sábado, abril 28, 2018

O Turismo do Chá: um novo turismo?

O chá, como sabemos, é conhecido e consumido mundialmente, ainda que em certos países, como é o caso do Japão, China e Inglaterra, essa prática seja recebida com mais entusiamo. No caso de Portugal, sabemos que o hábito de beber chá não é o mais praticado, mas é na ilha portuguesa dos Açores que está sediada uma das fábricas de chá mais visitada do mundo: a Fábrica de Chá Gorreana. Esta fábrica, localizada na ilha de São Miguel, corresponde uma das mais antigas plantações de chá da Europa já que a sua atividade remonta ao ano de 1883, fruto de um negócio de família liderado por Ermelinda Gago da Câmara e José Honorato.
Hoje em dia, esta fábrica-museu é reconhecida internacionalmente e recebe milhares de visitas turísticas, mais concretamente, cerca de 27 mil visitantes por ano, segundo uma notícia da RTP, de 2008. Por isso, não é de admirar que as visitas guiadas tenham constituído uma aposta de sucesso.
Durante a visita, o turista é convidado a provar o chá nas suas mais variadas fases de maturação: chá branco, chá verde e chá preto, além das variedades em que lhes são adicionados elementos aromatizantes, como por exemplo o chá preto com cascas de laranja! Nesta visita, o turista também poderá contemplar o espólio de máquinas Marshall datadas de 1840, ainda em funcionamento. Há, ainda, a possibilidade do turista experienciar a atividade de colheita do chá, como as conhecidas “apanhadeiras”.
No caso de Portugal Continental, o negócio do chá tem já dado provas de que há interesse por parte dos consumidores e que há turistas interessados em saber mais sobre esta prática milenar. É, no entanto, o clima de Portugal, mais propriamente o clima do litoral português, que proporciona a realização do cultivo de chá nos campos de Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort. Este casal, cujas profissões anteriores nada tinham que ver com o atual negócio, possuem uma vasta área, onde produzem o seu próprio chá e onde, por vezes, contam com a ajuda de um outro casal, japonês. Hoje em dia, o chá que comercializam é já revendido em vários pontos do país e tem demonstrado que os portugueses, afinal, não perderam o seu bom costume, não fossem eles os responsáveis pela introdução da camelia sinensis na Europa.
Com toda a boa receção desta prática, o casal decidiu abrir o seu campo de trabalho aos portugueses e a todos aqueles que nutrem interesse por conhecê-lo. Portanto, todas as últimas sextas-feiras de cada mês, nos horários das 10h30 e 14h30, é possível participar nas visitas guiadas lideradas por um elemento do casal. Para tal, basta marcar a visita enviando um email para o endereço info@chacamelia.com.
O mais interessante ainda, neste projeto, é a junção entre culturas. Poderíamos associar de imediato, com esta afirmação, a junção de hábitos e costumes de países diferentes, mas o casal alemão vai mais longe ao cruzar variedades de chá japonês com plantas que Portugal conhece bem como, por exemplo, lúcia-lima, flor de sabugueiro, pétalas de rosa, entre outras. Recentemente, o casal decidiu fazer algo inédito: o que é que torna o chá ainda mais português? Um toque de Vinho do Porto! Isso mesmo! Mas desengane-se quem pense que o processo se realiza como o velho hábito inglês de adicionar leite ao chá, não.  O que é feito é muito simples: as folhas da camelia sinensis vão direitinhas para as velhas pipas do vinho do Porto e adquirem toda a complexidade desta bebida glamourosa. Durante seis meses, o chá adquire propriedades muito interessantes, com notas diversificadas, e este método está na origem do nome do chá: PipaChá!
Ainda há outra pérola do chá em território nacional: a Companhia Portugueza do Chá, em Lisboa. Bem sabemos que a capital é o epicentro do turismo em Portugal e que conta com milhares de visitantes anualmente.  Se é óbvio que o Mosteiro de Jerónimos, assim como a Torre de Belém, são pontos obrigatórios nos guias turísticos da cidade, tal cenário não seria de imaginar para uma loja de chá. Mas esta loja não é uma loja qualquer. Mais de duzentos lotes de chá de todo o mundo são vendidos neste local tão recôndito situado na Rua do Poços dos Negros. E, uma vez lá, tem-se a sensação de que estamos realmente num local de visita obrigatória. É cada vez maior a procura por este produto, assim como por eventos relacionados com ele, desde workshops a visitas e experiências nos campos de chá. Para o futuro, lança-se o desafio de Portugal pensar em explorar este potencial; a possibilidade de criar um roteiro dedicado ao chá seria mais um ponto de interesse turístico e que poderia, muito certamente, arrecadar vantagens económicas. E a Fábrica-museu Gorreana, os Campos de Nina e Dirk assim como a Companhia do Chá Portugueza são prova viva disso.

Joana Virgínia Lopes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

sexta-feira, abril 27, 2018

AUTO-SUFICIÊNCIA ALIMENTAR NO MOXICO: UTOPIA OU PRAGMATISMO?

