sexta-feira, abril 27, 2018

Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012 e os investimentos nos equipamentos culturais

Em Outubro de 2006, iniciou-se a candidatura da cidade de Guimarães a Capital Europeia da Cultura e foi formalmente concluída em Maio de 2009. Nessa mesma data, o Conselho Europeu de Ministro da Cultura da União Europeia designou a cidade de Guimarães, conjuntamente com a cidade de Maribor, como Capitais Europeias da Cultura do ano 2012.
Para a implementação do programa de Guimarães 2012 foi constituída por lei, em meados de 2009, a Fundação Cidade de Guimarães (FCG). A Fundação Cidade de Guimarães dispôs de um orçamento de quase 36,5 milhões de euros, dos quais 22,5 milhões se destinaram ao programa cultural. Os restantes 14 milhões de euros dividiram-se, aproximadamente em partes iguais, em despesas de comunicação e marketing e despesas de funcionamento.  
No entanto, se os cerca de 36,5 milhões gastos como custos operacionais da Fundação Cidade de Guimarães são um assunto desconhecido pela população vimarenses ou que divide opiniões, tal não acontece em relação aos custos de investimentos em matéria de equipamentos culturais e requalificação urbana, porque levou a alterações urbanas na cidade de Guimarães e no quotidiano das pessoas, e que hoje em dia são equipamentos de pouca utilização e que pouco ou nada oferecem à cidade após a sua construção, como é o caso da Plataforma das Artes e da Criatividade. O investimento público realizado foi aproximadamente de cerca de 42 milhões de euros, entre esses investimentos destaca-se Plataforma das Artes e da Criatividade, com investimento de 14.804.166,67 euros. Os restantes investimentos foram: o Laboratório da Paisagem (2.268.055,56 euros); a Reabilitação Campo de S. Mamede (250.000,00); a Reabilitação do Largo do Carmo (905.091,82 euros); a Requalificação do Toural, Alameda e Rua Sto. António (5.970.000,00 euros); a Casa da Memória (4.254.899,52 euros); a Requalificação do Espaço Público Zona Couros (2.215,268,00 euros); o Camp Urbis – Instituto de Design (2.722.500,00 euros); o Camp Urbis – Centro Avançado de Formação Pós-Graduada (3.188.350,00 euros); o Camp Urbis – Centro de Ciência Viva (605.000,00 euros); a Qualificação da Veiga de Creixomil (4.267.055,58 euros); o Projeto de Interpretação de Couros (248.335,00 euros). Na minha opinião e perceção, a população de Guimarães, de uma forma geral, tem a ideia de que foram investimentos com custos elevados e com pouca utilidade.
Atualmente, passados 6 anos após a construção e requalificação desses equipamentos, podemos confirmar essa realidade, como, por exemplo, a Plataforma das Artes e da Criatividade, construída para o projeto Guimarães 2012, que teve um custo aproximadamente de 15 milhões de euros, construída em cima do antigo mercado de Guimarães, no entanto, não veio oferecer nada de novo face ao que a cidade oferecia, porque o Centro Vila Flor, São Mamede e outros espaços públicos já oferecem esses serviços. Assim, na minha opinião, Plataforma das Artes e da Criatividade foi um investimento que não se justifica, por dois motivos: primeiramente, como já referi, existem outros espaços na cidade que já oferecem esses serviços ligados a cultura; e, por outro, porque não existe uma procura que se justifique um investimento daquela dimensão, ou seja, para já, a cidade de Guimarães não tem mercado suficiente para satisfazer a oferta que existe. É importante de referir que o custo da obra da Plataforma das Artes e Criatividade foi de 14.804.166,67 €.
Em suma, obviamente que naquele ano 2012 houve um aumento de turistas, nº de dormidas, nº eventos culturais e também impactos no comércio local e outros fatores positivos na economia. No entanto, na minha opinião, os investimentos foram mal direcionados porque, segundo o PORTADA, existem apenas 460,9 espectadores por eventos culturais em Portugal, em média, ou seja, os portugueses não têm essa mentalidade, logo parte do investimento feito devia ter sido mais direcionado nesse sentido, isto é, para a educação cultural. E, por fim, é notório que os investimentos feitos, nomeadamente na Plataforma das Artes e da Criatividade, não representam a realidade de Guimarães. Não será este um erro recorrente em Portugal?

Marcelo Silva

Bibliografia:
Impactos, Económicos e Sociais, Relatório Executivo. Fundação Cidade Guimarães 2012.
Webgrafia:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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