A paisagem
do interior do país assume-se como um ponto estrutural da personalidade da
nação portuguesa. Através desta, chegam-nos perceções resultantes da ligação da
sociedade herdada e da que se aproxima. É difícil imaginar aldeias sem pessoas,
em que a sua história morreu juntamente com os que partiram. No entanto, é uma
realidade predestinada às áreas rurais em que perduram as baixas densidades
populacionais. Atualmente, em Portugal Continental , cerca de 50% do território
português pertence a áreas rurais (Baptista, 2006, citado por Figueiredo,
2011). Nestes locais, a personalidade do lugar reúne múltiplas identidades e
histórias, descritas na geografia da malha habitacional. A casa rural descrita
por Orlando Ribeiro (1989), imponente, distinta, lar de família e ao mesmo
tempo utensílio de exploração agrícola, deixa de o ser, ou se o é, apenas o é
na imagem recriada e reconstruída aquando da reconversão para locais de abrigo
turístico.
O mundo rural “já não é rural, nem
mundo” (Portela, 2003, citado por Figueiredo, 2011). A ruralidade vai cada vez
mais distante. Já não predomina a agricultura individual. A que prevalece é
praticada em
latifúndios. As vocações do mundo rural foram-se alterando ou
readaptando à necessidade de atração e de captação de dinheiro e pessoas, transformando
aldeias ou vilas de produção agrícola em lugares de consumo de atividades de
turismo, recreio e reprodução de alimentos típicos e tradicionais.
A tentativa da dinamização do turismo é
crescente em espaços rurais, no entanto esta continua a não atrair número
significativo de turistas de modo a garantir o sustento a longo prazo. O
turista procura constantemente novas experiências, novas vivências. Esta
instabilidade da procura é imutável, o que requer por parte das empresas que
emitem a oferta um dinamismo e uma constante atualização do produto que
oferecem.
Segundo Carminda Cavaco (2005), o “ (…) modelo do ciclo
de vida dos lugares turísticos (fases de descoberta, desenvolvimento,
consolidação, estagnação, declínio) (…)” (p. 423) é inevitável. Em parte poderá
dizer-se que esta fatalidade é inevitável para todos aqueles que não conseguem
acompanhar e evolução do mercado. O turista atualmente é exigente, procura nos
espaços rurais todo o conforto que tem no mundo urbano, mas ao mesmo tempo um “mundo
que seja puro, higiénico, inodoro, saudável, pós-moderno e, ao mesmo tempo,
autêntico, genuíno, verdadeiro, tradicional e típico” (Figueiredo, 2011). A
conciliação destas características nem sempre é um trabalho fácil, e as
empresas ou entidades públicas que se dedicam à captação da atração muitas
vezes fazem-no sozinhas.
No meu ponto de
vista, não pode existir evolução do espaço rural sem existir toda uma rede de
interligação entre a comunidade e os empreendimentos construídos, ou até mesmo
uma estrutura bem montada de ofertas turísticas ligadas entre si. A partir do
momento que uma aldeia, vila ou até mesmo cidade apresenta interesse em ser um
destino turístico, potencializando os seus atributos, não pode apenas apontar
no seu projeto o alvo da visita. Têm de ser tidas em conta as infraestruturas
que apoiaram a atração turística.
O sucesso de um projeto turístico –
numa escala, local, regional ou nacional – tem de ter em conta que o turismo
funciona como uma empresa compartilhada por vários subsectores. Cada um dos
subsectores desenvolve uma vertente do turismo, estrutura e consolida roteiros
e destinos, cria projetos de interesse temático – podendo dar origem a nichos
do mercado. Após a estruturação da identidade dos locais, a etapa seguinte é
lançar uma marca e com a ajuda do marketing atrai o turista e contribui para o
estímulo competitivo de crescimento de todos os subsectores. Todo este
encadeamento tem sempre de ter em conta a ligação com o autóctone, com as festas,
as atividades tradicionais, nunca esquecendo o caráter produtivo das áreas
rurais, evitando a situação de representação do espaço rural como sendo um
cenário ou uma paisagem.
Nunca devemos esquecer que “não existe um só tipo de procura, um só tipo de
consumo nem um só tipo de representação sobre as áreas rurais” (Larrére, 1990,
citado por Figueiredo, 2003), existem sim, várias formas de progresso, devendo
sempre existir o estímulo por parte do estado para a dinamização da agricultura
de forma a tornar tal como no passado um modo de sustento das famílias. O
turismo deve ser visto como um meio e não uma via de alcançar a sustentabilidade
das áreas rurais.
Sara Catarina Silva
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