Recentemente foi noticiado pela comunicação social um estudo elaborado pelo Centro de Estatística da Associação Nacional das PME e pela Universidade Fernando Pessoa, para a Comissão Europeia, denominado "Estudo sobre a Pobreza na Região Norte de Portugal", que concluiu que a região de Trás-os-Montes é a mais pobre da Europa. No senso comum é natural associar o interior e principalmente esta região à desertificação, à agricultura, a população idosa e, consequentemente, a uma maior pobreza, contudo, espantou-me o facto de um estudo feito por um Centro de Estatística nacional e por uma Universidade portuguesa aportar tal conclusão.
Segundo dados do INE referentes a 2009, o PIB per capita na região do Alto Trás-os-Montes foi de 10.236 euros, superior ao da Beira Interior Sul, ao da Serra da Estrela, ao do Pinhal Interior Norte, ao do Pinhal Interior Sul, ao do Douro e ao do Tâmega; o salário mensal líquido de 450€, superior ao do Pinhal Interior Sul. Sabe-se também que o Norte do país é o destino preferencial das remessas de dinheiro enviadas pelos emigrantes, cabendo às regiões mais pobres do Minho, Trás-os-Montes e Beira Interior cerca de 48% do total dos valores do continente reportados a 2006. A nível europeu, conforme indicam os dados do Eurostat, em 2008 o PIB per capita a preços correntes de mercado do Alto de Trás-os-Montes foi de 10.000 euros, enquanto o da Roménia foi de 6.500 euros.
O desenvolvimento do Interior Norte é constantemente posto em causa devido ao grave problema que enfrenta de envelhecimento e decréscimo da população, devido à migração crescente da população jovem para os centros urbanos. Esta migração não se deve há falta de oportunidades de investimento e inovação na região, mas sim ao crescimento das cidades fronteiras às áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, que nos últimos anos se têm desenvolvido consideravelmente devido sobretudo à sua proximidade a estas duas grandes áreas, o que lhes tem permitido a construção de mais e melhores infra-estruturas, a criação de mais oportunidades de emprego, um aumento no número de habitantes, um maior reconhecimento por parte de investidores, etc. Enquanto não se alterar os focos de investimento e concentração de preocupações do Estado (Porto, Lisboa e agora cada vez mais as cidades em seu redor), as disparidades entre o Litoral e o Interior serão cada vez mais acentuadas e assistiremos progressivamente a fenómenos de desertificação e solidão da população idosa no Interior e, consequentemente, a má gestão do ordenamento do território no Litoral.
Assim, não será já tempo de deixar de declarar Trás-os-Montes como “o local ideal para a sua reforma”, perdendo a ideia feita de que esta região apenas “vive” da agricultura e da população idosa, e valorizar as extraordinárias oportunidades de crescimento que aqui existem? Nesta região é produzido um vinho (da Adega Cooperativa de Valpaços) que já acumula 66 prémios nacionais e internacionais e que é exportado para países como a Alemanha, a China, os Estados Unidos da América, a França, a Suíça e a Angola. É também nesta região que se produz o Azeite Rosmaninho também galardoado mais de 30 vezes nacional e internacionalmente, que apresenta um volume de exportações concentrado na Alemanha, Luxemburgo, França e Brasil. É também desta região que sai para todo o país a famosa “Castanha de Trás-os-Montes” que é considerada o “petróleo” da região, tal como a cereja, o folar, etc. E já que falamos em produção, aqui também se “produz” bons políticos, como é o caso do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, entre outros, mas nem isso serve para que se olhe com outros olhos para a região, para que se defendam os seus interesses, apoiando os produtores, as exportações, incentivando o investimento, investindo na região e nos seus habitantes, para acabar com o crescente índice de envelhecimento e resultante empobrecimento da população, e para que se combata definitivamente as desigualdades entre o Litoral e o Interior no nosso país.
Na actual situação económico-financeira enfrentada pelo nosso país é necessário que Portugal se renove, tanto a nível local como regional, e é necessário que as reformas na Administração Local que estão a ser preparadas permitam uma melhor satisfação dos interesses dos cidadãos, e que seja um ponto de partida para um Portugal mais justo e homogéneo.
Andreia Sofia Carvalho Cunha
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]
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