Comummente conhecida como a capital da ‘‘Paz em Angola” (uma das ex-províncias ultramarinas de Portugal - DRP, 1951, serie n.º 117), Moxico (na era colonial designava-se por Vila Luso) é atualmente a maior província de Angola, estado independente, com aproximadamente 200 023 km2 de extensão territorial, e dista cerca de 1300 km da capital do país, Luanda (outrora, São Paulo d’Assunção).
Com potencial natural (clima favorável, terras aráveis, água em abundância) eminentemente eficiente para desencadear e galvanizar atividades agropecuárias e, com isto, ser independente no que concerne à alimentação local, e, por conseguinte, dinamizar a generalidade da sua economia regional, caricatamente, assistimos de forma recorrente cenários adversos. Ora, a par de tudo isto, pasma-nos o facto de Moxico estar desde 2002 (após a proclamação dos acordos de paz e reconciliação nacional) mergulhada em situações de fome, com particular incidência nos últimos 3 anos, só para referir este horizonte temporal do qual se tem alguma memória.
Cientes de algumas iniciativas protagonizadas pelo Governo Angolano, nomeadamente em matéria de desminagem do território (desde 2002), os programas Angola Investe (2012) e Crédito Agrícola de Campanha (2010), os projetos fazenda Agro-pecuária de Sacassange (2012) e o Pólo de Desenvolvimento Agro-Industrial de Camaiangala (2014), de forma geral, foram concebidos como estratégias orientadoras que visavam o alcance de vários desideratos, mormente:  ‘Aumentar a produção doméstica; Reduzir a dependência nacional das importações; Fortalecer o tecido empresarial nacional; Promover a criação de emprego; e Diversificar fontes de receitas fiscais e de divisas’.
Ainda assim, todas as premissas inicialmente previstas para curto-médio prazo fracassaram. Dentre as várias razões, destacam-se as débeis políticas de concessão de crédito (políticos que se intitulam de comerciantes ou empresários mas que, em muitos casos, sem empresa legalmente constituída e ou sem instalações), cujos financiamentos que lhes são concedidos quase sempre não são aplicados nos projetos agrícolas enunciados aquando da mobilização do respetivo crédito, deixando à mercê da sorte os poucos e verdadeiros potenciais empresários agrónomos. Associado a isto, temos evidências das irrisórias verbas do Orçamento Geral de Estado que são atribuídas ao sector da agricultura, que, para além de escassas, são mal orientadas.
Tal como enunciámos anteriormente, a região tem um manancial hídrico enorme, por sinal, a maior bacia hidrográfica do país. Contudo, tal não é aproveitado ao máximo afim de dinamizar o sector agropecuário e, com isto, combater a fome. Assistimos recorrentemente, em pleno século XXI, a práticas de agricultura da era neolítica, que infelizmente têm consequências degradantes sobre a qualidade dos solos e não só.
Ao ouvirmos destilar frequentemente oratórias de autossuficiência alimentar na província do Moxico, julgamos ser mera utopia e não realismo político, pois não se consegue perceber o pragmatismo dos procedimentos tendentes a erradicar a fome na região.
A autossuficiência alimentar faz-se com ações sérias e concretas, com a dinamização de toda estrutura setorial local, criando para o efeito equipamentos (centros de veterinária, indústrias transformadoras, fábricas, etc.), infraestruturas (estradas, linhas férreas, pontes duradouras, sistemas de irrigação, linhas de transporte de eletricidade, etc.) e serviços (pessoas coletivas/e ou individuais a atuar no domínio dos transportes, hotelaria, atividades de comércio agrícola etc.) nas zonas rurais e, concomitantemente, envolver saberes com elevadas e reconhecidas competências.
Entretanto, para que isto aconteça é necessário que o estado assuma um papel menos interventivo, cingindo-se à regulação e harmonização do ambiente de negócio. Em vista disso, o que assistimos de algum tempo para cá é a um estado que encabeça projetos milionários cujos desfechos não têm sido bem-sucedidos, marcados quase sempre por privatizações desleais e, com isto, soterrando de forma brutal as classes menos favorecidas que, para já, são a esmagadora maioria da população.
Em suma, o modus operandi em vigência face ao combate à fome têm por finalidade a manutenção da acumulação primitiva de recursos para um conjunto de pessoas devidamente identificadas, pelo que é urgente a inversão de atitudes.

Capalo Gabriel Katumbi

BIBLIOGRAFIA
Diário da República Portuguesa (1951), Lei n.ª 2/048, Constituição da República, I série, n.º 117, de 11 de Junho.
http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/economia/2018/0/2/Maior-fazenda-agropecuaria-Moxico-paralisa-actividades,3f6cd547-5ccc-47e1-b277-fd848a6f3904.html
http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/angola-acontece/2016/7/35/Moxico-Projecto-Camaiangala-Inicio-revolucao-milho-pais,1b77cd47-beda-480e-ada8-f46c563fbbd7.html

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012 e os investimentos nos equipamentos culturais

Em Outubro de 2006, iniciou-se a candidatura da cidade de Guimarães a Capital Europeia da Cultura e foi formalmente concluída em Maio de 2009. Nessa mesma data, o Conselho Europeu de Ministro da Cultura da União Europeia designou a cidade de Guimarães, conjuntamente com a cidade de Maribor, como Capitais Europeias da Cultura do ano 2012.
Para a implementação do programa de Guimarães 2012 foi constituída por lei, em meados de 2009, a Fundação Cidade de Guimarães (FCG). A Fundação Cidade de Guimarães dispôs de um orçamento de quase 36,5 milhões de euros, dos quais 22,5 milhões se destinaram ao programa cultural. Os restantes 14 milhões de euros dividiram-se, aproximadamente em partes iguais, em despesas de comunicação e marketing e despesas de funcionamento.  
No entanto, se os cerca de 36,5 milhões gastos como custos operacionais da Fundação Cidade de Guimarães são um assunto desconhecido pela população vimarenses ou que divide opiniões, tal não acontece em relação aos custos de investimentos em matéria de equipamentos culturais e requalificação urbana, porque levou a alterações urbanas na cidade de Guimarães e no quotidiano das pessoas, e que hoje em dia são equipamentos de pouca utilização e que pouco ou nada oferecem à cidade após a sua construção, como é o caso da Plataforma das Artes e da Criatividade. O investimento público realizado foi aproximadamente de cerca de 42 milhões de euros, entre esses investimentos destaca-se Plataforma das Artes e da Criatividade, com investimento de 14.804.166,67 euros. Os restantes investimentos foram: o Laboratório da Paisagem (2.268.055,56 euros); a Reabilitação Campo de S. Mamede (250.000,00); a Reabilitação do Largo do Carmo (905.091,82 euros); a Requalificação do Toural, Alameda e Rua Sto. António (5.970.000,00 euros); a Casa da Memória (4.254.899,52 euros); a Requalificação do Espaço Público Zona Couros (2.215,268,00 euros); o Camp Urbis – Instituto de Design (2.722.500,00 euros); o Camp Urbis – Centro Avançado de Formação Pós-Graduada (3.188.350,00 euros); o Camp Urbis – Centro de Ciência Viva (605.000,00 euros); a Qualificação da Veiga de Creixomil (4.267.055,58 euros); o Projeto de Interpretação de Couros (248.335,00 euros). Na minha opinião e perceção, a população de Guimarães, de uma forma geral, tem a ideia de que foram investimentos com custos elevados e com pouca utilidade.
Atualmente, passados 6 anos após a construção e requalificação desses equipamentos, podemos confirmar essa realidade, como, por exemplo, a Plataforma das Artes e da Criatividade, construída para o projeto Guimarães 2012, que teve um custo aproximadamente de 15 milhões de euros, construída em cima do antigo mercado de Guimarães, no entanto, não veio oferecer nada de novo face ao que a cidade oferecia, porque o Centro Vila Flor, São Mamede e outros espaços públicos já oferecem esses serviços. Assim, na minha opinião, Plataforma das Artes e da Criatividade foi um investimento que não se justifica, por dois motivos: primeiramente, como já referi, existem outros espaços na cidade que já oferecem esses serviços ligados a cultura; e, por outro, porque não existe uma procura que se justifique um investimento daquela dimensão, ou seja, para já, a cidade de Guimarães não tem mercado suficiente para satisfazer a oferta que existe. É importante de referir que o custo da obra da Plataforma das Artes e Criatividade foi de 14.804.166,67 €.
Em suma, obviamente que naquele ano 2012 houve um aumento de turistas, nº de dormidas, nº eventos culturais e também impactos no comércio local e outros fatores positivos na economia. No entanto, na minha opinião, os investimentos foram mal direcionados porque, segundo o PORTADA, existem apenas 460,9 espectadores por eventos culturais em Portugal, em média, ou seja, os portugueses não têm essa mentalidade, logo parte do investimento feito devia ter sido mais direcionado nesse sentido, isto é, para a educação cultural. E, por fim, é notório que os investimentos feitos, nomeadamente na Plataforma das Artes e da Criatividade, não representam a realidade de Guimarães. Não será este um erro recorrente em Portugal?

