terça-feira, abril 03, 2012

Portugal e a coesão territorial

Portugal para além de ser um país pequeno, localizado na ‘periferia da europa’, possui uma vasta riqueza cultural, histórica, geográfica e social, embora não sejam só coisas boas que emergem. A grande disparidade entre interior e litoral é neste momento preocupante.
Tem-se assistido ao abandono generalizado do interior do país, o que actualmente se reflecte em marcas praticamente irreversíveis. Em muitas aldeias a população activa abandonou essas regiões interiores, muitas vezes por falta de trabalho, outras vezes porque tal tornou-se numa oportunidade de melhorar a sua qualidade de vida. Isto fez com que hoje em dia se assista a taxas de natalidade quase inexistentes. Este abandono generalizado também é sentido no território: os campos agrícolas transformam-se em matas que vão evoluindo e ocupando o espaço.
É certo que os municípios do interior ultimamente demonstraram um grande esforço de dinamização desta região, com o principal objectivo de fixar a população, muitas vezes apoiados pelo investimento público, na implementação de infra-estruturas viárias, em incentivos fiscais, etc. No entanto, verificamos que a estratégia não resultou.
Os resultados dos censos 2011 demonstraram que dos 308 Municípios portugueses, 199 perderem população nos últimos dez anos, mas, para além disso, temos 37 Municípios com menos de 5000 habitantes. As estimativas para a população portuguesa não apontam para grandes mudanças demográficas: em 2015, estima-se que 70% da população se localize nas grandes Áreas Metropolitanas: Lisboa e Porto. Nesta estimativa também se localizam as cidades médias com o indicador que não excederão os 200.000 habitantes.
 As cidades médias devem ser parte integrante e fundamental do sucesso da coesão territorial. A sua dimensão é decisiva, na medida em que as necessidades dos seus habitantes devem ser correspondidas, tais como a garantia de serviços gerais, equipamentos, infra-estruturas, entre outros, que garantem a fixação da população. Essas cidades devem estar em condições de promover uma boa dinamização económica, mas também necessitam de oferecer uma boa forma de promover um desenvolvimento mais sustentado do território nacional.
No Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), está definida como orientação estratégica garantir a equidade territorial no provimento de infra-estruturas de equipamentos colectivos, generalizando o acesso aos serviços, promovendo assim a coesão social. No entanto o acesso aos serviços por parte das populações do interior (maioritariamente) tem sido cada vez mais restrito. Nos últimos anos assistimos ao encerramento de vários serviços em todo o país, mas de uma forma mais marcada no interior do país.
Este género de decisão política não vai de encontro ao que foi aprovado no PNPOT, referido anteriormente, mas traz consequências para as populações que se vêem obrigadas a percorrer vários quilómetros para receberem uma resposta às suas necessidades. As auto-estradas, funcionando no território como uma infra-estrutura, na minha opinião não deveriam ser interpretadas como resolução do problema.  
Com falta de recursos humanos, empresas e instituições, o interior do país fica bastante condicionado no que concerne ao desenvolvimento social e económico, sendo que a aposta no desenvolvimento das cidades médias sustentadas, em territórios mais deprimidos, seria fundamental numa tentativa de melhorar a coesão social.

Alice Prata

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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