É do conhecimento geral que a
crise financeira iniciada no ano de 2008 fomenta muitas opiniões e debates bem
como está na origem de muitos documentos escritos sobre essa matéria por muitos
autores, alguns publicados, em que, na generalidade, podemos destacar no seu
discurso quatro pontos fundamentais: em primeiro,
o consenso de que esta crise foi gerada pelo sector imobiliário, devido ao
inflacionamento excessivo do preço dos imoveis; segundo, que este aumento dos preços levou a uma procura de
investimento pelas famílias mais jovens, pela via hipotecária; terceiro, a constante “financeirização do imobiliário” veio
diminuir em alguns países o importante mecanismo de planeamento e ordenamento
do território e as políticas urbanistas; quarto,
a rutura do financiamento hipotecário levou a uma destruição da estrutura
económica dos países em que o sector imobiliário e da construção representam elevadas
percentagens do produto interno bruto (PIB).
Este
paradigma de crise imobiliária veio gerar muitas preocupações na economia e nas
questões de planeamento e ordenamento do território, pois é uma questão
sensível e que flutua nos ciclos económicos e imobiliários, e também está muito
ligada com o valor dos solos e a ocupação destes, uma vez que no passado existiu
uma politica dos solos virada para o sector privado e os seus proprietários,
sendo a parte estatal muito prejudicada e sem opinião. Esta visão está a mudar
e, hoje em dia, já se conhecem novas leis e politicas que mudam esta antiga
onda de pensamento e que visam uma melhor redistribuição de mais-valias e um melhor equacionamento
dos valores dos solos e o seu uso, bem como a perequação usada nos instrumentos
de gestão territorial.
Estes
assuntos revelam-se de extrema importância se repararmos e analisarmos os dados
que revelam que nos anos 90 o valor dos créditos hipotecários para a economia
portuguesa seria de cerca de 5 milhões de euros e que em 2008 passaram para 140
milhões de euros, isto é, tivémos um aumento da ordem dos 2.000%.
A
escalada dos preços do imobiliário não pode ser explicada por um aumento dos
custos de construção, pois estes mantiveram-se estáveis. Encontra-se a explicação
nos custos do solo, que inflacionaram estes preços de forma drástica.
É
sem duvida do conhecimento que grande parte do motivo do crescimento da divida
que afeta a economia portuguesa teve origem no crédito hipotecário, e pode-se
dizer que o mercado imobiliário serviu de canal de transporte de capitais
financeiros da economia produtiva para agentes não-produtivos dedicados à
especulação dos valores do solo e suas benfeitorias edificadas.
Portugal
enfrenta hoje uma era em que vários ciclos se invertem. Inverte-se o ciclo
financeiro, com o contrair do crédito hipotecário, depois de duas décadas de
expansão. Por ligação, inverte-se também o ciclo imobiliário e também o ciclo
da construção, que era outrora o motor da economia e nos dias de hoje
prepara-se para ser substituído por outro sector.
Este paradigma conduz a novos desafios para o planeamento urbanístico e para o ordenamento do território. É importante também conduzir estes processos e esta política o mais corretamente possível, e recorrendo aos mecanismos técnicos, tendo também sempre presente a economia e as políticas urbanísticas.
Este paradigma conduz a novos desafios para o planeamento urbanístico e para o ordenamento do território. É importante também conduzir estes processos e esta política o mais corretamente possível, e recorrendo aos mecanismos técnicos, tendo também sempre presente a economia e as políticas urbanísticas.
A
conceção da nova Lei dos Solos vem tentar dar solução e incrementar novas
técnicas e politicas que visam, com base em documentos e medidas anteriormente
propostas pelo CNADS, datado de 2009, e pelas medidas preconizadas pelo
Programa Nacional de Politica de Ordenamento do Território (PNPOT), bem como em
todo o conhecimento adquirido pelos anteriores pensamentos e experiências
realizadas e resultados obtidos, uma melhor gestão, um melhor equilíbrio na
distribuição e ocupação dos solos e também um desenvolvimento mais compacto e
policêntrico, uma participação mais visível da comunidade nas políticas de
solos e nas mais-valias geradas pelo
planeamento urbanístico da administração pública; e, ainda, clarificar o
conceito de menos-valia urbanística,
adequar os Instrumentos de Gestão Territorial ao contexto do mercado
imobiliário, reforçando a sua transparência, sendo estes pontos importantes que
a nova lei dos solos possa ajudar e contribuir para uma melhor Politica de Solos.
É
sem dúvida importante darmos mais importância a estas matérias muito sensíveis
e de grande impacte social e económico, que podem dar origem a grandes mudanças
na estrutura económica e produtiva de um país ou de uma sociedade.
Bruno Araújo
Bibliografia
AMARAL, P. (2011) – Análise das relações da política de solos
com o sistema económico, Documento técnico, DGOTDU, 5/2011.
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