O chá, como sabemos, é
conhecido e consumido mundialmente, ainda que em certos países, como é o caso
do Japão, China e Inglaterra, essa prática seja recebida com mais entusiamo. No
caso de Portugal, sabemos que o hábito de beber chá não é o mais praticado, mas
é na ilha portuguesa dos Açores que está sediada uma das fábricas de chá mais
visitada do mundo: a Fábrica de Chá Gorreana. Esta fábrica, localizada na ilha
de São Miguel, corresponde uma das mais antigas plantações de chá da Europa já
que a sua atividade remonta ao ano de 1883, fruto de um negócio de família
liderado por Ermelinda Gago da Câmara e José Honorato.
Hoje em dia, esta
fábrica-museu é reconhecida internacionalmente e recebe milhares de visitas
turísticas, mais concretamente, cerca de 27 mil visitantes por ano, segundo uma
notícia da RTP, de 2008. Por isso, não é de admirar que as visitas guiadas
tenham constituído uma aposta de sucesso.
Durante a visita, o
turista é convidado a provar o chá nas suas mais variadas fases de maturação:
chá branco, chá verde e chá preto, além das variedades em que lhes são
adicionados elementos aromatizantes, como por exemplo o chá preto com cascas de
laranja! Nesta visita, o turista também poderá contemplar o espólio de máquinas
Marshall datadas de 1840, ainda em funcionamento. Há, ainda, a possibilidade do
turista experienciar a atividade de colheita do chá, como as conhecidas
“apanhadeiras”.
No caso de Portugal
Continental, o negócio do chá tem já dado provas de que há interesse por parte
dos consumidores e que há turistas interessados em saber mais sobre esta
prática milenar. É, no entanto, o clima de Portugal, mais propriamente o clima
do litoral português, que proporciona a realização do cultivo de chá nos campos
de Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort. Este casal, cujas profissões anteriores
nada tinham que ver com o atual negócio, possuem uma vasta área, onde produzem
o seu próprio chá e onde, por vezes, contam com a ajuda de um outro casal,
japonês. Hoje em dia, o chá que comercializam é já revendido em vários pontos
do país e tem demonstrado que os portugueses, afinal, não perderam o seu bom
costume, não fossem eles os responsáveis pela introdução da camelia sinensis na Europa.
Com toda a boa receção
desta prática, o casal decidiu abrir o seu campo de trabalho aos portugueses e a
todos aqueles que nutrem interesse por conhecê-lo. Portanto, todas as últimas
sextas-feiras de cada mês, nos horários das 10h30 e 14h30, é possível participar
nas visitas guiadas lideradas por um elemento do casal. Para tal, basta marcar
a visita enviando um email para o
endereço info@chacamelia.com.
O mais interessante
ainda, neste projeto, é a junção entre culturas. Poderíamos associar de
imediato, com esta afirmação, a junção de hábitos e costumes de países
diferentes, mas o casal alemão vai mais longe ao cruzar variedades de chá
japonês com plantas que Portugal conhece bem como, por exemplo, lúcia-lima,
flor de sabugueiro, pétalas de rosa, entre outras. Recentemente, o casal
decidiu fazer algo inédito: o que é que torna o chá ainda mais português? Um
toque de Vinho do Porto! Isso mesmo! Mas desengane-se quem pense que o processo
se realiza como o velho hábito inglês de adicionar leite ao chá, não. O que é feito é muito simples: as folhas da camelia sinensis vão direitinhas para as
velhas pipas do vinho do Porto e adquirem toda a complexidade desta bebida glamourosa. Durante seis meses, o chá
adquire propriedades muito interessantes, com notas diversificadas, e este
método está na origem do nome do chá: PipaChá!
Ainda há outra pérola do
chá em território nacional: a Companhia Portugueza do Chá, em Lisboa. Bem
sabemos que a capital é o epicentro do turismo em Portugal e que conta com
milhares de visitantes anualmente. Se é
óbvio que o Mosteiro de Jerónimos, assim como a Torre de Belém, são pontos obrigatórios
nos guias turísticos da cidade, tal cenário não seria de imaginar para uma loja
de chá. Mas esta loja não é uma loja qualquer. Mais de duzentos lotes de chá de
todo o mundo são vendidos neste local tão recôndito situado na Rua do Poços dos
Negros. E, uma vez lá, tem-se a sensação de que estamos realmente num local de
visita obrigatória. É cada vez maior a procura por este produto, assim como por
eventos relacionados com ele, desde workshops
a visitas e experiências nos campos de chá. Para o futuro, lança-se o desafio
de Portugal pensar em explorar este potencial; a possibilidade de criar um
roteiro dedicado ao chá seria mais um ponto de interesse turístico e que
poderia, muito certamente, arrecadar vantagens económicas. E a Fábrica-museu
Gorreana, os Campos de Nina e Dirk assim como a Companhia do Chá Portugueza são
prova viva disso.
Joana Virgínia Lopes
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)