O
urbanismo português caracteriza-se, ao longo dos tempos, essencialmente por
duas vertentes, a vertente vernácula e a vertente erudita. A vertente vernácula
possuiu como característica fundamental a ligação com o território, que passa
pela escolha de localizações com características específicas. A vertente
erudita passa pela utilização de um sistema ortogonal (características de
regularidade).
O
actual processo de urbanização, ocorrido por acção antrópica, substituindo o
ecossistema natural por estruturas urbanas tem como resultado impactes
ambientais a vários níveis, principalmente no que concerne ao clima urbano e
consequentemente o desconforto térmico e podendo mesmo causar problemas a nível
da saúde.
Estudos
efectuados por diversos autores (Oke e
Hannell, 1970; Mendonça, 1994; Monteiro 1997; Pitton, 1997; Viana e Amorim, 2008; Amorim, 2005 e 2010; Lima, 2011) demonstram que o fenómeno das ilhas de calor
(fenómeno climático do aumento da temperatura que ocorre em centros urbanos,
devido à elevada capacidade de absorção das superfícies urbanas) não ocorre
apenas nas grandes metrópoles, mas também nas cidades de pequenas e médias
dimensões.
Esta situação deve-se à falta de planeamento dos
locais que são alterados, que originam diversos problemas, como, por exemplo, a
falta de vegetação ao longo do edificado que prejudica o albedo (quanto
maior a vegetação, maior é o poder reflector), logo existe uma maior absorção
de calor. A construção de estradas, bem como o desvio de águas por bueiros e
galerias e muitas das vezes construções em
locais inapropriados, não tendo em conta os cuidados mínimos quanto ao relevo,
ao declive e aos locais de nascentes de água, são outros dos muitos problemas.
Tal como Amorim (2000) defende, a falta de vegetação nas áreas verdes e nos
locais destinados ao lazer também interfere negativamente na qualidade de
ambiental dos espaços urbanos. Surge ainda a utilização de materiais na
construção, que são inadequados para a região.
Para o combate ao calor que advém do exterior são
utilizados refrigeradores, ar-condicionado, entre outros, o que leva a um
aumento do consumo de energia, logo a problemática ambiental é inseparável da
problemática económica e social.
Alguns locais existentes nas cidades são extremamente
inadequados no que concerne ao conforto térmico e torna-se fundamental tomar
medidas para que estas situações de temperaturas elevadas sejam amenizadas.
Para melhorar o ambiente térmico urbano estas medidas
poderiam passar, por exemplo, por:
- aumento de áreas verdes nas cidades, com a plantação
de árvores;
- incremento de corredores verdes;
- utilização de materiais de construção adequados;
- o incentivo a utilização de transportes públicos, o
que levaria a uma diminuição da emissão de poluentes;
- Ter em conta a construção em altura, pois quanto
mais elevados os edifícios e mais próximos, maior é barreira para a circulação
do vento.
O processo de urbanização tem um papel fundamental
para a explicação do aumento da temperatura verificado nas cidades, pois a
produção do clima urbano é o resultado da radiação recebida e da radiação
reflectida pelos locais construídos. Torna-se fulcral pensar e repensar o
planeamento das nossas cidades. O urbanismo bioclimático surge como uma
resposta a esta necessidade de mudança.
Cláudia Teles
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