terça-feira, abril 10, 2018

TURISMO EM ESPAÇOS RELIGIOSOS DE GRANDE SIGNIFICADO HISTÓRICO-CULTURAL

Viajar virou uma constante na vida das pessoas que buscam quebrar a rotina e ir por vezes em direção ao desconhecido, seja em busca da descoberta de uma outra localidade, da busca do conhecimento cultural, do lazer ou em busca da espiritualidade, entre tantos outros motivos. 
Lourdes, uma pequena cidade situada ao sul da França, nos Pirenéus, é conhecida como local sagrado de fé e peregrinação associada aos católicos franceses e a tantos outros do mundo fora.
Recebe aproximadamente 6 milhões de visitantes anualmente, igualando a soma de todos os visitantes de todas as estações de esqui dos Pirenéus. Isto ocorre devido ao turismo de peregrinação ao Santuário Nossa Senhora de Lourdes.  
A peregrinação é entendida pela Organização mundial do turismo como uma modalidade de turismo.
Em uma área com mais de 50 hectares, Lourdes foi denominada como sendo um dos primeiros lugares de peregrinação do planeta, com aproximadamente 14.000 habitantes e 170 hotéis, desenvolvendo o local e transformando a pequena cidade, que passou a ser considerada a segunda cidade hoteleira após Paris.
Por volta de 1866, a cidade de Lourdes era organizada em volta do castelo. Após a época medieval, a cidade se instalou no seu limite ocidental, a 366 metros, sobre o rochedo. A extensão urbana se deu em direção ao leste, no planalto, permitindo o estabelecimento de rotas de comunicação. A área urbana compacta concentrou-se em torno do eixo meridiano e a gruta de Massabielle, onde as aparições ocorreram, situa-se abaixo do rio Gave de Pau, a jusante da curva do rio, num espaço deixado para a vegetação, onde havia madeira e porcos a pastar. Esta cavidade rochosa não é notável e não é mencionada em nenhum mapa. No entanto, sede das aparições, a caverna antes abandonada pelos habitantes locais torna-se, no final do século XIX, o coração do santuário e o ponto central de atração para os visitantes.
O Santuário é constituído por vários edifícios, sendo a Cripta o primeiro santuário, situada no “Rochedo de Massabielle”, entre a Basílica Superior e a Basílica do Rosário. Foi abençoada em 19 de maio de 1866. Na época, não parecia exatamente o que vemos hoje. Os acessos foram feitos por duas capelas, nos dois lados da entrada, que davam aos corredores onde os padres confessavam. Ao entrar, acima, encontra-se um mosaico de São Pio X e um longo corredor de acesso que conduz ao local de oração, que está repleto de placas com ex-votos de agradecimentos pelas bênçãos recebidas.
A Basílica Imaculada da Conceição, situada na parte superior, possui um estilo ogival do século XIII e estende-se suntuosa em seus 19 metros de altura, 51 metros de comprimento e 21 metros de largura. A nave é dividida em nove vãos iguais. De estilo ogival do século XIII, em 1908, foi enquadrada por dois pináculos que ligam ao Rosário. Os vitrais da Basílica da Imaculada Conceição retratam a história da Virgem Maria até a proclamação do dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Pio IX, em 1854, e as Aparições de Lourdes, em 1858. O Papa IX está representado num medalhão acima da entrada da Cripta.
A Basílica subterrânea São Pio X possui uma área de piso de 12.000 m2 ( 200 metros de comprimento x 80 metros de largura), 15 toneladas de concreto, 58 semi-arcos de concreto que sustentam o conjunto e uma capacidade para 25.000 peregrinos. As paredes estão cheias. Primeiro, na década de 1980, a basílica abrigou uma nova arte: gemmail (Comparado com o vitral, o gemstone traz o alívio e libera o chumbo). O mestre dessa técnica é Roger Malherbe-Navarre. Entre os pilares, os enforcamentos representam santos de todas as regiões do mundo e de todas as eras. Em Lourdes, a água vem de todos os lugares: céu, montanha e solo.
Apesar da habilidade daqueles que construíram a Basílica Nossa Senhora do Rosário, ela estava derretendo: as pedras, atacadas pela água e, do lado de fora, pela geada, foram embora em pó. Nas rampas, um terço delas teve que ser trocada. O quadro da cúpula tinha que ser completamente reconstruído.
O arquiteto, Leopold Hardy, teve a ideia de deslizar, por assim dizer, a nova igreja sob a antiga. No terraço superior, em frente à entrada da cripta, pedras brancas marcam a localização das capelas da abside central do Rosário. Da Porte Saint Michel tem-se a impressão de que a construção da base serve de base para o superior, enquanto as duas igrejas são completamente independentes. "O Rosário" não é apenas um edifício. É um conjunto arquitetónico, quase um aparelho cenográfico.
O átrio, com uma área de aproximadamente 10.000 m², é cercado por duas grandes rampas. Elas são como os braços de uma mãe que reúne todos os seus filhos pequenos para os sacudir contra o coração. De outras maneiras que a Gruta, o pátio é um lugar de boas-vindas e segurança. É aqui que a procissão da noite termina. É aqui que celebram-se as missas das maiores peregrinações, como o Rosário de outubro: as rampas formam as paredes de uma igreja aberta, uma igreja redonda como é quase a própria basílica.
A caverna das aparições é o coração do santuário. A fonte e a estátua de Nossa Senhora de Lourdes, que abriga, são objeto de toda a atenção dos peregrinos. A Gruta, sozinha, diz muito da Mensagem de Lourdes. É esculpida na rocha, como ecoando esta palavra da Bíblia: "O Senhor é a minha rocha, a minha salvação, a minha cidadela" (Salmo 62, 7). A rocha é negra e o sol nunca entra na Gruta: a Aparição (a Virgem Maria, a Imaculada Conceição), pelo contrário, é apenas luz e sorriso. O nicho onde a estátua é colocada marca o lugar onde, na maioria das vezes, a Virgem Maria apareceu quando apareceu a Bernadete Soubirous: é como uma janela que, deste mundo sombrio, se abre sobre o Reino de Deus.
Com todo interesse que a cidade de Lourdes desperta, o seu turismo religioso, juntamente com sua riqueza patrimonial, acabam por gerar o desenvolvimento económico local e regional, expressivo principalmente na área hoteleira e do comércio, sendo um dos principais destinos de peregrinação internacional.

Andrea Caetano Moleirinho

Fontes de Consulta:
Marie-Hélène Chevrier, « Pèlerinage, développement urbain et mondialisation : l'exemple de Lourdes », Géoconfluences, 2016, mis en ligne le 19 octobre 2016, URL : http://geoconfluences.ens-lyon.fr/informations-scientifiques/dossiers-thematiques/fait-religieux-et-construction-de-l-espace/corpus-documentaire/pelerinage-lourdes
https://www.conexaoparis.com.br/2016/08/04/63626/O Santuário Nossa Senhora de Lourdes na cidade de Lourdes” por Lourdes Marques, 4 de agosto de 2016.
France 3, Lourdes : seconde ville hôtelière après Paris, 13 août 2015, Vidéo.
Gemmail (arte em vidro) https://www.youtube.com/watch?v=JoFHhnXgP_s

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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