terça-feira, abril 14, 2020

Turismo como forma de vida

Turismo? “Substantivo masculino. Ação de fazer viagens para recreio. Atividade económica relacionada com as viagens organizadas, geralmente para lazer. Local onde se prestam serviços de apoio aos turistas”. Diz o dicionário.
Turismo são as férias em família como mecanismo de reforço da proximidade e da autenticidade das relações. Turismo é a procura do tradicional, do autêntico, de modos de vida “perdidos no tempo”, onde as aldeias se querem pobres, sujas, primitivas e tradicionais, em contraste com o mundo moderno, urbano, rico e cosmopolita. Turismo é o histórico, cultural e paisagístico enquadrado pela máquina fotográfica. Turismo são os múltiplos consumos de espaços naturais que incluem desde o consumo visual a performances altamente especializadas, onde a aventura, o risco, e o corpo se combinam. O turismo transformou patrimónios em recursos e condenou ou enalteceu, conforme as perspetivas, modos de vida em produtos de mercado. Diz a experiência.  
“Eu viajo para conhecer o mundo, naquilo que ele tem de bom, naquilo que ele tem de mau, naquilo que ele tem de bonito, naquilo que ele tem de feio. Eu acho que aquilo que distingue os viajantes da maior parte dos turistas em geral, e de muitas das pessoas que andam pelo mundo, é uma pessoa que não sai só para ver o que é bonito.” Diz alguém.
De que é que falamos quando falamos de turismo? O turismo é, aparentemente, um fenómeno que abrange atividades, motivações e práticas tão diferenciadas entre si que o único elemento comum entre todas elas parece ser a mobilidade. Se a palavra turismo não existisse, estaríamos a abordar um vasto conjunto de estruturas, práticas e atores, dificilmente relacionáveis no contexto da crescente pluralidade que marca o fenómeno turístico. Contudo, turismo é muito mais do que atividades, motivações e práticas. É muito mais do que mobilidade. Apresenta-se, também, como um modo de vida. E está intrínseco.
Muitas vezes, é um compromisso comum com uma forma de viagem não institucionalizada. É o necessitar sempre de mais, o necessitar de ver, de saber, de conhecer. É um vício. É uma abordagem ao nível do papel do turismo e da viagem como produtor de autoidentidades e como mecanismo central na reconstrução do self. Estas abordagens colocam o turismo como mecanismo central de produção e reconstrução da autoidentidade, sobretudo no contexto das viagens de longa duração produtoras de narrativas, que funcionam simultaneamente como capital social e como reconstrução reflexiva do self.
No limite, é um estilo de vida e negócios, que cresceu consideravelmente nos anos 2000, devido a companhias aéreas e alojamentos de baixo custo ou alojamento económico, em muitas partes do mundo. As leis de vistos em muitos países permitem que pessoas com vistos restritos trabalhem e se sustentem enquanto estão nesses países, modo cada vez mais em voga e em constante crescimento. Viver assim, de mochila às costas pelo mundo fora, seja qual for o mundo de cada um. É ir.
Turismo? É muito mais do que dormir. É sentir. É muito mais do que viajar. É ver. É conhecer. E aprender. É muito mais do que organização. É vontade. É querer. É muito mais do que pessoas. É crescer. É acolher. Saber acolher e saber ser acolhido. E nós sabemos tão bem. É muito mais do que viajar. É muito mais do que economia. Do que dinheiro. De quem dá e de quem recebe. É muito mais do que lazer. É estar. Mais que estar, é ser. Ainda mais do que isso, é uma forma de viver. É viver. E eu? Eu vivo.

Inês Ferreira Peixoto

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

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