quinta-feira, março 08, 2018

A importância da informação na demanda turística de Portugal

A ideia de uma interação entre a preservação do patrimônio cultural, do desenvolvimento regional e do turismo já vem sendo desenvolvida há tempo suficiente para demonstrar sua eficácia e os caminhos a serem seguidos de forma a promover sua implantação com efetividade.
Nos pilares de um produto turístico está a estrutura do setor hoteleiro, de transporte, de prestação de serviços (tais como bancos, correios, farmácias, etc.), bem como toda a infraestrutura básica (água, esgoto, segurança) que atenderão a população flutuante de turistas. Dentre esses pilares, um se destaca especialmente, tendo em vista que é por meio dele que o turista será capaz de localizar os produtos a ele destinado: a sinalização.
No âmbito da sinalização turística, existe hoje uma recomendação de forma a internacionalizar o design para facilitar o reconhecimento dos símbolos mais recorrentes. Entretanto, não basta a colocação de placas com nomes de igrejas e mosteiros se o caminho para os alcançar também não estiver sinalizado.
Portugal sofre hoje com essa realidade. Em quase todas as principais rodovias que cortam o país é possível encontrar letreiros indicativos de locais históricos ou culturais. Porém, sem a ajuda de um GPS (e algumas vezes mesmo com ele) é praticamente impossível localizá-los. Não existe uma política de facilitação de acesso ao visitante assim como nem junto aos órgãos representantes do setor é possível encontrar qualquer normatização sobre o assunto. Dessa forma, o turismo individual é desencorajado dando lugar àquele feito apenas por operadoras de turismo, provocando seu encarecimento e o risco da formação de cartéis por região.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), com suporte nos resultados preliminares do Inquérito ao Turismo Internacional, relativos ao período de julho de 2015 a junho de 2016, os estrangeiros que visitaram Portugal entraram principalmente por rodovia (55,6%). Cerca de 61,1% do total de visitantes estrangeiros que entraram em Portugal passaram pelo menos uma noite em Portugal (turistas) e 38,9% efetuaram deslocações de um só dia (excursionistas). Os excursionistas estrangeiros entraram em Portugal principalmente por fronteira rodoviária (90,2). Isso significa que boa parte de uma estrutura bem-sucedida do turismo português passa por uma sinalização eficiente nas estradas do país.
Ainda segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de turistas nacionais e estrangeiros aumentou 8% entre janeiro e novembro de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016, e, entretanto, o crescimento de consumo desses turistas quase que dobrou, gerando uma receita significativa de mais de 3,2 mil milhões de euros. De acordo com o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, em entrevista à imprensa, "O nosso esforço não é fazer o turismo crescer em número e nos lugares onde há muita intensidade turística, mas exatamente o contrário", e para que isso seja alcançado a instrumentalização da sinalização turística é fundamental.
De acordo com os indicadores da Organização Mundial de Turismo, o turismo português é o que mais cresce na Europa e o espaço rural é um dos grandes desafios de desenvolvimento, visto que a maior demanda por uma competente sinalização turística se encontra justamente neste espaço, dada sua precariedade versus um aumento considerável de interesse na área. A região do norte de Portugal é a maior receptora desse tipo de turismo que já contava com uma taxa de hóspedes anuais na faixa do 669,1 mil, em uma oferta de 1.305 estabelecimentos em funcionamento e 22,5 mil camas, pelos dados de julho de 2016.
Sendo assim, só será possível um pleno desenvolvimento português na área turística quando forem superadas essas barreiras estruturais, permitindo que o visitante tenha acesso por si próprio aos produtos turísticos do país, sem a obrigatória presença dos operadores e agências. Tendo em vista que Portugal já faz hoje uma grande recepção do turista pelo viés rodoviário, é imprescindível que seja implementada uma sinalização eficiente, prática e facilitadora de modo a ampliar o acesso à sua oferta turística, o que garantirá conforto e segurança ao visitante, e o desejo incondicional de conhecer outras áreas do país.

Maria de Lourdes Ferreira Calainho

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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