sábado, abril 11, 2020

Turismo sustentável

Mais atual do que nunca, o turismo sustentável se relança na atualidade como uma das soluções para garantir que as futuras gerações conheçam a natureza da forma como nós a conhecemos hoje. Esse fato é pertinente uma vez que o turismo de massas tornou-se nos últimos anos uma atividade com grande potencial de impacto ambiental negativo em diversas regiões do mundo, onde se valoriza o retorno financeiro acima da proteção do meio ambiente.
Mas antes de mais nada, é preciso entender tudo o que abrange o turismo sustentável. Embora pareça fácil de entender esse termo, ele é mais complexo e abrangente do que se parece.
O turismo sustentável pode muitas vezes ser confundido com outras denominações turísticas, como ecoturismo, turismo de natureza, turismo rural, turismo verde, entre outros, que se resumem basicamente na sadia interação do visitante com a natureza. Porém, o turismo sustentável vai além de proteger apenas as áreas naturais de um determinado local, ele “busca a manutenção de um equilíbrio entre os três eixos básicos nos quais se apoia: suportável ecologicamente, viável economicamente e equitativo desde a perspectiva ética e social”.[1]
Nesse sentido, o turismo sustentável contribui para o meio em que está inserido de uma maneira holística, considerando não só a natureza mas, com a mesma importância, considera a economia local, sua cultura, além do bem-estar de cada indivíduo inserido no seu contexto. Assim, é possível dizer que o turismo sustentável contribui para a preservação de bens naturais, econômicos e culturais.
Desde muito tempo, percebe-se um movimento por meio de ministérios do turismo em diversos países com a finalidade de diminuir os impactes causados pelo número elevado de turistas em suas cidades. É o caso da iniciativa “passaporte verde”, presente em diversos países. É uma campanha coordenada pelo governo francês.
Implantada no âmbito das Nações Unidas, no Brasil é coordenada através dos ministérios do turismo (MTur) e meio ambiente (MMA). Com nome de Projeto Férias Sustentáveis, o programa visa qualificar a cadeia produtiva do turismo, a implementação de estrutura básica e turística, ações de educação ambiental, além de incentivar o turista a consumir de maneira mais consciente e, assim, reduzir os impactes. Para isso, se utiliza de comunicação ativa, além de materiais que auxiliam o visitante a melhorar suas condutas enquanto turista, nomeadamente, reutilizar as toalhas no hotel, reduzir o consumo de água, escolher hotéis e restaurantes que também possuam práticas sustentáveis.[2]
Ainda nesse contexto, existem iniciativas ainda mais atuais e ambiciosas na conscientização da proteção ambiental e social dos locais que se visitam, como exemplo, a Travalyst, cujo slogan é “viajar como um catalisador para o bem”. Idealizada por nomes como Príncipe Harry e grandes potências mundiais no ramo de viagens, Booking, Skiscanner, Trip, Tripadvisor e Visa, a ideia é fazer com que todos os viajantes entendam a responsabilidade pelos seus impactes em viagens, e com isso fazer com que mudem a sua visão de mundo e passem a ser provedores de mudanças reais por onde passam.[3]
Claro que a ideia é demasiado ambiciosa, se não utópica, mas acredito que se não for feito algo “ontem” os problemas continuarão sem nenhum caminho para a solução. Usar das influências que possue esse grupo, para tornar físico um problema aparentemente invisível até então, é no mínimo esperançoso quando se pensa em turismo sustentável. Com uma voz que pode ir mais longe, é possível fazer chegar a quem só tinha olhos abertos para as belezas locais a serem exploradas, no real sentido da palavra. E não digo isso como uma crítica. Muitas vezes, ao querer saber mais, são encontradas apenas boas informações a respeito da cidade que se quer visitar, claro, só se vende o que é bom. É investigando mais profundamente e muitas vezes em loco que é possível ver os efeitos negativos sofridos pela população, que geralmente ficam afastadas dos grandes centros visitados.
Na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2011, por exemplo, a poucas quadras de um luxuoso hotel, era possível ver montanhas de lixo à beira da estrada e, mais afastado, no caminho de algum passeio, era possível ver famílias caminhando e pedindo boleia ao longo da estrada por não existir transporte público. Ainda mais distante, grande número de famílias vivia em containers em terrenos sem qualquer estrutura de moradia, onde o esgoto corria pelo meio das moradias improvisadas.
Mesmo anos depois da copa do mundo ocorrida na cidade, conhecida como cidade de lata, nessa comunidade, a condição das famílias não mudou em nada[4], o que nos levanta uma importante questão: além das ferramentas que já temos que nos possibilita ser um turista consciente, como cobrar ações efetivas nos casos em que as políticas públicas falham?
No contraponto do exemplo acima, cito Dubai, onde tudo parece funcionar como uma orquestra. E não importa de onde você veio ou quanto dinheiro tenha, é proibido que homens e mulheres andem de mãos dadas ou troquem qualquer intimidade em público, além de ser proibido o consumo de bebidas alcoólicas das 17:00 às 18:00 horas, quando a música ambiente em qualquer parte também é substituída por suas rezas. O turista consciente obedecerá às regras por entender que isso tudo faz parte dessa cultura, já o turista desinformado reclamará de tais regras por se achar acima da cultura e por vezes tentará desobedecer.
Assim, concluo que tão importante quanto políticas públicas que contribuam para um turismo sustentável, é um turista consciente de suas ações, que será capaz de aproveitar cada local e as experiências que eles podem proporcionar, sem com isso contribuir para a degradação dos espaços físicos e desigualdade na distribuição da renda que ele gera. Reitero que elas devem caminhar juntas: as políticas públicas organizando suas regras de acordo com a sua cultura e realidade; e o turista, consciente do por que da existência de tais regras.

Simone Paixão da S. Ribeiro



[1]DIAS, Reinaldo. Turismo Sustentável e Meio Ambiente. Editora Atlas, p. 107.
[3]Retirado de: https://travalyst.org/  visto em: 09/04/2020
[4]Retirado de: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/05/140515_legado_blikkiesdorp_jf_rb  visitado em: 08/04/2020

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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