Marcelo Silva

Bibliografia:
Impactos, Económicos e Sociais, Relatório Executivo. Fundação Cidade Guimarães 2012.
Webgrafia:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

quinta-feira, abril 26, 2018

Estaremos a caminhar para a 4º Revolução Industrial? Caso de Estudo Braga

       Richard Florida, em 2002, alertava que tínhamos que refletir sobre a cultura e a criatividade no desenvolvimento e na dinamização económica dos territórios, tendo estas uma concentração especialmente em ambientes urbanos e metropolitanos. Isto acontece devido ao desenvolvimento das Tecnologias Informação e Comunicação e à evolução registada em matéria de I&D (Investigação e Desenvolvimento).
Podemos dizer que estamos num processo de clusterização e, em particular, de identificação dos fatores que estão na origem da aglomeração territorial e dos agentes envolvidos na cadeia produtiva das atividades antes mencionadas (Nunes et al.).
Como sabemos, as sub-regiões do Ave e do Cávado eram muito ligadas à indústria têxtil, nalguns casos com caraterísticas muito tradicionais. Quando se começou a sentir a crise em Portugal, muitas destas fábricas começaram a abrir falência, tendo-se assistido a uma taxa de desemprego muito grande. A maior parte destas funcionárias e funcionários tinham poucas qualificações, uma vez que sempre trabalharam na indústria têxtil e não sabiam fazer outra coisa. Mas, nos últimos anos, as sub-regiões do Ave e Cávado têm assistido a uma expansão de setores de elevado valor acrescentado, tais como a produção software (tecnologias de informação e comunicação), desenvolvimento de novos materiais e das nanotecnologias.
Muitas empresas têm-se vindo a expandir em Braga, como exemplo a multinacional Bosch,  que tem protocolos com a Universidade do Minho e o Centro de Emprego e Formação Profissional de Braga, Mazagão, onde a empresa vai buscar formação e recursos humanos. Adicionalmente, muitos projetos empresariais resultam da dinâmica empreendimento de antigos alunos da Universidade do Minho e de spin-offs da própria empresa.
Em resultado da dinâmica destas empresas, têm sido realizadas muitas obras de requalificação e de expansão empresarial no município de Braga, tirando partido do esforço feito em I&D.
A Bosch está sediada na freguesia de Ferreiros, junto com outras empresas da mesma área que, juntas, formam um mini-cluster na área da eletrónica. É uma localização que beneficia, também, da proximidade dos caminhos-de-Ferro, das autoestradas, aeroporto e do porto de Leixões.
Quando eu falo, no princípio, sobre se caminhamos para 4º a revolução industrial, estou a falar que as novas tecnologias estão cada vez mais a dominar o mundo Industrial e cada vez mais temos uma aposta na I&D como suporte da dinâmica económica que se vem materializando. Posso, inclusive, falar da minha experiência profissional numa empresa multinacional em Braga, onde fazíamos peças segundo o modelo Fordista de produção, ou seja, a produção em massa.
Antigamente, estas linhas precisavam de mais ou menos de dez elementos, numa primeira fase, e, numa segunda fase, de mais quinze pessoas para controlar todo o processo. Atualmente, devido à evolução da Investigação e Desenvolvimento e da robótica, esta empresa precisa mais de Engenheiros Informáticas e de entre outras áreas do que se assalariados comuns. Nas linhas de montagem, hoje em dia, não é necessário tanto pessoal porque os robôs fazem quase tudo. As pessoas são necessárias devido às falhas técnicas das máquinas mas, com menor custo, consegue-se produzir muito mais, nomeadamente, devido a não existirem tantos custos com pessoal.
Estamos num outro paradigma social e as empresas que não aderirem a estas tecnologias e inovação podem desaparecer. Eu concordo que estamos a caminhar para uma 4º revolução industrial, e que as empresas têm que ser cada vez mais tecnológicas poderem tirar partido de e comunicar com um mundo cada é vez mais globalizado e tecnológico. Mas não nos podemos esquecer que os seres humanos também precisam de trabalhar para combater as suas necessidades.
A robótica esta a substituir cada vez mais as pessoas. Daí, temos que repensar de que forma podemos reverter esta situação, isto é, conjugar realização das pessoas e progresso tecnológico aplicado.

Maria da Conceição Veloso Cerdeira

Bibliografia:
Nunes, Flávio et al.(…), “Dinâmicas Recentes de Clusterização da Economia Criativa Digital no Porto Cidade Região : O Caso da Indústria  os Videojogos
Florida, Richard (2002) , The rise of the creative class, New York, Basic Books

