Partindo de um conceito de rural incerto e frequentemente contestado, tem sido muito difícil chegar a um consenso quanto à natureza específica de processos de desenvolvimento rural, particularmente num contexto de mudanças aceleradas e reestruturações sucessivas. Um dos grandes problemas levantados pelo conceito da ruralidade consiste na sua natureza, tão do agrado dos teóricos da modernização, e na sua consequente definição pela negativa.
Se o destino das áreas rurais for determinado principalmente por interesses externos, aquilo que actualmente consideramos rural sofrerá, possivelmente, uma descaracterização por via da difusão e introdução de interesses e valores, perturbando, assim, as distinções entre rural e urbano. Implícitos na teoria da modernização estão determinados pressupostos sobre a dita “condição rural” que, correspondendo embora, de certa forma, à verdade, realçam exageradamente quer a falta de dinâmica e adaptabilidade interna do meio rural, quer a sua aversão às oportunidades de modernização proporcionadas por forças externas. Na minha perspectiva, há toda uma série de valores e atitudes que conduzem à estagnação económica e a uma relativa indiferenciação social. Esta visão retrata o mundo rural como relativamente análogo e estático, reunindo todas as características contrárias à ideia de modernidade, tão presente nos nossos dias.
Os habitantes rurais dependem largamente do sector primário em geral, e do uso, relativamente extensivo da terra em particular. Contudo, verifica-se actualmente que o número de habitantes que se dedicam a tempo inteiro à agricultura é tão pequeno que o estatuto rural pouco tem a ver com a existência e o funcionamento das explorações agrícolas. Verificamos facilmente que quanto mais uma região sofre um processo de diversificação das suas actividades económicas, mesmo mantendo o peso relativo do sector agrário, mais difícil é a sua definição simplesmente em termos do binómio rural-urbano. As mudanças no nível e natureza da actividade económica num dado território rural resultam de um conjunto de procedimentos e dependem, essencialmente, dos recursos locais, naturais, ou humanos, e da evolução histórica dos factores que condicionam o equilíbrio de poder entre forças locais, regionais, nacionais e internacionais.
Vista de uma perspectiva de longo prazo, a reestruturação gradual do sector rural resultou da articulação de uma série de sub-processos sectoriais que contribuíram para o reforço das assimetrias interterritoriais e continuam a condicionar as oportunidades de desenvolvimento local e regional. Embora existam experiências nacionais e regionais distintas, as duas forças que, a meu ver, e de uma forma interligada, maior impacto tiveram nos países europeus, nas últimas décadas, são aquelas associadas à reestruturação da economia agrária e ao aparecimento de novos usos produtivos e a progressiva diversificação do espaço rural.
Talvez seja possível, na minha opinião, criar oportunidades para que a economia rural se desenvolva, de uma maneira sustentável e endógena, baseada nas iniciativas territoriais e na consequente afirmação e concretização da autonomia local e na fixação de uma parte significativa do valor acrescentado criado.
Elsa Duarte Lopes
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3.º ano do curso de Economia (1.ºciclo) da EEG/UMinho]
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