Nos
últimos anos, temos assistido a uma crescente reação ao património, tanto por
parte das massas como de entidades oficiais, como o governo. A criação destas reações é algo importante e
deve ser desde sempre um dos principais objetivos do património. Mais do que
preservar o nosso passado, o património deve ser um elemento desencadeador de
reflexão e fazer as pessoas pensar no que foi e o que é e as razões para tal.
Estas
reações consistem, por vezes, na reivindicação de alguns países de que o património
que lhes foi retirado por meio da força através de invasões ou guerras lhes seja
devolvido. Podem também consistir no protesto contra e até mesmo a destruição
de património que não consideram refletir a sua cultura e os seus ideais.
Ao
longo dos séculos, foram muitos os objetos e o património que foi retirado do
seu local de origem pela força, algum deles estando ainda hoje por devolver.
Isto não ocorreu apenas devido à colonização por parte das colónias europeia. Desde
que o mundo é mundo, povos invadem e conquistam outros e levam o que querem.
O
processo de colonização e de escravatura fez com que muito património mudasse
de mãos, causando uma perda de identidade das comunidades oprimidas. A
colonização apagou muito da história dos países colonizados e estas nações
viram-se agora para as marcas de colonização como parte do seu património
identitário. É neste sentido que estão cada vez mais a reivindicar não apenas o
património que lhe foi retirado, muitas vezes para os gabinetes de curiosidades
europeus, mas também os símbolos do colonialismo.
O
processo que pode ser visto atualmente é a reivindicação por parte de ex- colónias e a valorização de património
deixado pelos ex-colonizadores que tinha sido anteriormente retirado e
desvalorizado pela população local, mas pode também ser aplicado a património
que mudou de mãos sob outras circunstâncias, como invasões e guerras anteriores.
Também
recentemente temos assistido à destruição de estátuas e outros monumentos que lembram
e celebram pessoas que, à luz do que sabemos atualmente, apoiaram e
beneficiaram de atrocidades, como a escravatura.
Não
é possível mudar o passado e as consequências do mesmo. O que podemos fazer é
tentar entender as decisões que levaram à criação do património ou mesmo o seu
“roubo”. Importa explicá-las o melhor possível tendo em vista tudo o que
sabemos e conhecemos agora.
É
importante termos em mente que não somos possuidores do conhecimento universal
e que a nossa opinião é, como a de muitos outros antes de nós, um resultado do
nosso tempo. Nesse sentido, pode ser algo bom o reclamar aquilo que faz parte
da nossa identidade, mas também modificar certas coisas de modo a criar um
ambiente em que o património faça pensar sem, no entanto, deixar de reconhecer
o sofrimento passado ou aceitar práticas que ofendam os direitos humanos.
Mariana Antunes
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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