quarta-feira, abril 21, 2021

Turismo médico – uma nova oportunidade para o setor do turismo português?

          O que é o turismo médico? Ora, para quem não for familiarizado com a expressão poderá suscitar alguma confusão a associação do termo "médico" ao turismo. No entanto, o turismo médico movimenta milhões de pessoas todos os anos, sendo assim oportuno esclarecer acerca do que constitui esta potencialmente invulgar forma de turismo.

Turismo médico é o termo usado para descrever viagens internacionais com o objetivo de receber cuidados médicos. Este tipo de turista pode procurar atendimento médico no exterior por numerosos motivos, como redução de custos, recomendação de amigos ou familiares, oportunidade de combinar atendimento médico com destino de férias ou receber um procedimento ou terapia não disponível no seu país de residência. O turismo médico é um mercado mundial multimilionário que continua a crescer ano após ano, sem dar sinais de abrandar (Centers for Disease Control and Prevention, 2021).

Portugal inspira confiança nos turistas e é cada vez mais procurado para este tipo de atividade. Para muitos, os cuidados de saúde portugueses são uma alternativa com uma excelente relação qualidade-preço: a hospitalidade, o clima, o contacto direto com a natureza e a hotelaria portuguesa são outros aspetos apontados para o caráter gratificante da experiência, assim como qualidade, inovação e modernidade, segundo o website da Medical Tourism in Portugal (2021), que permitem ao turista usufruir simultaneamente do vasto leque de serviços prestados, desde a oftalmologia à cirurgia plástica, segundo o mesmo website.

A saúde portuguesa está ao nível do que de melhor há. Por isso, falar em turismo médico em Portugal é ter a certeza que se pode confiar na oferta existente, no diagnóstico e nas aptidões dos técnicos de saúde numa moderna rede de hospitais e clínicas que abrangem todo o país (Visit Portugal, 2021). Porém, Portugal ainda tem um longo caminho até chegar ao topo mundial. O Medical Tourism Index 2020-2021 classifica as perceções americanas de 46 destinos internacionais de saúde, com o primeiro lugar a pertencer ao Canadá, seguindo-se Singapura, Japão, Espanha, Reino Unido, Dubai, Costa Rica, Israel, Abu Dhabi e India.  

               Ora, será de referir que o turismo médico não vem sem os seus riscos. Relatórios contínuos de infeções e outros eventos adversos após procedimentos médicos ou odontológicos no exterior servem como uma lembrança disso mesmo. Estes riscos são mitigados quando as instalações têm acreditação internacional, mantêm políticas formais de segurança de registos médicos, entre outros fatores. Os turistas médicos também devem estar cientes de que os medicamentos, produtos e dispositivos usados podem não estar sujeitos ao escrutínio e supervisão regulatórios efetuados no seu país de origem. Além disso, alguns medicamentos podem ser falsificados ou ineficazes (por exemplo, vencidos, contaminados ou armazenados incorretamente).

As possíveis complicações infeciosas associadas a procedimentos médicos realizados fora da Europa incluem variadíssimos tipos de infeções: feridas, infeções da corrente sanguínea, derivadas de doadores e aquisição de patogénicos transmitidos pelo sangue, incluindo hepatite B, hepatite C e HIV. O risco de ser infetado por organismos resistentes a antibióticos é mais elevado em certos países, e o tipo de patogénio mais comum varia de região para região.

Assim sendo, o turismo médico pode ter tanto vantagens como desvantagens, estando na responsabilidade do individuo, no entanto, fazer a sua investigação minuciosa sobre o tipo de serviço médico que pretende, quais os riscos associados, assim como se instituições prestadores de serviços são seguras.

Atualmente, os bloqueios decorrentes da propagação da pandemia, as restrições de viagens em todo o mundo e o cancelamento de todas as cirurgias não urgentes resultaram no adiamento dos procedimentos médicos para pacientes internacionais que chegam normalmente ao nosso país, impactando o setor. No entanto, com a flexibilização das restrições a viagens e as atividades económicas a voltar ao normal, espera-se que a recuperação setorial aconteça.

Do ponto de vista da economia portuguesa, no entanto, esta atividade mostra-se como uma alternativa favorável para promover o turismo e a imagem de Portugal como um País de Excelência em termos de capacidade de satisfazer a procura do Turismo Médico Internacional, especialmente após a violenta quebra de receitas em 2020. Muitos são os países, como é o caso da índia, que veem neste tipo de turismo o futuro do setor. Na minha opinião, Portugal deverá encarar esta atividade da mesma forma, publicitando-se com as suas forças: um serviço com o rigor, qualidade e certificação europeias, e, à boa maneira portuguesa, facilitando um período de repouso tranquilo, plantado à beira-mar.

 

Cecília Teixeira

Referências utilizadas:

Medical Tourism in Portugal. (2021). Disponível em:  https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/turismo-medico-em-portugal

Centers for Disease Control and Prevention. (2021). Yellow Book. Chapter 9. Travel for Work & Other Reasons. Medical Tourism. Disponível em: https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2020/travel-for-work-other-reasons/medical-tourism#:~:text=Medical%20tourists%20may%20pursue%20medical,a%20procedure%20or%20therapy%20not

Medical Tourism Index 2020-2021. (2021). Disponível em: https://www.medicaltourism.com/mti/home

Visit Portugal. (2021). Disponível em: https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/turismo-medico-em-portugal

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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