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

quarta-feira, abril 25, 2018

Turismo influenciado

A opinião, que, por outras palavras, significa o modo de ver ou ter ideias pessoais e juízo formado sobre algum assunto, é um dos aspetos mais melindrosos e importantes a ter em consideração no desenvolvimento do turismo, como fator de crescimento económico.
A partir dos meados do século XX, no período pós-guerra, a população mundial ocidental passou a viajar mais, promovendo o desenvolvimento do turismo. Com o passar dos anos, os países foram tendo a preocupação de acolher os novos visitantes, sendo estes uma nova fonte de rendimentos e desenvolvimento económico. A própria ONU refere que o turismo promove a compreensão, a paz, o respeito universal e a aproximação entre os povos. A par disto, verifica-se que o turismo permite o progresso económico, técnico, tecnológico e social.
Na viragem para o século XXI, com a explosão informacional proporcionada pela Internet e com o desenvolvimento da Web 2.0, houve um abrupto desenvolvimento do turismo e viagens que lhes estão associadas, quer em número de locais visitados, quer em número de viagens totais, dando-se, a par disto, o surgimento de empresas de aviação low-cost, que exponenciaram ainda mais este fenómeno. O desenvolvimento educacional das sociedades foi também um dos aspetos que contribuiu para esta situação.
O facto de estarmos na era da Informação, em que somos simultaneamente consumidores e produtores de informação, permite termos o melhor e o pior dos dois mundos, e o mesmo aplica-se ao caso do turismo, que sabemos que é um dos pilares de desenvolvimento de várias economias mundiais.
Um dos fenómenos atuais que mais contribui para esta situação são os opinion makers[1]. Estes indivíduos por norma estão associados aos mass media e influenciam um grande número de outras pessoas, podendo as suas opiniões auxiliar no aumento ou descida de visitantes dos locais. Este é um dos mecanismos atuais que influencia o progresso e desenvolvimento do turismo e consequente promoção e preservação do património cultural no mundo.
Com simples pesquisas na Internet, somos bombardeados com inúmeros blogues de viagens, para vários gostos e orçamentos, e em várias línguas. As pessoas que trabalham nestes blogues são verdadeiras influenciadoras. Os próprios sites de reservas de viagens e alojamento têm um espaço reservado à opinião das pessoas que usufruíram dos serviços.
Hoje em dia, a maior parte das pessoas não é apenas influenciada pelo preço ou localização dos serviços, mas pelas opiniões que lhes conferem algum grau de confiabilidade e qualidade. Os blogues assumem um papel tão relevante que a própria BTL tem um prémio específico, denominado de BTL – Blogger Travel Awards.
Todos nós temos opiniões e somos influenciadores e influenciados, seja pelos nossos amigos, familiares ou pela comunicação social, redes sociais ou ídolos. Vejamos o caso de Cristiano Ronaldo, que teve uma casa na zona de Vieira do Minho e isto acabou por trazer visitantes inesperados ao concelho, por curiosidade em saber porque é que uma referência mundial do futebol a escolhera.
Mas podemos pegar em muitos outros exemplos, como é o caso das próprias telenovelas gravadas em concelhos como o caso de Arcos de Valdevez, que durante os anos seguintes aumentou exponencialmente o número de visitantes, ou até mesmo de um comentador político ou social que refere determinado local, por publicidade ou não, e condiciona o número de visitantes aos locais proferidos.
Assim sendo, a rápida evolução da transmissão da informação influencia o crescimento do turismo, e a promoção de culturas locais e globais. O aumento do turismo em diversas regiões é também fruto de um acesso global aos meios digitais, que permitiu quer o florescimento de opinion makers, cujo papel na divulgação e promoção de alguns locais é fundamental. A crescente disponibilidade de informações sobre os diversos locais e o aumento do interesse por parte dos indivíduos em conhecerem sítios que outrora nunca teriam ouvido falar é também expressão dessa mesma realidade.

Aurora Catarina Melo Mendo


[1] O dicionário Merriam-Webster tem como definição de opinion maker “a person whose opinion influences the opinions of many other people (bloggers, journalists, and other opinion makers)”.


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

BRAGA, CIDADE AUTÊNTICA: ENTRE A TRADIÇÃO E A INOVAÇÃO

            Braga é uma cidade encravada no Norte de Portugal, capital da Região do Minho, que no ano de 2016 foi designada Região Europeia da Gastronomia. É um município com um cerca de 195 mil habitantes, que possui os títulos Capital Europeia da Juventude (ano de 2012), Capital Iboamericana da Juventude (ano de 2016) e Cidade do Desporto Europeu (ano de 2018).
Em um passeio pelo centro histórico, podemos observar uma cultura predominantemente cristã católica, herança de uma história protagonizada por bispos que desenharam Braga como a “Roma portuguesa”. Nas suas inúmeras igrejas, das mais diversas épocas e estilos, podemos nos encantar e viajar pelas artes gótica, barroca, manuelina, romântica, dentre outras.
        Ao visitarmos as termas públicas do alto da Cividade, o museu D. Diogo de Sousa, o sistema de abastecimento de agua das 7 (sete) fontes e o restaurante Frigideiras do Cantinho voltamos ao tempo da Bracara Augusta, cidade romana capital da Gallaecia, e comprovamos a  existência de uma cidade com mais de 2.000 anos de história e patrimônio.
        Numa visita a Braga, que cresceu ao redor do centro histórico, ao moderno estádio, que foi construído para sediar jogos da Eurocopa 2014, podemos perceber uma cidade jovem, moderna e tecnológica. Podemos citar as escolas, a Universidade do Minho e o Instituto Ibérico de Nanotecnologia, que nos revelam uma cidade que, além de preocupada em preservar seu passado e modernizar seu presente, olha para o futuro com inovações científicas, tecnológicas e educacionais.
         Nas margens da tradição religiosa, podemos observar uma cidade com grande potencial de integração de culturas, pois hoje Braga recebe jovens das mais diversas nacionalidades, etnias, religiões e culturas, que aqui chegam em busca de novas experiências, conhecimentos, aprendizagens e qualidade de vida, seja para morar ou visitar.  Segundo um estudo realizado em 2015 pelo Eurobarómetro, 97% dos bracarenses afirmam que vivem felizes na cidade, portanto Braga é uma cidade jovem e feliz.   
          Braga é uma cidade que nutre e é nutrida por seu Patrimônio Cultural. Ao resgatar e preservar as memórias e valores que emanam das culturas jovens e felizes da cidade, Braga pode se tornar uma experiência singular de integração cultural, credenciais necessárias para fortalecer a sua permanência na rede das cidades interculturais.
          A Interculturalidade é um instrumento para assunção de cidadania plena, visando combater a discriminação e a exclusão social, e se propõe edificar vias alternativas e inovadoras de intervenção e participação social dos cidadãos. Para Braga ser uma cidade intercultural é necessário que ela reconheça a diversidade como fonte de aprendizagem para todos. É também necessário criar equipamentos educacionais que promovam alfabetização cultural, o resgate da memória, da identidade e da cultura. Enfim, é necssário ser e se manter uma cidade capaz de ensinar a ver, conviver e dialogar com o diferente, contribuir com a quebra de paradigmas, preconceitos e  práticas xenofóbicas e produzir informação e formação para integração cultural.
             Braga tem o potencial de preservar as tradições de um passado bimilenar e reiventar nelas os cheiros, os sabores, as cores e as texturas de uma cidade multicultural do presente, tornando-se uma Cidade  Autêntica que marcará seu coração.

