Há
certas situações em Portugal que parecem não ter volta a dar, um país de
assimetrias, sem soluções que as contrariem. O espaço rural em Portugal
representa cerca de 80% do território, com diversificados recursos naturais e
humanos, que seriam suficientes para suportar um qualquer investimento nesta
área. No entanto, há muitas insuficiências económicas e muito poucas apostas em
espaços rurais, colocando a vida dos autóctones numa situação desconfortável,
sem acesso às mais diversas oportunidades.
O caso do
Interior de Portugal, com uma população que depende ou dependia, diga-se assim,
maioritariamente da actividade agrícola e que viu a modernização desta
actividade afectar o seu bem-estar, ou seja, já não seria precisa tanta
mão-de-obra como outrora, nem Portugal desde a entrada na União Europeia produz
o mesmo que no tempo do velho escudo.
Associado
à falta de produção agrícola, cresceu a indústria, que no fundo foi o motor
para o êxodo rural, tal era a sua concentração no litoral. Entre 1960 e 1973
essencialmente, Portugal atingiu uma “fase de ouro” na indústria, em todo o
tipo de serviços, têxteis, calçado, plásticos, entre muitos outros. No entanto
desde aí, até aos dias de hoje, que o sector secundário tem vindo a piorar e a
conhecer cada vez mais deficiências. Ainda assim, parte deste sector a
possibilidade de eliminar algumas assimetrias regionais. Para tanto, é
necessário fixar indústria no interior do país e se Portugal apostar na
inovação da tecnologia ainda podemos ter uma palavra a dizer num mundo tão
globalizado.
A total
inexistência da indústria no interior, só é contrariada com alguns pequenos
estabelecimentos de ordem familiar sem nenhuma técnica avançada, mas que ainda
assim assumem alguma importância no rendimento mensal desta população. Ao
acreditarmos que a actividade industrial nesta região seria capaz de absorver
mão-de-obra local, de aproveitar os recursos locais, ligados nomeadamente à
agricultura, essa seria também uma forma de combater o êxodo rural e o abandono
de campos agrícolas. Atendendo a que uma indústria sediada numa região onde não
existem mais infra-estruturas seria uma óptima forma de a desenvolver,
promovendo o aparecimento de outros serviços e oportunidades de emprego. Numa
população com melhores condições de vida acaba por ser necessário crescerem
serviços que completem essas condições. Há por isso um desenvolvimento saudável
da região.
Através
do Programa de Desenvolvimento Regional, atribuíram-se subsídios de apoio à
instalação de empresas no interior de Portugal, benefícios fiscais às empresas,
facilidades de crédito e apoio à formação profissional. No entanto, consta-se
neste novo orçamento de estado que esses benefícios tiveram um ponto final.
Quando estávamos no caminho certo para combater as assimetrias, voltamos a
virar para o caminho errado.
O
interior tem a vantagem de estar próximo da fronteira e mais facilmente
conquistar o mercado europeu. Há um esforço por parte do poder local em
contrariar o que tem vindo acontecer estes últimos anos, mas a necessidade de
contrariar tem de passar a ser nacional. Temos que pensar no interior do país
como uma prioridade. Os benefícios fiscais eram uma boa política para atrair
empresas mas, se já não é possível, devemos pensar noutras soluções, o caso do
turismo, por exemplo. Será certamente uma actividade que pode contribuir para o
desenvolvimento do interior. Temos cultura, património, ideias e iniciativas. Porque
não colocar tudo isso em prática?
Parte
de nós enquanto portugueses e não apenas de quem lá vive e sente na pele “virar
costas” à procura do litoral como oportunidade. Além disso, o turismo em espaço
rural tem ofertas únicas e distintas do comum ‘sol e praia’. É um contacto mais
directo com a natureza. É um turismo mais familiar e mais próximo da população.
É conhecer por dentro Portugal.“(…) É
necessário incentivar acções de promoção das áreas rurais que tenham como
finalidade principal a atracção dos naturais dessas áreas, que muitas vezes aí
mantêm património assinalável e que poderão valorizar. Esta questão poderá ser
equacionada no contexto do turismo em espaço rural, cujo conceito deverá ser
alargado, no sentido da diversificação da oferta e da manutenção das
características essenciais do mundo rural (…)” (Jorge Gaspar, Geografia e
Ordenamento do Território).
Há
casos de sucesso a este nível que tive oportunidade de visitar. As Casas do Coro,
em Marialva, são um exemplo de aposta que pretende contrariar a falta de
dinamismo na região. Pela mão de gestores privados, mantêm a arquitectura
externa da casa original e reformam por dentro, adaptando cada espaço e
proporcionando sempre o maior conforto. Relativamente a empresas sediadas no
interior do país, conhece-se também o famoso caso e muito bem prestigiado dos
Cafés Delta: exporta para 35 países; emprega cerca de 3 mil pessoas; e cerca de
50% da população local de Campo Maior trabalha na empresa. São dois exemplos de
sucesso no interior de Portugal. Haverá muitos outros certamente. Questiono-me,
então, porque não olhar para os bons exemplos e segui-los?
Em
suma, há potencialidades e há pessoas qualificadas para atingir bons resultados
no interior português, só é preciso que haja oportunidades e incentivos
nacionais que contrariem a actual situação.
Rita Freitas
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