terça-feira, abril 17, 2018

Enoturismo: uma expansão dos sentidos

Um dos simbolos culturais da sociedade Portuguesa, o vinho é um dos mais importantes produtos da economia nacional desde a formação do estado português moderno. De acordo com o Italian Wine Central, em 2016, Portugal foi o nono maior exportador de vinho do mundo, no valor exportado de mais de $700 milhões de euros, representando 1,5% do volume total de exportações no mesmo ano.
O vinho é, portanto, uma inegável fonte de renda para Portugal. Nas últimas duas décadas, observamos também que a produção de vinho realizou um agradável casamento com a indústria do turismo nacional, e de ambas vemos a exploração de um novo produto, dinâmico, criativo e focado em estimular os sentidos de seus consumidores: o Enoturismo. Esta vertente do turismo é entendida como o desenvolvimento do turismo com foco na descoberta e experimentação do ambiente cultural que envolve a produção de vinho.
Não somente um fenômeno nacional, o Enoturismo tem levantado discussões e tem sido explorado em projetos públicos ao redor de todo o globo. Já se situa com considerada importância em países como a Austrália, tido como projeto público desde 1998. Os Estados Unidos também são agente mundial em termos de Enoturismo, em especial, na tradicional região do Napa Valley (Costa Oeste Norte-Americana). A África do Sul, tem a Stellenbosch Wine Route, consolidada desde 1971, e 15 novas rotas foram oficializadas desde então.  No Brasil, há a rota do vinho nos estados do Sul do país. E em outras partes da Europa, rotas do vinho com considerável volume de turistas são encontradas em França, Espanha e Itália
As necessidades do turista que busca o Enoturismo estão baseadas na descoberta da paisagem da vinicultura, a exploração do campo e da ruralidade, o estar em contacto com o estilo de vida regional, o estar em contacto com a cadeia produtiva do vinho, a apreciação e experiências sensoriais de consumir vinhos produzidos localmente, bem como a experiência gastronômica presente.
Segundo Salvado (2016), o Enoturismo em Portugal é um fenômeno ainda recente, onde mais da metade dos empreendedores no segmento iniciaram as suas atividades durante a década de 2000 e 27% entre 2010-2013. Logo, mais de 75% não ultrapassam 18 anos de atuação comercial. Outro interessante ponto presente no segmento é que o Enoturismo actua como atividade complementar para aproximadamente metade dos produtores de vinho. Isso denota uma caraterística bem distinta do “turismo tradicional”, que em geral é a fonte de renda principal para agências e estabelecimentos.
De acordo com Simões (2008), havia 11 rotas de vinho presentes em Portugal para o ano do estudo, sendo a rota do Vinho do Porto, dos Vinhos Verdes, do Vinho do Alentejo e Vinho do Dão as rotas com o maior número de aderentes. Isabel Inácio acrescenta em seu estudo que a região do Douro é talvez a mais importante para Portugal em termos de potencial para o desenvolvimento do Enoturismo.
Por fim, vemos no Enoturismo uma nova fronteira que pode e deve ser explorada pelos países que já possuem a tradição de produzirem vinho, possuem esta vantagem comparativa e regiões singulares que podem ser trabalhadas em favor do turismo, dinamizando a economia local e aumentando a qualidade de vida em termos econômicos desses territórios, que, em geral, são locais rurais com poucas oportunidades em termos de mercado de trabalho e rendimento.

Caio Gomes Martins

Referências
Atlas.media.mit.edu. (2018). OEC - Portugal (PRT) Exportação, Importação, e Parceiro Comercial. [online]. Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/prt/ [Acessado 14 Abr. 2018].
Bruwer, J. (2018). South African wine routes: some perspectives on the wine tourism industry's structural dimensions and wine tourism product.
Salvado, J. (2018). Enotourism Ecosystem: Stakeholders’ Coopetition Model proposal.
Top Ten Wine Exporting Countries, 2014 - Italian Wine Central. [online] Disponível em: https://italianwinecentral.com/top-ten-wine-exporting-countries/. [Acessado 14 Abr.2018].
Simões, O. (2008). Enoturismo em Portugal: as Rotas de Vinho. PASOS Revista de turismo y patrimonio cultural, 6(2), pp.269-279.
Zanini, T. and Rocha, J. (2010). O Enoturismo no Brasil: um estudo comparativo entre as regiões vinícolas do Vale dos Vinhedos (RS) e do Vale do São Francisco (BA/PE). Revista Turismo em Análise, 21(1), p.68.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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