Carlos Eduardo Almeida de Farias

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

terça-feira, abril 24, 2018

Palácio da Dona Chica – a história do Palácio da Dona Chica e do seu declínio – merecerá o nosso património estar abandonado?

O Palácio da Dona Chica tem uma história longa e cheia de controvérsias, iniciando-se em 1915, (data da construção deste). Foi mandado construir por Francisca Peixoto de Sousa, que era natural de São Paulo (Brasil), após a morte de seu pai (1913), que lhe tinha deixado de herança uma fortuna considerável.
Francisca era uma mulher que gostava de luxos, de festas, de receber amigos em casa e sonhava viver numa habitação de tipo apalaçado, que lhe proporcionasse a vida que desejava.Com apenas 17 anos, esta casou-se com  o filho de um médico conceituado e de um influente político monárquico, casamento este de conveniência, que foi promovido pelos pais. Ele (João Rego) era portanto um homem rico e de conceituadas famílias, que também eram originárias do Brasil (por parte da mãe) e de Portugal (por parte do pai).
Após o seu casamento e morte do pai, esta mudou-se com João Rego para a residência dos Peixoto do Rego, em Portugal - Braga (de onde o seu pai e marido eram naturais), contudo Francisca não se sentia satisfeita e queria ter uma casa luxuosa, onde poderia receber os amigos e dar grandes festas.
Foi então que João Rego decidiu comprar um terreno com cerca de três hectares, em Palmeira (Braga) e iniciar a construção do agora “Palácio da Dona Chica”, projetado pelo arquiteto suíço Ernesto Korrodi.
Considerando que Ernesto Korrodi deu ao palácio caraterísticas ecléticas, sobre um estilo romântico e que foram plantadas nos campos da propriedade, por ordem de Francisca, árvores tropicais, vindas do Brasil, tal fez com que esta casa de tipo apalaçado ficasse ainda mais exuberante, ao estilo de Francisca Peixoto de Sousa. Porém, quatro anos depois do início da construção desta habitação, as obras pararam, devido ao divórcio de Francisca e João Rego.
Consta-se que tal aconteceu, sobretudo, pela personalidade de Francisca, que era uma mulher que gostava da sua liberdade, das festas e saídas com os amigos.
Em 1919, o “Palácio da Dona Chica” ficou então inacabado e abandonado, tendo em conta que depois do divórcio Francisca foi viver para o Porto e anos mais tarde voltou a casar, teve um filho e divorciou-se de novo.
Mesmo apesar desse desfecho, Francisca continuava a usufruir da sua vida luxuosa, onde fazia viagens por toda a Europa, comprava carros sumptuosos, contratava diversos motoristas, vestia roupas ousadas (numa altura em que a sociedade portuguesa era extremamente conservadora) e usava jóias caríssimas. Mais tarde, Francisca mudou-se para Paris, deixando assim o seu Palácio inacabado e abandonado, que outrora o seu maior sonho era vê-lo concluído e habitar nele.
Ao longo das décadas o palácio da Dona Chica foi mudando várias vezes de dono. Houve muitos projetos e obras, com o objetivo de concluir os trabalhos no interior do Palácio. Este, em 1985, foi classificado Imóvel de Interesse Público e, em 1990, foi adquirido pela Junta de Freguesia de Palmeira, por 95 mil euros.
No mesmo ano, a autarquia arrendou o palácio por contrato à IPALTUR, uma empresa de turismo, que adaptou o imóvel a uma discoteca, bar, restaurante, salas de reuniões e de congressos.
Em 1994, a empresa de turismo (IPALTUR) entrou em falência e cerca de 20 credores ficaram com dinheiro por receber. Somente em 2003 é que este processo acabou por ficar resolvido (deixando assim o Palácio da Dona Chica mais uma vez abandonado durante todos esses anos, até 2010).
Em 2010, este imóvel foi comprado por um empresário do ramo imobiliário, que tinha como objetivo restaurar o edifício e abrir ali um espaço para realizar casamentos, festas e jantares, contudo esse projeto idealizado pelo empresário nunca foi realizado. Desde então, este esteve no mercado e foi adquirido, em 2015, por José Veloso Azevedo, empresário de construção civil de Braga.
Depois do Palácio da D. Chica passar por tantos proprietários, desavenças, disputas judiciais e até mesmo por alterações arquitetónicas entrou num processo de completo abandono e degradação.
Atualmente, abandonado e degradado, o Castelo de D. Chica encontra-se à venda por 2.500 000 €, como se pode verificar no anúncio de venda publicado no site Idealista e no anúncio do site Custo Justo.
Pensemos agora no tão desejado e grandioso sonho de Francisca Peixoto de Sousa, que em momento algum julgaria nunca habitar no seu Palácio luxuoso, nem tão pouco imaginaria que décadas mais tarde este estaria em completo abandono, degradação, sem qualquer proprietário, sem qualquer função.
E nós? Que estudamos Património Cultural, cidadãos e conservadores do nosso Património (Cultural)  – material e imaterial -, o que pensamos acerca disto?! Não nos faz confusão?!
Merecerá o nosso Património estar abandonado e deixarmos que, desta forma, este entre em total degradação?!
Agora referindo-me apenas ao Património Material, assim como o “Palácio da Dona Chica”, poderemos pensar em tantos outros estabelecimentos/ edifícios que se encontram atualmente abandonados: palácios, estabelecimentos Industriais, estabelecimentos hoteleiros… e por aí fora, como o Palácio da Comenda, a Fábrica Confiança ou o Hotel Foz da Sertã.
E o que poderemos fazer então perante esta situação?! Deveremos continuar a “fechar os olhos”?! Certamente, o nosso Património merecerá uma maior atenção/preocupação da nossa parte.

Adriana Carolina Silva Cardoso


Bibliografia
COSTA, Lucília Verdelho da. Ernesto Korrodi 1889-1944: arquitectura, ensino e restauro do património. Lisboa, 1997.

Webgrafia
https://www.publico.pt/2012/07/15/jornal/igespar-vai-classificar-palacio-de-braga-que-a-princesa-diana-afinal-nunca-comprou-24903139

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Turismo em Portugal – onde estão as pessoas?

