A preocupação de valorizar,
preservar e revitalizar o património das regiões (embora hoje bastante
recorrente nas agendas políticas dos municípios), talvez no passado não fosse
(sempre) parte integrante dos temas que abordam a competitividade e capacidade
de atração das regiões, cidades e lugares. No entanto, apesar da preservação do
património hoje ser tido como um dos fatores determinantes para o
desenvolvimento económico e social, nomeadamente pela via da promoção do
turismo, existe uma percentagem alta de edificado patrimonial que se encontra devoluto.
Um dos exemplos mais claros desse abandono, pode ser denominado por desindustrialização.
A região do Vale do Ave foi
claramente ao longo das décadas afetada pela ‘desindustrialização’; por uma ‘desindustrialização
territorial’ e consequentemente social, que se reflete no número de
desempregados e também por uma ‘desindustrialização’ que deixou vários
testemunhos na paisagem atual dos territórios que dela fazem parte. Para muitos
de nós, esta é uma história e uma herança que pode parecer longínqua e a sua
importância desvalorizada, mas de facto desde meados do século XIX que este
território assumia uma importância singular para o património industrial, tal
como as atividades nele exercidas (ressalte-se a importância acrescida da
indústria transformadora e têxtil).
A questão central deste artigo
vai de encontro aos testemunhos industriais, de diversas tipologias e escalas,
que se encontram atualmente obsoletos e em crescente estado de degradação, que
consequentemente deterioram a qualidade urbana, social e ambiental do tecido
onde se inserem, e sobretudo evidenciar a forma como alguns projetos,
autarquias e iniciativas têm visto a desindustrialização como uma oportunidade
de reconverter esses edifícios e espaços industriais, num processo de
dinamização económica e cultural.
Nesse sentido, a par da
tendência de preservação do património que tem vindo a adquirir cada vez mais
importância no que diz respeito ao desenvolvimento de determinados lugares e
territórios, surgem a Arte e a Cultura enquanto motores de competitividade. Por
isso, uma cidade e uma região, assumem-se hoje atrativas sobretudo para o
investimento económico, quando o património é valorizado e as mesmas se revelam
na produção artística e cultural.
Este património industrial, pode
ser visto, visitado ou apercebido pelas suas variadas características, nomeadamente
pela designada Rota do Património do Vale do Ave (RPI) que compreende os
seguintes municípios: Cabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto,
Póvoa de Lanhoso, Trofa, Santo Tirso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e
Vizela. Nesse contexto, sublinhe-se o papel importante da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave,
S.A. (ADRAVE), que tem como objeto social a promoção da modernização de
base económica, social e cultural do Vale do Ave, através da elaboração de
estudos e do desenvolvimento de projetos e que simultaneamente tem um papel
fulcral no dinamismo e incentivo de novas atividades na região.
No entanto, os esforços
realizados nem sempre têm conseguido competir com outro tipo de produtos
turísticos, o que se evidencia pela desarticulação entre os vários pontos da
rota, informação insuficiente e estado avançado de degradação de alguns dos
edifícios, entre outros. Então constata-se necessidade de outro tipo de
incentivos ou programas estratégicos. A título de exemplo, o evento e programa
Guimarães – Capital Europeia da Cultura 2012 (CEC 2012) tem revelado a par e
passo que espaços testemunhos de um passado podem, em conjunto e tendo em vista
a sua reconversão, ser uma plataforma para o desenvolvimento da região, que
consequentemente pode resultar num novo modelo de desenvolvimento económico e
social.
Este tipo de reconversões e (re)aproveitamento
do espaço é fruto da colaboração entre a ADRAVE, as respetivas autarquias, o
Museu da Indústria Têxtil, entre outros, mas também ao abrigo do
desenvolvimento da CEC (2012). São alguns os exemplos de projetos levados a
cabo neste sentido, tais como: a reconversão da fábrica de lençóis ASA num
espaço que transparece um moderno projeto comercial e empresarial para empresas
e indústrias criativas; o surgimento do Centro para os Assuntos da Arte e da
Arquitetura (CAA), igualmente numa antiga fábrica têxtil; e, ainda, o Instituto
de Design, que ocupa hoje o espaço da
antiga fábrica da Ramada.
Dessa forma, todos os projetos
deste cariz que se têm desenvolvido e ainda se encontram em desenvolvimento em
Guimarães podem ser um exemplo favorável de algo que já se faz pela Europa e
ainda muito pouco em Portugal: aproveitar um legado patrimonial industrial de
forma a construir novas vertentes de desenvolvimento regional.
Maria
Alexandra Ferreira Simões
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
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