sábado, abril 11, 2020

Turismo Criativo – Realidade no Baixo Minho

Todos os territórios são mais que um espaço geográfico. Estes detêm em si recursos naturais, edificações patrimoniais, eventos e festividades, produtos artesanais que representam o modo de vida das populações residentes. Sabemos que as caraterísticas de um território funcionam como atrativo turístico e que muitas cidades, vilas e aldeias têm conseguido rendibilizar os seus recursos de uma forma sustentável. Sendo o território uma rede de interesses de uma comunidade, há que aproveitar o saber fazer das populações e a sua mão-de-obra especializada em determinados produtos artesanais e deste modo inserir-se no setor do turismo criativo.
0 conceito de turismo criativo consolidou-se como alternativa ao turismo de sol e praia e ao turismo cultural demasiado massificado, que não serve ao turista que pretende não apenas observar mas participar, envolver-se, adquirir experiências e saberes em interação com a população do território visitado.  A definição deste conceito é apresentada por teóricos como Greg Richards e Julie Wilson e, em 2006, a UNESCO, atenta às atividades turísticas, propõe também uma definição para este setor do turismo considerando-o como: “Uma viagem voltada para uma experiência engajada e autêntica, com a aprendizagem baseada na participação nas artes, no património, ou no caráter especial de um lugar e com a conexão que este fornece com os que lá residem e com a sua cultura viva”[1]. Assim fica explícito que a UNESCO encontra nesta nova geração de turismo uma forma de interligação entre várias atividades, que vão desde as novas tecnologias até às tradições e outros aspetos da cultura material e imaterial.
Com aquele propósito, a UNESCO criou, em 2004, a Rede de Cidades Criativas, com o objetivo de promover o desenvolvimento social, económico e cultural de várias cidades dispersas pelo mundo, pretendendo alcançar a sustentabilidade urbana através do uso adequado dos recursos que cada uma possui. Em Portugal, existem alguns municípios com o título, como Idanha a Nova e Óbidos (desde 2015) e, mais recentemente, Barcelos ( 2017). Esta cidade sustentou a sua candidatura no facto de a comunidade criativa local possuir um reconhecimento nacional importante, ser uma referência no artesanato e desejar promover em redes internacionais as boas práticas e o “know how” adquiridos ao longo de séculos.


Numa visita aos sítios do município e do posto de turismo de Barcelos encontram-se várias ligações que remetem para a Cidade Criativa do Artesanato e das Artes Populares, nomeadamente a criação de rotas ligadas a várias áreas das artes e ofícios da região, entre elas a rota do figurado, da olaria, dos bordados e da tecelagem, do ferro, da madeira e a da cestaria e vimes. Nelas estão sinalizados artesãos, endereços físicos e redes socias e localização gps das suas oficinas.
O museu da olaria está situado no centro histórico da cidade e, além de albergar exposições permanentes e temporárias sobre o figurado de Barcelos e os seus mais reputados artesãos, dispõe no serviço educativo do museu de wokshops destinados a crianças e jovens, seniores e famílias, no sentido de sensibilizar a comunidade local sobre práticas artesanais antigas da região. Esta oportunidade é estendida a grupos de visitantes que, com marcação prévia, podem realizar a visita ao museu e participar na oficina de cerâmica com a modelagem do barro e pintura de uma peça, como, por exemplo, o ex-libris da cidade – o galo de Barcelos. 
Estudos realizados, como Os impactes uma aproximação exploratória ao caso de Barcelos, da autoria dos professores J. Cadima Ribeiro e Paula Remoaldo, comprovam que o turismo tem aumentado significativamente, graças a fatores como o Caminho de Santiago, o touring, que cresceu e envolveu cidades muito próximas, e que determina que algumas empresas de animação turística visitem Barcelos à quinta-feira para que os turistas experienciem um evento local – a feira semanal.
É essencial aproveitar a marca e o trabalho deixado pela candidatura e título da UNESCO e criar, fomentar e promover iniciativas criativas que possam atrair mais turistas à procura da envolvência com as práticas artesanais da região.



Além do exemplo de Barcelos, há outra região do Baixo Minho que, há algum tempo, tem práticas de turismo criativo. O concelho da Póvoa de Lanhoso, conhecido pelas oficinas de filigrana, tem identificados dois núcleos - Oficina do Ouro em Sobradelo da Goma e Museu do Ouro em Travassos - onde o turista pode visitar as aldeias e o meio envolvente de natureza, conhecer o museu ligado à transformação do ouro, aprender e interagir com os ourives/artesãos em todo o processo e técnicas aplicadas na filigrana. Nestes espaços, há a possibilidade de compra de objetos que também estão disponíveis online em lojas que albergam marcas tradicionais portuguesas, promovendo assim práticas e produtos artesanais portugueses a nível internacional.
O turismo criativo é, sem dúvida, um nicho de mercado a explorar e a sua difusão no país deverá merecer um maior interesse e empenho dos responsáveis locais.  

Susana Ferreira

Bibliografia
BALEIRAS, Rui Nuno (Coord.), 2011, Casos de Desenvolvimento Regional, Princípia Editora, Cascais.
Webgrafia



[1] UNESCO, 2006

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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