O turismo em Portugal tem-se tornado um fenómeno crescente nos últimos anos. Após 2016, pode-se verificar um “boom” do turismo, que não mostra mínimos sinais de estagnar, pelo menos nos próximos tempos.
Metrópoles como Lisboa e Porto são as principais afetadas pelos impactos desta atividade cada vez mais recorrente e em “massa”. Impactos esses positivos e também negativos, tudo consoante o prisma analisado. Álvaro Domingues, docente na faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, em entrevista ao Expresso ,defende que os turistas e os conhecidos por “city users” são aqueles que garantem a prosperidade da cidade. Já em Lisboa, conforme informação presente em artigo do correio da manhã, a câmara municipal criou proibições relativas à circulação de autocarros turísticos com mais de 9 lugares na Sé e no castelo de São Jorge para combater um dos aspetos negativos do turismo em massa, que é o congestionamento de trânsito para os residentes locais e o ruído resultante destas atividades.
Cada vez mais o desenvolvimento de áreas de atuação no âmbito da hotelaria, restauração, lazer, transportes, cultura e serviços é uma realidade da economia portuguesa, e um ponto forte com perspetivas de sucesso a médio e longo prazo. Este fenómeno recente, que os especialistas divergem se será positivo ou negativo para a realidade do país, suscita um novo problema: onde estão as pessoas?
O turismo é crescente e cada vez há mais dificuldade em encontrar e acoplar aos estabelecimentos mão-de-obra local apta para trabalhar nesta área. O que cria a situação desagradável em que há todos os demais recursos, no entanto não há força de trabalho para permitir esse crescimento cada vez mais proeminente. O próprio presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) demonstra esta preocupação em artigo publicado na plataforma digital Notícias ao Minuto, em que refere a baixa natalidade como um dos problemas e questiona “como podemos atrair mais jovens?”.
As razões para tal situação são as mais diversas, desde a emigração dos jovens em busca de novas oportunidades no exterior (principalmente em países da União Europeia), a baixa taxa de natalidade em Portugal, como ainda a falta de “conhecimento” de que investir na área do turismo, em termos académicos, possa ser promissor, em vista da nova realidade portuguesa.
Como possíveis soluções para esta problemática, seria interessante considerar o investimento em programas de formações e profissionalização dos jovens portugueses, de modo a que possam ingressar nesta área de trabalho. Outra solução possível seria investir em programas de intercâmbio para jovens estrangeiros que tivessem o interesse em trabalhar no turismo ou em áreas equivalentes, e promover projetos que incentivassem a inserção desta mesma mão-de-obra no mercado de trabalho local.
Quaisquer que sejam as medidas optadas para reparar esta situação, devem ser pensadas com cuidado e utilizadas de modo a que ainda seja possível aproveitar essa “onda turística” e evitar que os próprios turistas questionem: onde estão as pessoas?

Ana Beatriz Peixoto

Bibliografia:
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-03-02-Turismo-nas-cidades-problema-ou-oportunidade#gs.xbvieTo

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Semana Santa em Braga

A Semana Santa bracarense é a mais bela e imponente de todas as celebrações quaresmais em Portugal. Apesar de ser internacionalmente conhecida como “Semana Santa”, as suas celebrações não se restringem apenas a esta semana litúrgica mas aos 40 dias da Quaresma, que antecedem a Páscoa. Ainda que de origem religiosa, o seu impacto e importância atuais vão além do campo sagrado, tendo um papel indissociável no que respeita à economia e turismo da cidade. Em torno destas celebrações giram milhares de pessoas que, ao longo dos 40 dias, a Braga se deslocam e por lá dão o seu contributo para o desenvolvimento e sustento da economia local.
Dada a importância e visibilidade destas solenidades da cidade dos Arcebispos, todos os anos a comissão por elas responsável e todas as outras que lhe estão ligadas se preocupam em melhorar e levar mais longe o programa cultural deste tempo. Exemplo disso foi o novo andor da Cruz despida, mandado construir no passado ano de 2017, que, com o peso de uma tonelada e alguns milhares de euros, veio dar uma lufada de ar fresco no património religioso das procissões e cativar a atenção do público, pois não é todos os dias nem em qualquer lugar que se vê desfilar 1 tonelada pelas ruas, suportada apenas por 12 homens. Esta nova peça, além da sua necessidade para complementar a procissão do Enterro do Senhor (realizada na noite de Sexta-feira Santa), é um exemplo de arquitetura religiosa moderna, carregada de simbolismo e história, que se destacou nestes dois anos.
Também a vasta lista de concertos com coros, orquestras e solistas que tem lugar nos sítios mais emblemáticos da cidade são importante atração turística, já que se trazem obras das mais belas a nível sacro, assim como algumas não tão conhecidas dos espetadores, aumentando assim a adesão nestes concertos, pois muitos são os residentes e forasteiros que têm interesse e curiosidade em conhecer repertório menos comum.
Todos estes e outros eventos chamam à cidade milhares de turistas, que vêm enriquecer e desenvolver toda a economia local, e contribuir para um maior desenvolvimento do programa cultural, do turismo e das infraestruturas que lhe são necessárias, pois com a afluência de turistas a aumentar são necessários mais hotéis, unidades de restauração, postos informativos, lojas de artesanato e produtos regionais, de modo a satisfazer a crescente procura destes serviços. Braga continua e continuará cada vez mais a crescer turisticamente no que à Semana Santa diz respeito, e tanto os órgãos religiosos como autárquicos se empenham nestas celebrações, pois elas representam uma mais-valia para a cidade.

Artur Fernandes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Turismo de massas

