quarta-feira, abril 11, 2012

Valorização do Património Industrial do Vale do Ave: reconversão de espaços industriais

A preocupação de valorizar, preservar e revitalizar o património das regiões (embora hoje bastante recorrente nas agendas políticas dos municípios), talvez no passado não fosse (sempre) parte integrante dos temas que abordam a competitividade e capacidade de atração das regiões, cidades e lugares. No entanto, apesar da preservação do património hoje ser tido como um dos fatores determinantes para o desenvolvimento económico e social, nomeadamente pela via da promoção do turismo, existe uma percentagem alta de edificado patrimonial que se encontra devoluto. Um dos exemplos mais claros desse abandono, pode ser denominado por desindustrialização.
A região do Vale do Ave foi claramente ao longo das décadas afetada pela ‘desindustrialização’; por uma ‘desindustrialização territorial’ e consequentemente social, que se reflete no número de desempregados e também por uma ‘desindustrialização’ que deixou vários testemunhos na paisagem atual dos territórios que dela fazem parte. Para muitos de nós, esta é uma história e uma herança que pode parecer longínqua e a sua importância desvalorizada, mas de facto desde meados do século XIX que este território assumia uma importância singular para o património industrial, tal como as atividades nele exercidas (ressalte-se a importância acrescida da indústria transformadora e têxtil).
A questão central deste artigo vai de encontro aos testemunhos industriais, de diversas tipologias e escalas, que se encontram atualmente obsoletos e em crescente estado de degradação, que consequentemente deterioram a qualidade urbana, social e ambiental do tecido onde se inserem, e sobretudo evidenciar a forma como alguns projetos, autarquias e iniciativas têm visto a desindustrialização como uma oportunidade de reconverter esses edifícios e espaços industriais, num processo de dinamização económica e cultural.
Nesse sentido, a par da tendência de preservação do património que tem vindo a adquirir cada vez mais importância no que diz respeito ao desenvolvimento de determinados lugares e territórios, surgem a Arte e a Cultura enquanto motores de competitividade. Por isso, uma cidade e uma região, assumem-se hoje atrativas sobretudo para o investimento económico, quando o património é valorizado e as mesmas se revelam na produção artística e cultural.
Este património industrial, pode ser visto, visitado ou apercebido pelas suas variadas características, nomeadamente pela designada Rota do Património do Vale do Ave (RPI) que compreende os seguintes municípios: Cabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto, Póvoa de Lanhoso, Trofa, Santo Tirso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e Vizela. Nesse contexto, sublinhe-se o papel importante da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave, S.A. (ADRAVE), que tem como objeto social a promoção da modernização de base económica, social e cultural do Vale do Ave, através da elaboração de estudos e do desenvolvimento de projetos e que simultaneamente tem um papel fulcral no dinamismo e incentivo de novas atividades na região.
No entanto, os esforços realizados nem sempre têm conseguido competir com outro tipo de produtos turísticos, o que se evidencia pela desarticulação entre os vários pontos da rota, informação insuficiente e estado avançado de degradação de alguns dos edifícios, entre outros. Então constata-se necessidade de outro tipo de incentivos ou programas estratégicos. A título de exemplo, o evento e programa Guimarães – Capital Europeia da Cultura 2012 (CEC 2012) tem revelado a par e passo que espaços testemunhos de um passado podem, em conjunto e tendo em vista a sua reconversão, ser uma plataforma para o desenvolvimento da região, que consequentemente pode resultar num novo modelo de desenvolvimento económico e social.
Este tipo de reconversões e (re)aproveitamento do espaço é fruto da colaboração entre a ADRAVE, as respetivas autarquias, o Museu da Indústria Têxtil, entre outros, mas também ao abrigo do desenvolvimento da CEC (2012). São alguns os exemplos de projetos levados a cabo neste sentido, tais como: a reconversão da fábrica de lençóis ASA num espaço que transparece um moderno projeto comercial e empresarial para empresas e indústrias criativas; o surgimento do Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitetura (CAA), igualmente numa antiga fábrica têxtil; e, ainda, o Instituto de Design, que ocupa hoje o espaço da antiga fábrica da Ramada. 
Dessa forma, todos os projetos deste cariz que se têm desenvolvido e ainda se encontram em desenvolvimento em Guimarães podem ser um exemplo favorável de algo que já se faz pela Europa e ainda muito pouco em Portugal: aproveitar um legado patrimonial industrial de forma a construir novas vertentes de desenvolvimento regional. 
  
Maria Alexandra Ferreira Simões


(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho) 

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