Foi
no reinado de D. Sancho I que foi atribuída a primeira Carta Foral a Contrasta
– Valença do Minho –, tendo, aquele, decidido erguer no local uma construção defensiva
de caráter permanente, reforçando uma linha de fronteira natural, estabelecida
pelo rio Minho, entre esta póvoa e o país vizinho – Espanha. Mais tarde, no ano
de 1962, o rei D. Afonso III procedeu à alteração do nome da póvoa para Valença
e ordenou uma profunda reforma do sistema militar da vila, passando as muralhas
a abarcar toda a povoação.
Sendo
esta fortaleza uma das mais expostas a ataques espanhóis, têm lugar, nos finais
da década de 50 do século XVII, as primeiras tentativas no sentido de reforçar
a muralha de Valença, tendo esta obra ficado a cargo do francês Miguel Lescole,
que procurou robustecer esta enfraquecida estrutura defensiva, nunca obtendo,
contudo, a aprovação do Conselho de Guerra. Em 1691, Manuel Pinto Vilalobos, um
discípulo do engenheiro militar francês, levou a cabo a tarefa de reforço da
fortaleza através do aproveitamento de grande parte das plantas do mestre
francês, ficando, assim, concluída a obra, em grande medida, no ano de 1700.
Atualmente,
a Fortaleza de Valença representa um exemplar do bom aproveitamento dos
recursos e competências do território, bem como da dinamização do espaço, que
tem por base um conjunto de ações que visam promover o município, quer do ponto
de vista do património, quer do ponto de vista da paisagem, impulsionando e
potenciando, assim, a economia local e incentivando ao turismo. Com um
perímetro amuralhado correspondente a 5 quilómetros, trata-se do monumento mais
visitado de Valença, constituindo uma fortaleza viva e multicultural, um espaço
de convivência galaico-minhoto, comercial e turístico por excelência, aberto ao
mundo e às relações entre Portugal e Espanha.
Figura 1 - Fortaleza de Valença
Além
de se tratar de um local que privilegia o contacto com a história, o património
e a fruição paisagística, a Fortaleza de Valença apresenta-se como ponto de
confluência dos Caminhos de Santiago Central e da Costa, Portugueses. Este
centro histórico tem-se afirmado como um importante espaço de peregrinação
comercial de dimensão transfronteiriça, possuindo pequenas lojas de comércio
tradicional e integrando, assim, a Rota do Artesanato dos Caminhos de
Santiago. Esta atividade comercial, que a caracteriza, assume elevada
importância a nível económico, uma vez que tem um importante peso no emprego
dos residentes do concelho.
As
regiões do Norte de Portugal e da Galiza trabalham, desde o ano de 2015, no
sentido de reforçar a partilha de conhecimentos, com vista a aumentar, anualmente,
o número de turistas portugueses e galegos entre ambas as regiões. Esta
iniciativa surge a partir de uma ação de promoção e intercâmbio entre a Agência
de Turismo da Galiza e o Turismo do Porto e Norte de Portugal. Apontam-se como
principais motivações, por um lado, a proximidade entre estas regiões e as
consequentes parecenças culturais, no que respeita às tradições e ao folclore,
à gastronomia e aos vinhos, e, por outro lado, uma partilha de sinergias
transfronteiriças com o objetivo de aumentar a quota de mercado, o número de
turistas e, assim, potenciar o aumento da estadia média, gerando um maior
retorno dos investimentos realizados no âmbito dos Produtos Turismo de Natureza
e Gastronomia e Vinhos.
A
Fortaleza de Valença integra, ainda, um conjunto de iniciativas direcionadas
para a dinamização do património e respetiva divulgação, bem como para a
promoção do turismo, potenciando a curiosidade e o interesse dos visitantes.
Neste sentido, destacamos, assim, o programa Rota dos Castelos e Fortalezas,
realizado no âmbito do projeto Alto Minho 4D – Viagem no Tempo, que
pretende atrair e reforçar os visitantes através de uma rede de 10
rotas/itinerários cronológicos culturais baseados na história e no património
do Alto Minho, dinamizando uma
atividade por mês na sede de concelho de cada um dos dez municípios do distrito
de Viana do Castelo. Este projeto, cuja organização esteve a cargo da CIM-Alto
Minho[1], insere-se na Estratégia
e Plano Global de Ação: Alto Minho 2020, que visa a valorização dos
elementos identitários da região, nomeadamente a natureza, a gastronomia e o
património material e imaterial, tendo sido aprovado pelo Programa
Operacional Regional do Norte – Norte 2020, no domínio do Património
Cultural.
A
Fortaleza de Valença é, ainda, uma das fortalezas contempladas pelo programa Dinamizar
Fortalezas[2],
da autoria do Governo Português, apresentado em Julho de 2019, pelo Ministro-adjunto
e da Economia, Pedro Siza Vieira, que pretende promover 62 fortalezas situadas
na raia entre Portugal e Espanha, desde o Minho até ao Algarve, tendo em vista,
não só a requalificação das mesmas, como também a sua promoção conjunta
enquanto produto turístico. A razão deste investimento prende-se com o facto de
o Governo considerar que estes monumentos são âncoras de desenvolvimento
regional que podem criar emprego e gerar riqueza, afirmando-se como novos
destinos turísticos.[3]
Pretende-se, assim, que o setor turístico possa continuar a crescer, de
forma sustentável, atraindo mais visitantes a territórios de baixa densidade,
criando condições de visitação e de conteúdos e promoção internacional e
tirando partido da proximidade ao mercado espanhol.
Por
fim, além das iniciativas que integra, o município de Valença iniciou o
processo de candidatura da sua fortaleza a Património Mundial pela UNESCO, a
par com os municípios de Almeida, Marvão e Elvas, apresentando a mesma em
Dezembro de 2019. Trata-se de uma candidatura conjunta das Fortalezas
Abaluartadas da Raia a Património Mundial da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aberta a outros municípios de
Portugal e Espanha e à qual se poderão agregar após a aprovação pela UNESCO.
Este projeto, financiado pelo programa Valorizar[4], implica a criação de uma rota
temática – A Rota das Fortalezas Abaluartadas[5]
– que agrupa os diferentes polos do projeto. O investimento abrange, ainda, um conjunto
de ferramentas de experimentação turística e branding associado,
contemplando, também, o desdobramento da marca em vários suportes
comunicacionais (site, folhetos, vídeo, merchandising) e
ferramenta de monitorização do projeto.
Todas
estas iniciativas promovem não apenas a história e o património de Valença do
Minho bem como das regiões circundantes e envolvidas, mas também a sua
identidade, ao mesmo tempo que preservam, divulgam e valorizam os recursos e
competências do território, assentes quer na educação e crescimento regional
quer no desenvolvimento e cooperação transfronteiriça.
[1] Rede de trabalho, de partilha e de
cooperação que assume impacto aos níveis da hotelaria, da restauração, das
atividades económicas, da captação de investimento e da fixação de pessoas.
[3] (RTP & Lusa, 2019)
[4] Linha de apoio à valorização
turística do interior, do Turismo de Portugal.
[5] Esta rota pretende ser um produto
turístico patrimonial de interpretação e valorização de um legado histórico
único, da raia portuguesa, permitindo uma melhor interpretação, valorização e
projeção do legado patrimonial em questão.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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