O turismo é, para muitos países, uma importante fonte de rendimento, mas o excesso de turistas torna-se prejudicial em vários aspetos. Torna-se imperioso limitar o número de visitantes para que seja possível uma melhor preservação dos monumentos, e do meio ambiente, quando o turismo, neste último caso, se desenvolve em zonas balneares.
Apesar do turismo ser benéfico para a economia de um país, o mesmo não significa que os turistas o sejam, pois existem muitos casos de que os turistas transmitem desrespeito pelos costumes, pela cultura, e pela história dos países que visitam, para além de eventuais estragos nos monumentos. A poluição provocada pelos turistas é, também, um grande problema para muitas estâncias balneares, exemplo disso foi o que aconteceu na Tailândia: o encerramento de várias praias devido ao excesso de turistas e à poluição provocada por estes. Vários países europeus já identificaram um limite de visitantes para algumas das suas cidades, países esses como a Itália, Espanha, Grécia, Irlanda, pois o excesso de turistas está a causar estragos. Em Espanha decorreram ações de protesto em várias cidades por grupos de habitantes denunciando os efeitos do turismo em massa nas suas vidas quotidianas.
Locais famosos representados em filmes também foram sujeitos à aplicação de um limite no número de turistas, como é o caso de Machu Picchu, no Peru, e de Skelling Michael, na Irlanda, o local de filmagem da cena final de "Star Wars: O despertar da força". Estes lugares estão apenas abertos durante alguns meses do ano e a sua visita tem de ser marcada com bastante antecedência. E há locais, como os Galápagos, que foram considerados Património Mundial da UNESCO em vias de extinção em 2007, apresentam rigorosas limitações ao acesso ao turismo, medidas essas que foram criadas para ajudar a preservar a geografia e vida selvagem das ilhas.
Em Portugal, ainda não há casos de limitação de turistas devido ao seu excesso, mas há cada vez mais turistas a virem para cá, como sabemos. Portugal ganhou o prémio de melhor destino turístico pela World Travel Awards, por isso é de esperar um forte aumento do turismo, como se está a constatar. Além disso, Portugal é um destino turístico barato, comparando com Itália ou Grécia. Apesar de ainda não haver turismo em massa em Portugal, essa realidade é um cenário que poderá vir a acontecer.
  As cidades portuguesas que recebem mais turistas são Lisboa e Porto, o que não é de estranhar, mas Portugal tem um vasto leque patrimonial, como é o caso das aldeias de Xisto, as gravuras paleolíticas que se encontram no centro e sul do país, e muito deles estão em estado de degradação. O “desvio” ou “encaminhamento” dos turistas para outras zonas do país pode ajudar a que outro tipo de património seja mais reconhecido e preservado e que não seja vandalizado, como aconteceu no Parque Arqueológico do Vale do Côa.
O turismo é um setor económico muito importante para Portugal, como acontece em muitos outros países. Portugal também tem “maus” turistas, que não respeitam os residentes do país que visitam, como, por exemplo, os turistas que deixaram um rasto de poluição na Serra da Estrela. Muitos moradores da cidade de Lisboa queixam-se do barulho dos tuk-tuk, das filas de cruzeiros que causam poluição ambiental e queixam-se, também, da poluição sonora, da inflação dos preços, da falta de civismo dos turistas, entre outros. Se em Lisboa, uma cidade que recebe cerca de 4/5 milhões de turistas, os moradores queixam-se de todas estas nuances negativas, não queramos imaginar o que acontecerá em Barcelona, Veneza ou Santorini que, seguramente, recebem mais de 15 milhões de turistas por ano. Por estas razões, a limitação do número de turistas é explicável não só para o bem-estar dos seus residentes como também para o bem-estar da cidade no que toca à sua preservação patrimonial e redução da poluição. O turismo é económica, social e culturalmente importante, pois ajuda ao crescimento económico de um país, os habitantes do país conhecem pessoas de outros países, e ajuda a transmitir a cultura e a história do país para quem vem visitar.
O turismo de massas é prejudicial tanto para os residentes das cidades visitadas como para o país em termos de preservação dos espaços públicos e ambientais, mas será que é justo atribuir a culpa somente aos turistas? Ou poderão ser as empresas de turismo que, muitas vezes, visam mais o lucro rápido e fácil do que o dar a conhecer outros locais ao turista? Serão os meios de comunicação social os responsáveis pela divulgação constante dos mesmos pontos turísticos, não dando a conhecer outros? Dizer que se vai a Paris e não ir ao Louvre é quase anular a visita à capital francesa. Em contrapartida, haverá imensos sítios escondidos e não divulgados pela comunicação social que merecerão a visita de qualquer turista!

Isa Micaela Guimarães da Silva

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

FÁBRICA CONFIANÇA: a pérola industrial bracarense esquecida

É inegável que a Fábrica “Confiança” é indissociável da cidade de Braga e que constituiu um marco transformador da sociedade a nível económico-social durante os finais do século XIX e início do século XX. Ainda que as gerações bracarenses mais novas não tenham vivenciado o período auge de funcionamento desta fábrica ou até mesmo qualquer período de atividade no emblemático edifício que lhe deu notoriedade, já ouviram, com toda a certeza, falar sobre ela. É possível, ainda hoje, encontrar alguns sabonetes desta marca lá nos gavetões da avó ou até mesmo das mães.
Ainda que não tenha encerrado a sua atividade - assunto que abordarei mais à frente -, a “CONFIANÇA” que perdura na memória social da sociedade bracarense parece não se referir tão-somente à marca de sabonetes, mas sim a todo um universo que começava desde logo pelo emblemático edifício que lhe deu lugar. É, arrisco a dizer, quase inexistente a referência à “CONFIANÇA” somente pela marca; creio que, na maior parte das vezes, esta referência engloba, também, o edifício situado na rua Nova de Santa Cruz, em Braga. Estas duas dimensões estavam intimamente ligadas, dando a ilusão de que a marca não perduraria sem o edifício e vice-versa. Hoje em dia é, ainda, possível constatar que serve de ponto de referência geográfica à população circundante.
Será por isso de adivinhar que, aquando a passagem em frente ao edifício que lhe deu lugar, a nostalgia emirja. Infelizmente, este sentimento nostálgico de um tempo áureo rapidamente dá lugar a um sentimento tristonho, ao constatar o péssimo estado de conservação daquele edifício outrora colorido e cheiroso. Creio que, mais do que o estado em que se encontra, a verdadeira tristeza reside nos olhares cegos que lhe fazem.  
Torna-se imperioso reconstituir e valorizar aquilo que outrora foi um agente dinamizador de uma sociedade; não reconstituir o edifício apenas pela prática de conservação, mas sim atribuir-lhe a função de valorizar e preservar a memória social de uma comunidade. A marca “Confiança” desde cedo se tornou um fator identitário de Braga: era possível (como o é ainda hoje) constatar em cada rótulo de cada sabonete a referência à cidade dos arcebispos. Esta fábrica, para além de proporcionar todas as benesses que advém de uma industrialização para um povo tipicamente rural, elevou a cidade, levando Braga “às bocas do mundo”. A referência de outras cidades nos rótulos dos sabonetes da CONFIANÇA não era, portanto, possível, e este tão singelo elemento fez com que a cidade de Braga deixasse de ser referida apenas por aqueles que nela viviam. A marca Confiança foi destacada, durante o período da 1ª guerra mundial, como “o melhor que se produz em Portugal” no setor.
Aquando do início da sua atividade, em 1894, como é possível verificar na fachada principal do edifício, a marca “Confiança” era especializada no fabrico de sabão Offenbach (sabão branco e azul), mas rapidamente passou a incluir uma vasta variedade de cosméticos no seu portfólio. Este crescimento económico da fábrica fomenta cada vez mais uma relação de cunho identitário com a cidade de Braga. A dada altura, mais precisamente nas décadas de 50 e 60 do século XX, a fábrica produzia já para unidades hoteleiras, levando, deste modo, a que a cidade de Braga fosse cada vez mais referida.
Num passado ainda recente, mais concretamente no ano de 2009, a marca “Confiança” foi adquirida pela concorrente “Ach Brito”, e este facto fez com que o emblemático edifício fosse abandonado. Neste momento, a “Confiança”, como a população conhecia, deixara de existir na medida em que, e como já fora supramencionado, a “Confiança” não era apenas uma marca mas também o seu edifício.
Creio que se deverá a essa tão forte associação e agregação de dois elementos que, hoje, não se ouve falar da “Confiança” ainda que a mesma continue a produzir os seus sabonetes; certo é que é em menor escala, numas pequenas instalações em São Mamede D’Este, Braga.
O edifício e a região onde este se encontra continuam, ainda hoje, a serem referidos pelo nome da fábrica - prova de que, de facto, a “Confiança” era mais do que uma marca. O edifício encerra em si toda a memória social e coletiva de uma sociedade bracarense do século XVII e XVIII e é ele que suscita a urgência em preservar estas vivências tão aromáticas de outrora.  
Mas como nem tudo são rosas, nos últimos anos o edifício da “Confiança” tem sido alvo de grande polémica na medida em que os anos parecem passar e com eles levar todas as possibilidades de se realizar qualquer intervenção neste exemplo de património industrial.
Fora conhecido e aberto publicamente um concurso de ideias para a atribuição de uma função ao edifício. Na fase final deste concurso, foi conhecida também a vontade de construir um núcleo museológico que desse voz à memória industrial da fábrica, assim como outras valências que o amplo edifício poderia acolher. 
Entretanto, o cenário continua intocável; as janelas continuam partidas, chamando a atenção dos transeuntes para o seu interior, levando-os a imaginar um tempo auspicioso em que as paredes respiravam um ar perfumado e que, hoje, apenas continuam de pé aguardando a sua salvaguarda.

