Este é um tema que
surgiu em conversa com os meus amigos no Fafe World Rally Sprint, uma semana
antes do início do Vodafone Rally de Portugal. Será que o Rally tem impacto na
economia e no desenvolvimento regional?
O impulso final
para escrever sobre este assunto foram as declarações na televisão do
Presidente do ACP, Carlos Barbosa, que manifesta um grande interesse em que o
Rally de Portugal retorne ao Norte, mas que no próximo ano era manifestamente
difícil devido à ‘falta de tempo’. Carlos Barbosa realça o facto de que desde
2007, e de uma consistente, o Vodafone Rally de Portugal é o acontecimento
desportivo com maior retorno económico desde o Euro 2004. Mesmo tendo diminuído
o orçamento para 3,5 milhões de euros, a expectativa é de que a prova tenha um
retorno de 95 milhões de euros em 2012.
No âmbito do
Protocolo Especifico de Cooperação entre o ACP e o Centro Internacional de
Investigação em Território e Turismo da Universidade do Algarve, foi realizado
em 2010 um estudo, que contou com a coordenação de Fernando Perna, com base numa
amostra de 908 pessoas, sendo 228 residentes do Algarve e Baixo Alentejo e 680
não residentes no Algarve e Baixo Alentejo. Nos 3 dias de trabalho de campo, as
entrevistas foram feitas em seis zonas de espetáculo, Santa Clara, Silves,
Almodôver, São Brás de Alportel, Loulé e Estádio do Algarve. Retirei desse
estudo os dados que, na minha perspetiva, eram relevantes para as minhas
questões. Dos adeptos não residentes no Algarve e Baixo Alentejo, 53,65% eram
portugueses, sendo 35,5% do Norte, 31,1% do Centro, 23% de Lisboa e 6,75% do
Alentejo. O segundo grupo com maior número de aficionados era espanhol, com
34,6%, sendo 37,7% da Andaluzia, 18% da Galícia, 9,2% da Estremadura e 6,6% da
Catalunha. O terceiro grupo mais significativo era o dos Ingleses, com 3,3%.
Os impactos
económicos diretos estimados neste estudo relativos à despesa total associada
ao Rally de Portugal 2010, no Algarve e Baixo Alentejo, foram, no caso dos
residentes, de 1.318.403 euros, e dos não residentes, de 45.505.705 euros. Os
gastos das equipas intervenientes foram 1.819.795 euros, o Road Show no Porto (gastos dos espectadores) situaram-se em 1.523.250,
num total de 50.167.153 euros. Valor equivalente em
publicidade proveniente das transmissões da comunicação social, Imprensa e TV
nacional, 7.864.115 euros, TV internacional 27.167.804 euros, num total de
35.031.919.
No meu ponto de vista, talvez exista um enviusamento na amostra, nela só
estão representados cerca de 25% dos residentes, o que acho muito improvável. Se o Rally se
desenrolasse no Norte, a percentagem de residentes a assistir seria muito superior.
São considerados residentes aqueles que fazem uma viagem de uma a duas horas e
voltam para casa e saem no dia seguinte para mais uma etapa ou vão de mota e
saltam de classificativa para classificativa mal passam as equipas mais
importantes e ainda outros que dormem em tendas, sacos cama, ao relento e
dentro do carro, enquanto aguardam pela passagem dos concorrentes. Neste grupo
também estão inseridos muitos espanhóis, porque só andado de ‘casa às costas’ é
que se consegue acompanhar o rali o mais possível, sendo o principal gasto com
o combustível a alimentação e bebidas, que muitas vezes vêm de casa ou são compradas
num supermercado.
Embora não tenha
acesso à ficha técnica deste estudo, é possível que exista um enviesamento da
amostra, provocado por um elevado número de entrevistas feitas no Estádio do
Algarve, que alteraria por completo o peso das despesas em cada item, como
alimentação e bebidas, alojamento, transportes, Merchandising, animação e
compras.
O valor ‘médio’
apontado no estudo, para os não residentes, é de cem euros por dia, que acho exagerado.
Assim como os valores estimados como ganhos de publicidade devido às
transmissões da televisão e imprensa nacional e estrangeira, embora o retorno
publicitário para os principais patrocinadores como a Vodafone esta sempre
assegurado.
No meu ponto de
vista, o Rally tem um baixo impacto na economia local, embora exista um elevado
número de assistentes. Deveria ser feito um estudo junto dos hoteleiros para
fazer uma estimativa mais aproximada do número de camas ocupadas relacionadas
com o Rally. O retorno em termos turísticos a longo prazo é algo que não se
sentiu nos locais anteriormente usados no Norte e Centro de Portugal nas provas
do Rally de Portugal. A publicidade proveniente do visionamento na televisão em
Portugal e no estrangeiro, associada a paisagem característica destes locais, a
sua gastronomia, o seu artesanato e outras potencialidades endógenas, seria uma
forma de desenvolver a economia da região em que se desenrola o Rally. Não nos
devemos centrar apenas na prova e no aspeto desportivo desta, porque só tem uma
duração de três dias, mas sim nas potencialidades do território em que esta se
desenrola.
Paulo Azevedo
Bibliografia (Sítios):
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