segunda-feira, janeiro 11, 2010

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM DA INOVAÇÃO DESEJÁVEL

O actual cenário global, caracterizado pela crise económica, alterações climáticas e complexidade das políticas governamentais, faz com que os decisores políticos, os gestores, cada vez mais têm de lidar com estas questões nos seus processos de decisão. Dado que estas situações vão ter reflexos no cenário futuro é importante a aproximação entre instituições científicas e empresas, bem como a partilha de informações entre nações de forma a promover o desenvolvimento sustentável, que surge como um aspecto determinante para a criação de grandes oportunidades a vários níveis.
Da noção de desenvolvimento sustentável dada pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987, conhecida como Comissão Brundtland, com o relatório do mesmo nome, onde se estabeleceu traços básicos para a noção e princípios fundamentais, advém que desenvolvimento sustentável é o “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades." O desenvolvimento sustentável surge assim como um conceito abrangente assente em três grandes dimensões (ambiental, económico e social) que devem funcionar integradas numa verdadeira lógica de gestão global do negócio.
Portanto, uma forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável é evidenciar que as empresas podem prosperar na medida em que colaborem para a prosperidade da sociedade através da inovação, da criação de novos bens e serviços capazes de atender aos desafios actuais, e do atendimento a novos grupos de consumidores (Fischer, 2002). A inovação constitui um aspecto indispensável para alcançar o desenvolvimento sustentável, como vem exposto na revista Inovação, Tecnologia, Sustentabilidade e Sociedade (2005) “A inovação é fundamental para a criação de uma sociedade humana sustentável. Enquanto sociedade não seremos capazes de ser bem sucedidos na criação de um mundo sustentável, se nos preocuparmos unicamente em sermos mais eficientes naquilo que já fazemos”. Conceptualmente a inovação pode ser vista como sendo a atitude de introduzir novidades, de renovar. É também ferramenta de competitividade que permite ao empreendedor, para além de produzir de forma mais eficiente reduzir a dependência excessiva e aumentar a sua capacidade competitiva. Entretanto é preciso reconhecer que é necessária criatividade para escolher o que inovar, além de como inovar. Isto porque em torno do contexto global, caracterizado no primeiro parágrafo emerge também um novo conceito, a de responsabilidade social e ambiental e uma discussão cada vez mais assente no papel da inovação.
Ao meu ver, é preciso delimitar o tipo de inovação que se quer. Não é suficiente que as organizações sejam inovadoras, elas precisam, também de ser sustentáveis, entendendo que a palavra sustentável está relacionada com a concepção social, económica e ambiental de desenvolvimento e não apenas com o sucesso na obtenção de condições de competitividade. É preciso ter em conta que uma organização inovadora sustentável não é a que introduz novidades de qualquer tipo, mas a que introduz novidades que respeitam às múltiplas dimensões da sustentabilidade.
Os decisores políticos, os órgãos de comunicação social, os financiadores, os accionistas, as ONG´s, e outros actores sociais devem exercer a sua pressão sobre as organizações de forma a exigir uma preocupação maior com as questões da sustentabilidade, um compromisso social em benefício da sociedade. Aspectos como a qualidade da força de trabalho de uma empresa, o compromisso social e ambiental devem fazer parte das preocupações de todas as organizações. A inovação deve ser trabalhada de forma que possa ser contínua, a longo prazo e que permita um ambiente propício a realização de mudanças e que não prejudique as gerações futuras.
Creio que inovar por inovar é um desperdício de recursos naturais, humanos e financeiros, e que não é este o modelo de uma empresa inovadora que qualquer sociedade deve exigir. É possível conciliar aspectos como protecção ambiental, justiça social, crescimento económico e ser inovador, como algumas organizações têm comprovado, e quanto mais integrados forem tais factores mais nos aproximamos da sustentabilidade.
Ao mesmo tempo que se apela à inovação é necessário fazer referência ao tipo de inovação que vale a pena!

HÉRICA CELIZA GOMES TAVARES
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

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