quarta-feira, abril 04, 2018

Património Cultural Subaquático: recifes artificiais, túmulos e museus submersos

A Terra e o céu não foram os únicos palcos de um dos episódios mais tristes da humanidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, as batalhas também aconteciam em todos os oceanos ao redor do mundo. Naufrágios, afundamentos propositados de rendição, aeronaves abatidas nos deixaram como herança um património cultural submerso riquíssimo, além de tornarem-se a “casa” de dezenas de espécies marinhas.
O turismo para Mergulhadores cresceu exponencialmente nos últimos anos com o surgimento das agências internacionais de certificação. O mergulho foi globalizado e hoje a circulação de mergulhadores ao redor do mundo tornou-se mais acessível e democrática. Segundo inventário iniciado em 1984, só em Portugal existem cerca de 9mil registros de artefactos e embarcações naufragada e 300 locais propícios ao mergulho. Entre eles, as Ilhas das Berlengas, consideradas Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, desde 2011.
Um outro exemplo de ponto de interesse para os mergulhadores em Portugal é o U-Boat 1277. O submarino alemão foi afundado propositalmente por sua tripulação no final da Segunda Guerra Mundial antes de sua rendição e encontra-se a 30 metros de profundidade na costa de Angeiras.
O património cultural submerso levanta alguns pontos para discussão sobre sua preservação. Além de serem um ambiente propício para o desenvolvimento de diversas espécies marítimas, esses “gigantes” são também o túmulo silencioso de tripulações abatidas, e a legislação não permite sua exploração.
 Casos como o do mergulhador brasileiro Vilfredo Schurman, que dedicou-se a encontrar o submarino alemão U-513 abatido por um hidroavião americano na costa de Santa Catarina – Brasil, não são raros. Após 11 anos de pesquisa,18 expedições e quase dois anos “vasculhando” o fundo do mar, o localizou. Todavia, a Marinha Brasileira não autorizou a equipe de Schurman a chegar até ele. A embarcação está intacta e provavelmente também abriga os esqueletos de 47 militares nazis, sendo considerada túmulo de guerra. Para esta descoberta, permitiram apenas a exploração por robôs.
À medida que a busca dessas relíquias aumentou nos últimos anos, seja por pesquisadores ou mergulhadores recreativos, surgiu também a preocupação com a sua preservação e em como este tipo de património pode ser “vivenciado” por outros grupos além dos mergulhadores.
Outro ponto a ser observado é que a ação das águas é implacável. A erosão tem transformado esses “museus submersos” em verdadeiras sucatas. Muitos desses navios, submarinos e aviões desaparecerão para sempre.
 É fato que não há como parar o tempo, a ação da natureza ou passar por cima da legislação. Mas como explorar essa nova janela do turismo, de enorme potencial, e, ao mesmo tempo, garantir o registro histórico deste património?
A criação dos recifes artificiais pode ser a resposta para parte do questionamento. Um case de destaque é o projecto “Ocean Revival”, ao largo da costa de Portimão, em Portugal. Visando promover o turismo subaquático, 4 navios de guerra de grande importância histórica para a Marinha Portuguesa foram preparados e afundados intencionalmente em um mesmo local com o intuito de criar um parque subaquático e ser o novo lar para diversas espécies marinhas.
 O projecto além de requalificar esse setor turístico em Portugal, permitir o estudo científico do desenvolvimento de inúmeras espécies marinhas, também estimula a permanência histórica do património, já que é ligado a um complexo no Continente. A criação de um centro de exposições, ligada ao Museu de Portimão, responde a mais uma parte do questionamento exposto acima. Com a documentação de toda a história da frota, através de filmes, fotos e desenhos, um público, além dos mergulhadores, tem a oportunidade de vivenciar a experiência dos naufrágios em “terra firme”.
Com o exemplo dos recifes artificiais, podemos concluir que o património histórico submerso, como os naufrágios resultantes de guerras, poderiam ser melhor explorados, tanto por mergulhadores, como turistas convencionais, se houvesse uma ligação com museus das regiões em que foram abatidos, garantindo sua permanência no contexto social e na história.

Joice Sashalmi Costa Ramos

Bibliografia:
BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fundação para o desenvolvimento da educação, 1999.
Webgrafia:
(Data de acesso: 31.03.2018)
(Data de acesso: 01.04.2018)
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(Data de acesso: 03.04.2018)
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(Data de acesso: 03.04.2018)

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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