Num momento em que a
agricultura portuguesa perdeu, e continua a perder importância como actividade
económica nas áreas rurais, é imprescindível compreender que é possível
transforma-la na principal actividade económica fomentadora/impulsionadora do
desenvolvimento desses espaços. No entanto, importa encara-la como uma
actividade económica com interesse, contrariamente ao que tem acontecido nas
últimas décadas.
Face à crise que o país
atravessa atualmente é notório verificar-se um aumento dos preços dos bens
alimentares de primeira necessidade, o que leva ao levantamento de uma questão
primordial, que vai de encontro ao porquê de o país ter desistido do seu sector
primário, no momento em que o preço dos produtos alimentares aumenta. Pelo
facto de Portugal ser um país competitivo neste sector, a importação de
produtos alimentares não é justificável, dado que os mesmos poderão ser
produzidos cá e em nenhum momento da nossa história foi tão relevante consumir
produtos portugueses como agora, até pela sua qualidade.
Diante de um grave problema
económico-financeiro que o país atravessa, é indispensável mais do que nunca
apostar numa agricultura que seja capaz de revitalizar a economia nacional para
o crescimento do produto interno bruto e (re)equilibrar a balança comercial, já
que essa apresenta um elevado défice. Assim é necessário diminuir a nossa
dependência ao exterior, de maneira a diminuir o nosso endividamento.
Importa ter presente o exemplo
dos países desenvolvidos onde prevalece o excesso de produção agrícola, sendo
esta uma das condições que lhes permitiu tornarem-se ricos, pelo facto de serem
auto-suficientes na produção agrícola.
Mais do que nunca é necessário
adotar uma nova atitude no que se refere à agricultura, é crucial romper com
ideologias criadas ao longo dos últimos anos e apostar numa ‘nova economia’
baseada fortemente nesse sector, utilizando-a como uma grande fonte de
rendimento. Para ser possível a sua concretização, é fundamental respeitar os
agricultores, pelo grande contributo que dão a uma actividade socialmente
sustentável e de grande importância económica para o país. Por isso é essencial
recompensar quem trabalha na agricultura, através de decisões públicas que
incentivem a sua actividade e não decisões políticas, como atualmente se
verifica, que têm levado ao abandono dos territórios rurais. Assistiu-se a
progressiva passagem da agricultura para segundo plano, em parte por
responsabilidade de decisões políticas, que ao longo do tempo foram pensadas e
executadas de forma a reforçar-se as assimetrias constatadas entre o litoral e
o interior.
No entanto, existem diversos
casos que tentam reverter esta tendência e na sua maioria correspondem a
esforços locais e individuais que tentam fazer face à desvalorização dos
governos e faltas de apoios. A título de exemplo, a Agro-Macelos é uma
exploração leiteira familiar, situada na região entre Douro e Minho, distrito
do Porto, concelho de Amarante, freguesia de Mancelos, que surgiu e tem
crescido através do esforço de empreendedorismo local.
Esta iniciativa privada tem
sido pioneira no seu percurso, nomeadamente no que diz respeito à inovação com
o recurso às tecnologias para explorações leiteiras: ordenha mecânica. Têm sido
variadas as notícias publicadas sobre este caso de sucesso, pois têm conseguido
aumentar a produção ano após ano, que se deve à constante inovação e à aposta
de formação dos seus proprietários. Toda a produção tem sido encaminhada para a
AGROS, com uma produção anual dos 700 mil litros de leite. Assim, verifica-se
que são sobretudo as apostas nas tecnologias, conjugando-as com as práticas
agrícolas que fazem a diferença face às dificuldades do sector. No caso desta
empresa, destacam-se também por serem os únicos a exportar embriões de gado;
destaca-se ainda a participação em concursos pecuários nacionais e
internacionais com a obtenção de resultados positivos.
Por fim, na realidade, os
contornos do rural (já) não coincidem com a agricultura, ou seja, aquele país
do ‘milho, centeio e trigo’ está ultrapassado. Hoje verifica-se a relevância de
outros sectores e fontes de rendimento. No entanto, cabe-nos adotar uma nova
atitude e acreditar neste sector como uma nova oportunidade de futuro, da qual
a Agro-Mancelos é exemplo, tendo em vista o desenvolvimento do país.
Flávia Sá
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