quarta-feira, janeiro 20, 2010

“Educação, Um Presente com Futuro”

Há dias li num placard municipal, em Ponte de Lima, “Educação, Um Presente com Futuro” e pensei, de facto pode ser um presente com futuro, mas não é tão linear quanto parece. Daí ter decidido fazer uma pequena abordagem a esta temática.
Apostar na educação, à partida deveria significar apostar no desenvolvimento económico-social de uma região e consequentemente do país.
Ao olharmos para o presente estado do nosso sistema educativo, torna-se curioso mencionar que Portugal foi provavelmente o 4º país do Mundo, a publicar em 1835 uma lei que estabelecia o princípio da escolaridade obrigatória. Lamentavelmente, continuamos a ter um elevado número de cidadãos sem saber ler e escrever.
Actualmente, assistimos a mudanças no sector educativo. A começar com a tão polémica avaliação dos professores, criação dos centros educativos, programa Novas Oportunidades, alterações dos programas educativos como por exemplo aprendizagem de inglês no ensino primário, acesso mais precoce às novas tecnologias, entre outras.
De todas as medidas, a mais reivindicada foi sem dúvida o novo sistema de avaliação de professores, por não considerar a mais relevante não vou comentar.
Também gerou alguma discussão a criação dos centros educativos porque fez com que se fechassem escolas aumentando o percurso casa escola de alguns alunos. Neste caso considero relevante referir que os inconvenientes gerados pelo encerramento de algumas escolas tornam-se insignificantes se olharmos para o incremento de qualidade associado.
O programa Novas Oportunidades, salvo raras excepções, não foi alvo de qualquer reivindicação. Concordo em parte com o programa. È importante dar oportunidade a quem por razões de vária ordem não poude continuar a sua formação. Também concordo que se torna imperativo criar condições que motivem os mais desinteressados a voltar à escola. O que não posso concordar é com o que se passa nestes programas. As aulas, onde era suposto ser dada instrução, é para contar a história da vida, fazer as contas das compras de fim-de-semana…isto é caricato. É urgente reestruturar os objectivos de aprendizagem deste programa. Não podem pensar somente em números.
Tudo gira em torno do nível de educação que se adquire.
É indispensável criar uma parceria entre as escolas e encarregados de educação onde além da instrução sejam incutidos valores e disciplina.
Temos tendência a culpar os Governos pelos problemas existentes na Nação. O problema principal não está no Governo, o Governo é só uma pequena parte. O principal problema de uma Nação reside nos seus cidadãos, mais objectivamente na sua falta de formação. Vejamos o quadro actual: Quantos cidadãos manejam esquemas para reduzir o valor dos impostos a pagar??? Quantos trabalham sem descontar para segurança social e consequentemente sem apresentar declaração de rendimentos??? Depois ainda temos o grupo que além de não pagar ainda recebe subsídio de inserção social ou de desemprego. E como estas situações tantas outras.
A aposta na educação torna-se cada vez mais urgente. É necessário apostar na instrução não só como aquisição de conhecimento mas como forma de mudar mentalidades e comportamentos. Os cidadãos têm que perceber que a mudança está em nós. Temos que engrandecer o conceito de CIDADANIA.
Contudo, sei que existe gente com formação, que frequentou as melhores escolas, as melhores Universidades sem qualquer tipo de princípio. È necessário incutir, também, o dever de fiscalização, que cada um deve desempenhar na sociedade. Todos nós temos conhecimento de situações fraudulentas que deviam ser denunciadas, mas não estamos para nos aborrecer, e depois a culpa é do Governo…é do Governo e Nossa.
Se apostarmos na educação de qualidade, educação no sentido de instrução, disciplina, valores, respeito, com toda a certeza que estaremos a fazer uma acertada aposta no futuro. Não acredito na perfeição, mas acredito que é possível fazer muito melhor.
Assim estaremos prontos a dizer sem reservas: “Educação, Um Presente com Futuro.”

Mónia Grácio
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

4 comentários:

Eurico José A. Cunha disse...

Gostei do teu artigo, apesar de não concordar com alguns pontos de vista que demonstras, este foi o único artigo que conseguiu acelerar o meu batimento cardíaco. Vou tentar explicar porquê!

Quando falamos de Novas Oportunidades, estou contigo. Sinto que estamos a manipular a realidade, mas também acho que muitos são o trabalhadores que devido à experiência de trabalho que têm, merecem ver-lhes reconhecido pelo menos o nível de escolaridade mínima. E para isso as novas oportunidades funcionam perfeitamente.
Agora, acabar o 12º e depois ainda entrar na universidade porque se faz taekwondo, isto sim é preocupante para o futuro do país!

Até aqui penso que estas de acordo comigo!

Agora quando dizes que:
“O principal problema de uma Nação reside nos seus cidadãos, mais objectivamente na sua falta de formação(...)È necessário incutir, também, o dever de fiscalização, que cada um deve desempenhar na sociedade. Todos nós temos conhecimento de situações fraudulentas que deviam ser denunciadas, mas não estamos para nos aborrecer, e depois a culpa é do Governo…é do Governo e Nossa.”

