segunda-feira, janeiro 25, 2010

A DIVERSIDADE TERRITORIAL EM PORTUGAL: DESAFIOS AO DESENVOLVIMENTO DO INTERIOR

O território português é caracterizado enormemente por disparidades em termos da sua dimensão geográfica bem como pela desigualdade em termos de competitividade. Em Portugal, a estrutura urbana do interior, embora com uma dimensão territorial maior, apresenta um nível de competitividade muito pouco significativo comparativamente com o litoral.
É verdade, que a concepção de território urbano, nos dias de hoje, ultrapassa os planos meramente demográficos e funcionais. Os aspectos relacionais assumem uma maior importância na avaliação de uma cidade do que os aspectos meramente quantitativos, na medida em que, uma cidade média, bem organizada, que faz um bom aproveitamento das suas complementaridades territoriais e com uma boa rede de relações e mobilidades com outras cidades e os territórios vizinhos, pode ser mais eficiente e proporcionar um melhor nível de vida às suas populações do que uma cidade grande, mal organizada e congestionada (Capello, 1998). No entanto, a maior parte da actividade económica em Portugal encontra-se no litoral, cujos centros são vistos como sendo “centro de todas as oportunidades”, onde se concentram aspectos importantes relacionados com a inovação, serviços, mercado de trabalho, diversidade e atractividade. O facto de existir centros populacionais, administrativos, financeiros e económicos, leva a que as populações que não se encontram nestes locais, se tendam a deslocar para eles. O fluxo migratório do interior do país, em busca de melhores condições de empregabilidade no litoral, e no estrangeiro, criaram condições para a sua progressiva desertificação. Os centros urbanos do litoral estão cada vez mais congestionados, em detrimento de um interior cada vez mais desertificado, com potencialidades subaproveitadas, caracterizado essencialmente pelo desemprego, pouco desenvolvimento e muita pobreza.
Para combater esse problema é necessário formular estratégias que tornem competitivas as cidades do interior do país, o que significa que é necessário saber como identificar as vantagens competitivas que devem ser asseguradas por estas cidades. É também indispensável uma maior descentralização para os níveis regional e local como forma de resposta às exigências das populações, reforçar o papel das cidades e formar arranjos territoriais fisicamente descontínuos que, estrategicamente utilizada, pode levar à melhoria da competitividade externa das cidades, acrescentando valor ao espaço, tornando-o mais competitivo no contexto das suas relações com os outros, melhorando a qualidade de vida das suas populações e o seu valor de mercado. É também necessário, cada vez mais, a promoção da igualdade de oportunidades e a modernização dos diferentes espaços de forma a captar novos investimentos, que resulta num aumento do nível de emprego, bem como apoiar os sectores económicos que nas diferentes regiões, poderão estimular o desenvolvimento dessas cidades.
Não se procura com este artigo afirmar que é possível que as cidades do interior possam vir a desenvolver tanto quanto as do litoral, uma vez que associado ao desenvolvimento do litoral também estão associados outras condições que não dependem tão-somente de decisões humanas, (condições climatéricas, por ex.) mas sim ressaltar para a necessidade de aproveitar as capacidades e as características que as diferenciam positivamente do litoral através de uma estratégia que fortaleça o aproveitamento económico dessas particularidades e aumentar o seu nível de competitividade.
Em síntese, creio que para colmatar as assimetrias e fazer face ao fluxo migratório do interior para o litoral, é necessário uma política de ordenamento do território eficaz, uma aposta nas condições de mobilidade, nas redes de transportes e de comunicações rápidas e eficazes, criação instituições de formação e investigação, criação de condições para a fixação de empresas de serviços qualificados, e um ambiente cultural e social de qualidade incluindo instalações culturais, desportivas, de recreio e animação. Repare que estas apostas permitiriam não só cativar as pessoas e as empresas para o interior, como permitiria uma melhoria significativa na qualificação dos grandes centros urbanos.

HÉRICA CELIZA GOMES TAVARES
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

1 comentário:

bostor disse...

Professor
Sugestão uma nota de rodapé com a bibliografia seria interessante juntar nestes artigos