sexta-feira, novembro 11, 2011

Fafe, na rota do património industrial do Ave

A constituição de uma rota do Património Industrial do Vale do Ave, levada a cabo pela ADRAVE (Associação de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave), com o apoio financeiro de fundos comunitários através do Programa Operacional da Região do Norte, assentou no objectivo principal de criar um percurso que permitisse compreender melhor a importância dos rios, em especial do rio ave, como pólo aglutinador da indústria da região. Para isso, em cada um dos oito concelhos do Vale do Ave (Fafe, Guimarães, Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Vizela, Famalicão, Santo Tirso e Trofa, coincidente com a NUT III) procurou-se, por um lado, mostrar a diversidade e a qualidade das principais estruturas arquitectónicas industriais existentes, reconhecer a sua importância histórica e cultural e, por outro lado, ajudar a preservar este património industrial, inserindo-o na rota dos Itinerários Culturais do Conselho da Europa.
Por esse motivo, a Rota foi necessariamente condicionada por factores que se prendem com questões de acessibilidade, permissão de visita, potencialidades lúdicas e pedagógicas dos sítios e monumentos. Procurou-se, por outro lado, que os locais a visitar fossem elucidativos da diversidade e qualidade das estruturas e arquitecturas relacionadas com o património industrial e pré-industrial existente no Vale do Ave, estabelecendo-se também critérios de equidade entre os diversos municípios envolvidos. Por tal motivo, e independentemente de se chamar à atenção e incentivar à descoberta de outros vários pontos de interesse, foram evidenciados apenas, em cada concelho, até um máximo de três pólos de visita.
Assim, Fafe tem integrado neste percurso 3 importantes edifícios, seja, a Companhia de Fiação e Tecidos do Ferro ("Fábrica do Ferro"), a Central Hidroeléctrica de Santa Rita e o Moinho de Casca de Gontim.
A Central Hidroeléctrica de Santa Rita está localizada no concelho de Fafe, na freguesia de Fornelos, na margem esquerda do Rio Vizela. Foi inaugurada a 5 de Outubro de 1914, uma das primeiras na região, e é exemplo da acção social orientada para o progresso, fruto de ideais de republicanos. Este empreendimento com o objectivo de enriquecer a rede eléctrica de serviço público, desempenhou um papel central na consolidação do desenvolvimento industrial, associado às já existentes fábricas do Bugio e do Ferro. A construção deste empreendimento ficou registado na imprensa local e na memória da população que a encarava como símbolo da evolução social e económica da Vila de Fafe. O espaço onde está construída a Central, pelas suas características naturais, permite uma optimização da obtenção da energia mecânica e, consequentemente, eléctrica.
Foi alvo de intervenção e restauro, apresentando-se, actualmente, como um local de excelência no que respeita à “Energia”, símbolo da capacidade humana de utilização dos engenhos e técnicas na exploração de recursos naturais potenciadores de crescimento económico e de reconhecimento histórico e social. Em virtude do seu interesse histórico e cultural - como marco importante do processo de electrificação no Noroeste de Portugal e dado o bom estado do equipamento, a Câmara Municipal de Fafe, entidade proprietária, decidiu musealizar as instalações, e os equipamentos, em bom estado de conservação, em meados dos anos 80, constituindo um museu regional de electricidade, o primeiro do seu género no país.
A Fábrica de Fiação e Tecidos de Fafe, embora fosse tradicionalmente designada de Fábrica do Ferro, foi fundada em 1887 num contexto de forte ruralidade.
Foi implantada num local onde tinha existido uma moagem e transformou-se num dos mais antigos e importantes estabelecimentos fabris da região, onde três anos após o seu nascimento já empregava 339 operários.
Nos anos 50/60 do século XX o número de trabalhadores ao serviço alcançou os 2000, e esse crescimento era acompanhado por apoios sociais como a atribuição de subsídios de reforma por doença, velhice ou invalidez, uma cantina, uma creche e um lactário. Em 1926, cria uma escola infantil anexa à creche e uma escola primária com seis professores cujo salário era inteiramente pago pela empresa.
A sua produção de fio e tecido destinava-se ao consumo nacional e internacional. E a energia necessária a essa produção provinha da sua central hidroeléctrica, com a particularidade de também ter instalado, como alternativa, um motor diesel de um transatlântico.
Porém, em Dezembro de 1994 foi alvo de um violento incêndio que destruiu parte das suas instalações. A partir do ano de 1999, com a nova administração, a empresa passou a designar-se de “Companhia de Fiação e Tecidos do Ferro, Lda”. Igualmente relevante nesta fábrica é toda a área envolvente ao edifício, onde se destaca o bairro operário, a casa do pessoal e todo um conjunto de equipamentos sociais construídos ao longo do tempo por esta empresa, nomeadamente, escola, cantina, loja do trabalhador e serviços médicos. São os actuais testemunhos materiais e simbólicos edificados e que representam o impacto da mudança social e económica deste espaço fabril no concelho de Fafe.
Quanto ao Moinho de casca de Gontim, não há registo da data da sua construção, mas sabe-se que está desactivado à cerca de 50 anos. O moinho insere-se numa propriedade agrícola perto da nascente do Rio Vizela e a sua função era transformar a casca de carvalho alvarinho numa substância com propriedades químicas muito úteis para a indústria dos curtumes. Encontra-se encerrado ao público.
Não se pretendeu em momento algum valorizar apenas o passado da região. Os mecanismos de identificação e valorização desta deverão ser lidos igualmente numa perspectiva de requalificação desta mais-valia do Vale do Ave, no que ele representa de capacidade criativa e empreendedora, da relação do Homem com o espaço que ocupa, gerindo os recursos que a natureza disponibiliza e ditando, deste modo, a sua dinâmica de futuro.

Joana Cristina Alves Oliveira

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3.º ano do curso de Economia (1.ºciclo) da EEG/UMinho]


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