segunda-feira, janeiro 25, 2010

TGV: Lisboa a um passo de Madrid

“Lisboa e toda a zona em redor será, provavelmente, a praia de Madrid”, foram estas as palavras proferidas pelo nosso Ministro das Obras Públicas, durante a apresentação de um estudo sobre o impacto da alta velocidade no sector do turismo, que decorreu no dia 14 de Janeiro de 2010, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). O estudo elaborado pela consultora Deloitte, conclui que: “a entrada em funcionamento da alta velocidade poderá gerar 3.725 novos empregos no turismo e aumentar o valor acrescentado gerado pelo sector em 57 milhões de euros em 2015.”
Confesso que não sei se realmente os Madrilenos vão preferir as nossas praias, às praias do sul de Espanha, nem tão pouco sei quanto tempo demora uma Viagem Madrid-Sevilha, mas se António Mendonça usou estas palavras, é porque realmente conhece as infra-estruturas do país vizinho.
2 horas e 45 minutos, vai ser o tempo que, em 2013, vão separar as duas Capitais da Península Ibérica. E, pelo menos até 2015, um madrileno terá de despender o mesmo tempo que um cidadão da cidade do Porto, para poder esta em Lisboa de comboio. Se à 10 anos atrás me dissessem que isto seria possível, seria impossível para mim conter uma gargalhada. O TGV vai revolucionar completamente a nossa noção de tempo e do espaço do território!
Tendo em conta as futuras capacidades das carruagens do TGV e a comodidade que estas irão proporcionar aos seus passageiros, o qual saliento facto de se poder trabalhar durante a viagem, não tenho dúvidas que na altura de ter de optar entre se deslocar de avião ou TGV, um empresário que se desloque para Portugal, vai dar preferência ao TGV.
Como é lógico, não serão apenas os empresários e as empresas que iram usufruir deste comboio. O cidadão que tencione fazer uma visita e ficar a conhecer um pouco mais de Portugal, também o poderá fazer com preços mais apetecíveis e mais confortável que no avião. Tendo em conta o que se vem praticando nos países que já têm este Transporte de Alta Velocidade, o consumidor poderá esperar pela altura em que há menos procura, e aí beneficiar de tarifas promocionais.
Muitas têm sido as individualidades conhecidas que têm agoirado o avanço deste projecto, alegando que a dívida será agravada com a elaboração de tal megalómana construção. Ora bem, a construção das três linhas definidas como prioritárias (Madrid-Lisboa;Lisboa-Porto;Porto-Vigo), irão representar um investimento total de perto de 9 mil milhões de euros, dos quais, cerca de 45% irão ser suportados pelas receitas do próprio projecto, 35% pelo Estado português e 20% por fundos comunitários. Como diria o António Guterres: é fazer as contas! O estado irá despender pouco mais de 3 mil milhões de euros, o que quer isto dizer que, o preço a pagar será inferior ao de corrigir os erros de banqueiros irresponsáveis.
Eu pessoalmente tenho uma pedra no sapato quando defendo a realização deste projecto pois, vejo com alguma preocupação, a sombra que o TGV irá fazer à TAP. Como se sabe, esta é uma das operadoras que liga as duas capitais por via aérea e, tendo em conta a situação financeira actual desta empresa, o TGV pode retirar muitos clientes assíduos desta operadora.
Mas sem dúvida que este é o projecto que irá tornar Portugal um país menos periférico e mais central, principalmente quando pensamos na ligação deste transporte de alta velocidade, ao Porto de Sines. Aproveitando a importância e potencialidades desta infra-estrutura, o transporte das mercadorias por TGV, chegada ao porto de Sines, iria acentuar a importância que Portugal tem, para fazer chegar as mercadorias ao centro da Europa, principalmente se tivermos em conta a importância das relações comerciais do triângulo Europa-América-África, onde as mercadorias chegam em barcos que exigem algumas particularidade às infra-estruturas portuárias, para poderem atracar. Particulares existentes no nosso Porto de Sines.
Para mim não há dúvidas, que este será o projecto que irá colocar Portugal mais próximo do centro nevrálgico da Europa.

Eurico Cunha
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

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