quinta-feira, abril 05, 2018

O valor da diferença no turismo

Assim como as diferenças tornam cada ser humano único e especial, também o turismo deve ser encarado como um conjunto de experiências únicas, que deixam uma marca indelével naqueles que o praticam. Então, porque é que muitas vezes as diferenças são vistas como uma fraqueza e não como uma riqueza? De acordo com a OMT (Organização Mundial do Turismo) 15% da população mundial tem alguma incapacidade e apenas 12% do turismo europeu é acessível. Em 2050, 20% da população terá mais de 60 anos. Face a estes dados, é possível verificar que ainda se encontra uma lacuna entre a procura e a oferta turística.
Se fizermos uma pesquisa acerca dos tipos de turismo que existem, verificamos que entre o turismo de negócios, turismo de lazer, de natureza, de aventura, religioso, cultural e de saúde existe um leque variadíssimo de experiências que satisfazem quase na totalidade as necessidades dos turistas. No entanto, e apesar do turismo ser considerado uma atividade para todos, ainda há quem não tenha a oportunidade de o praticar. Se os destinos turísticos encararem esta falha como uma oportunidade de negócio, terão a chance de se tornarem um destino para todos, capacitando os seus recursos turísticos para que sejam cada vez mais acessíveis e inclusivos.
De acordo com a Associação Privada Accessible Portugal, em Portugal existem cerca de 2,5 milhões de idosos,1 milhão de pessoas com deficiência, 550 mil crianças com menos de 5 anos de idade e outros milhares de pessoas com limitações temporárias ou definitivas, o que faz com que a questão da acessibilidade ganhe uma importância bastante significativa. Assim, o turismo acessível é um dos eixos prioritários da estratégia de turismo para os próximos 10 anos. Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, em entrevista à revista Descla do dia 17 de julho de 2017 refere que “O desenvolvimento do turismo acessível em Portugal, para além de constituir uma obrigação social que decorre da lei em vigor, constitui igualmente uma oportunidade de negócio para as empresas turísticas. Assim, este mercado não se cinge às pessoas com deficiência, mas é, na verdade, composto por todo aquele que enfrenta ou pode enfrentar uma limitação temporária ou definitiva. Não estamos, por isso, a responder a um ´nicho` de mercado, mas antes a criar as condições para poder constar entre os destinos escolhidos pelos turistas com necessidades específicas.”
E se o valor do turismo está na diferença, também a diferença de valor está neste tipo de turismo. Para além da sazonalidade deixar de ser um problema tão relevante, uma vez que este segmento de turistas não viaja apenas no verão, o aumento das receitas turísticas é notável visto que a sua estadia é mais prolongada e normalmente fazem-se acompanhar por um familiar ou amigo.
Em setembro de 2016 foi lançado em Portugal o programa ALL FOR ALL, que consiste em capacitar e adaptar o turismo português de modo a tornar-se acessível para todos. Luís Araújo defende que “Este programa pretende informar, incentivar e fidelizar a procura turística através da divulgação da oferta turística acessível existente em Portugal, com recurso ao canal visitportugal e a uma campanha audiovisual, com filmes de curta duração que mostram as possibilidades de visitação em cada região turística por parte de turistas com necessidades específicas.”
Pelos portugueses e para o mundo inteiro, Portugal tem a porta aberta para se tornar um destino onde todos cabem e se sentem bem.

Maria João Lopes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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