Vais me desculpar, mas não delegues as funções no povo por algo que é única e exclusivamente responsabilidade do nosso Governo. O governo tem a responsabilidade de criar um orgão capaz de fiscalizar e, depois, punir exemplarmente todos os que meteram a mão no nosso bolso.

Lembra-te que o estado é tanto dos que prevaricam como dos que pagam os impostos devidamente. O estado somos todos! Quem paga os imposto tem de exigir que o Governo lute contra estas formas de fuga ao fisco e de aproveitamento de ajudas, que deviam de ser para quem mais precisa.

Agora, gostava de saber a tua opinião sobre esta minha pequena divagação:

- no sector militar dos quase 3.000 milhões de euros contratualizados, apenas 800 milhões de euros estão a ser cumpridos
- "compramos" submarinos em que 75% já foi pago, e ainda ninguém os viu. eu diria que deve ser por estar debaixo de agua ali no cais de Leixões! já agora qual a utilidade de um submarino? Pesca?
- "colocamos" mais de 4,2 mil milhões de euros no BPN, quando devia haver senhores a supervisionar a acção deste Banco
- estamos em 2010 e o QREN parece que não é para ser executado
- e somos o melhor mercado para o investimento da família Santos

Ainda achas que o nosso povo é encorajado pelo governo a pagarem os seus imposto? Continuar a financiar este sistema e depois vender ao MPLA o que dá dinheiro?

Eu digo-te, mediante os meu argumentos apresentados, que não é difícil de observares que o Governo é sem dúvida o culpado por não acontecer nada a quem foge ao fisco. Afinal eles (políticos) andam ocupados a brincar aos tropas e ao "quem consegue roubar mais se ser punido".
Não me digas que também achas que quem pagou os submarinos foi a sociedade Anónima "Doutor Paulo Portas e associados"? Digo-te já que não foi!

Porque razão exigimos que a classe dos professores seja eficientemente avaliada, e o sector das "guerras" não tenha de ser?
Não é difícil de ver que se em vez de brincarmos aos tropas e as offshores, colocássemos em pratica acções de combate à fuga fiscal mais eficientes, a esta hora não ias estar a propor que o nosso povo, que eu tanto admiro, se torna-se em fiscais do estado.

O problema é facilmente observado: EFICIÊNCIA! é isso que falta ao nosso governo...

Se o povo diz que a culpa é do Governo é porque tem razões! A voz do Povo é a voz do seu País.

Mónia Grácio disse...

Olá Eurico, agradeço o teu comentário.

Eu nao culpabilizo o povo por tudo o que se passa na nossa sociedade, nem queria passar a ideia de que os nossos Governantes são exemplares.

Na minha opinião, existem problemas ao nivel da sociedade que poderiam ser atenuados com a aposta na educação em todos os niveis que referi no texto, incluindo o dever de fiscalização.

Como tu disseste "O Estado somos todos".

Relativamente à tua divagação, acho que apresentas mais que motivos para o nosso povo se preocupar com o nosso país, e não virar-lhe as costa, ou juntar-se ao grupo dos que só olham para o próprio umbigo.

Porém, quero deixar claro que existem aspectos que também despertam a minha admiração pelo nosso povo, o povo do qual faço parte.

Tu terminas dizendo:
"A voz do Povo é a voz do seu País."

Concordo contigo; e espero que o povo se faça ouvir.

Mónia Grácio disse...

Curiosamente deparei-me com esta reflexão de Eça de Queirós, que me parece bastante pertinente mencioná-la no contexto do meu artigo e do comentário:

"Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente."

Eça de Queirós, in 'Cartas de Inglaterra'

Eurico José A. Cunha disse...

Independentemente da opinião do Eça, que ainda é muito actual, não vejo nela uma razão para achar que devemos incutir às pessoas o habito de fiscalizar. Mas confesso que finalmente percebi onde o Doutor Medina Carreira vais buscar a sua inspiração derrotista e pessimista.

Na altura das Legislativas, muitos eram os cidadãos que me diziam: "Porque razão pago Impostos? Os serviços públicos funcionam mal!"

Como é lógico eu não concordo com eles mas compreendo o seu ponto de vista e, tinha sempre dificuldades em fazer entender aos votantes, das contrapartidas e importância de pagarmos os impostos.
Os que me entendiam,a resposta era sempre a mesma: "Eles brincam com os nossos impostos!"

A mim o que me revolta na sociedade não é culpar sempre o Governo e depender sempre deste, mas sim ver a população sem forças para exigir que o Governo seja capaz de fornecer serviços públicos com qualidade, quando somos nós que os financiamos.

A razão para essa descrença já apontei anteriormente.
Mas o reflexo da descrença dos nossos cidadão no seu Governo, é a abstenção na altura das eleições. Que quanto a mim, fala-se um ou dois dias e, logo a seguir, como se um acto de um doente de alzheimer se tratasse, é esquecido o facto de as pessoas não irem exercer o seu direito de voto.

Penso que o Povo quer dizer alguma coisa quando isto acontece.