Joana Virgínia Lopes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018

domingo, abril 22, 2018

O velho Parque de Exposições de Braga renasce como ´Forum Braga`: um espelho daquilo que foi a Era Romana

O tema que servirá de abordagem para este artigo, será o magnânimo parque de exposições de Braga. O local onde este parque se localiza é deveras excelente devido a sua localização, à quantidade existente de empresas bem-sucedida, assim como à qualidade de vida que apresenta. A cidade de Braga possuiu um conjunto de acessibilidades excelentes e foi uma das cidades que mais cresceu nos últimos 20 anos. O parque de exposições é um espaço e um instrumento na minha opinião fundamental, e parte constituinte deste conjunto de qualidades e acessibilidades que Braga oferece aos seus residentes assim como aos seus visitantes.
Ante de mais é preciso conhecer um pouco do que é o parque de exposições? Como é a sua história? A sua evolução? Antes de mais, o parque de exposições de Braga, que até hoje o conhecemos por esse nome, a partir do dia 28 de abril teremos a sua “reabertura” passando a ser designado por Forum Braga. É um espaço direcionado para a realização de feiras, congressos, exposições e outros tipos de organizações de caráter sociocultural, científico, desportivo e recreativo. Este espaço foi criado no ano de 1981, fruto do crescimento e desenvolvimento regular de feiras e de exposições, que remontam ao ano e de 1968 - data esta que diz respeito à Primeira Exposição Agrícola e Industrial do Norte. Foi a falta de um recinto ou de um espaço permanente para realização de feiras e exposições que levou o povo bracarense a elaborar um espaço que lhes desse resposta à necessidade.
No ano de 1977, a câmara municipal de Braga vai reconhecer a necessidade e a importância de um espaço próprio para a realização das atividades acima referidas e para isso vai começar a obter um conjunto de terrenos para a construção do recinto. Esta tomada de atitude por parte da câmara municipal de Braga lançou as bases definidas e necessárias daquilo a que hoje conhecemos como o Parque de Exposições de Braga.
No ano em que foi criado, o parque de exposições ingressou na União de Feiras Internacionais (UFI), onde adquiriu o estatuto de feira internacional, ficando com a designação de Agro. Temos a aderência à EURASCO (Comité Europeu de Sociedades Agrícolas e Organizadores de Feiras) no ano de 1984, que elevou o parque de exposições a um outro patamar, tornando-se no organizador-membro de duas importantes organizações internacionais de feiras, fortalecendo a sua posição como um dos principais centros nacionais de exposições e adquirindo um reconhecimento internacional.
No entanto, o percurso do parque de exposições não termina por aqui e a vontade de ter os recursos necessários e elementos cada vez mais favoráveis que elevem a sua importância conduzem a que no ano de 1987 o parque aumente e faça um enriquecimento do seu património através da inauguração do palácio de exposições (com uma área para as exposições a rondar os 6.500m2). No ano de 1990, termina-se (assim se pensava) o período de construções com a inauguração do centro de congressos, constituído por uma sala de imprensa, diversas salas de apoio e um grande auditório. No entanto, a fase de construções estagnou por uns tempos, mas na realidade, hoje, em pleno 2018, temos um novo espaço, que se inaugura a 28 de abril, deixando de existir o velho e conhecido parque de exposições de Braga, passando a ser designado de Forum Braga.
Contudo, não só o seu nome vai mudar, pois, como afirma Carlos Oliveira (presidente da investBraga), o antigo parque vai dar lugar a um espaço mais moderno e vai dar ensejo a Braga como destino de referência do país e da Galiza para o turismo de negócios, a realização de congressos, espetáculos e feiras. Estamos a falar num investimento de 8 milhões de euros. O fórum vai ser detentor de um centro de congressos (em que o auditório tem a capacidade de 1454 lugares), um pavilhão apto para 12 mil pessoas em pé, uma zona de exteriores pra concertos e uma galeria de arte, ambos, com um espaço para 20 mil pessoas, e, por fim, uma área de exposições, que consegue abarcar cerca de 300 stands.
Em suma, estamos a falar de um espaço que oferece um conjunto de acessibilidades e necessidades que em muito beneficiam a cidade de Braga, e acho que esta deve em muito apoiar, renovar e investir na sua evolução.

Bruna Filipa Fernandes Pereira

Bibliografia:
Investbraga. Parque de exposições de Braga,http://www.investbraga.com/peb/.
Paulo, Isabel. «Parque de exposições de Braga renasce como megaforum romano», Expresso, 20 de fevereiro, 2018.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)