabilizada pela recuperação
dos edifícios de elevado valor histórico, destacando-se os órgãos
políticos, jurídicos e administrativos, mas também os proprietários. Qualquer
intervenção deve ser ponderada e enquadrada a médio e longo prazo, devendo ser
acompanhada pelos respetivos especialistas na área.
Um edifício histórico transmite diferentes sensações, entre
elas a da curiosidade, pois os visitantes procuram descobrir todos os segredos
escondidos no local.
Em
suma, é necessário compreender que, apesar de existir uma legislação que
pretende salvaguardar o património, esta não é eficaz. No caso do palácio D.
Chica, que já conta com mais de 100 anos de história, pouca ou nenhuma é a
preocupação de o salvaguardar, verificando-se uma constante degradação.
Cristiana
Silva
Referências bibliográficas:
Nascer do Sol. (17 de novembro de 2020). “Conservação e
Reabilitação do Património – Estratégias e Potencialidades (2020 – 2030)”. Disponível
em: https://sol.sapo.pt/artigo/715420/conservacao-e-reabilitacao-do-patrimonio-estrategias-e-potencialidades-2020-2030-.
Caldeira, Marta Amaral. (Braga,
2015) “É urgente salvaguardar o Palácio de D. Chica”. Disponível em: https://correiodominho.pt/noticias/ldquo-e-urgente-salvaguardar-o-palacio-de-d-chica-rdquo/88903.
Miranda, Marta Gonçalves.
(10 de setembro de 2016) “Edifícios abandonados: o palácio que ficou esquecido
depois do divorcio da D. Chica”. Disponível em: https://www.nit.pt/fora-de-casa/09-10-2016-edificios-abandonados-o-palacio-que-ficou-esquecido-depois-do-divorcio-da-d-chica.
Sereno, Isabel & Santos, João. (27 de julho de 2011) “Castelo de D. Chica/Castelo de Palmeira /Castelo Villa-Rego”, SIPA, Sistema de Informação para o património Arquitetónico, forte de Sacavém. Disponível em: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=766.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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