quarta-feira, abril 15, 2020

“Overtourism”: o excesso de turismo

“Overtourism”, podendo-se traduzir como excesso de turismo, é um termo recente referente ao impacte que o turismo desmesurado tem num determinado destino turístico. O “overtourism” afeta tanto a comunidade local e a sua qualidade e modo de vida como também os próprios turistas e a qualidade da sua experiência no destino. Este fenómeno está particularmente ligado ao turismo em massa nas áreas urbanas onde, segundo as Nações Unidas, reside mais de metade da população mundial.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (2018), o número de turistas internacionais passou de 25 milhões na década 50 do século passado, para 1,3 biliões em 2017, prevendo um valor de 1,8 biliões para 2030, o que corresponde a um crescimento anual de 3,3%. Este crescimento justifica-se pelo desenvolvimento económico, a existência de custos cada mais acessíveis em relação aos transportes, uma maior facilidade em viajar, e o crescimento da classe média, que, consequentemente, acaba por escolher as cidades como destino a visitar nos seus tempos livres. Também a influência das redes sociais e dos media contribui para a massificação de determinados locais turísticos que, na sua maioria, se trata de espaços culturais, o que explica a tendência atual que o turismo cultural se tornou, sendo que este tipo de turismo tem maior incidência nas áreas urbanas.
Para além destas razões, é importante também responsabilizar o planeamento turístico fraco e insuficiente, que podemos concluir ao observar a pobre distribuição de visitantes, que têm a predisposição de se concentrar em certos espaços considerados mais atrativos, como por exemplo os centros históricos de grandes cidades, assim como a afluência em determinadas épocas do ano, visando principalmente os três meses de verão.
É deste modo que o “overtourism” constitui, inevitavelmente, um transtorno para a população residente nas áreas em que este ocorre. O aumento do custo de vida, uma das maiores consequências do excesso de turismo, leva a que os residentes se mudem das cidades, como é o exemplo dos habitantes de Veneza, em Itália. O facto de as infraestruturas e os serviços serem usufruídos simultaneamente pelos turistas e pelos residentes enfatiza também a desordem provocada pelo exagerado fluxo turístico, assim como a dificuldade que é viver em locais que passaram a ter mais circulação por parte de viajantes desconhecidos do que da sua própria vizinhança. Contudo, embora o excesso de turismo traga bastantes consequências negativas, é também por causa da elevada atividade turística que é possível a recuperação e manutenção do património, a revitalização de espaços e uma agenda cultural diversificada e de qualidade.
Apesar do turismo, na sua generalidade, e do seu avanço representarem vários benefícios socioeconómicos e culturais para as cidades e os seus arredores, o aumento do turismo deveria representar também o desafio em criar medidas para assegurar um crescimento sustentável, com a finalidade de evitar que o conceito de “overtourism” se aplique à situação dos seus espaços turísticos. Amesterdão, na Holanda, que sofre bastante da massificação de turistas, adotou medidas drásticas para combater o “overtourism”, nos últimos dois anos. Os autocarros turísticos foram, na sua maioria, banidos, a abertura de novas lojas direcionados exclusivamente para turistas foi proibida, um imposto turístico por pessoa por noite foi lançado e visitas guiadas ao velho centro da cidade passaram a exigir licenças.

Figura 1 – “Overtourism” em Amesterdão. 


Em 2018, também a Organização Mundial do Turismo elaborou um relatório onde apresenta 11 estratégias e 68 medidas que poderão auxiliar a entender e planear o crescimento descontrolado de turistas. É importante as cidades promoverem e organizarem eventos em locais menos visitados e em época baixa, assim como dar a conhecer aos turistas atrações “escondidas”, através da criação de itinerários, encorajando assim a dispersão dos visitantes e combatendo a sazonalidade. A revisão e adaptação da regulamentação e a monotorização da atividade turística poderão também ser fatores essenciais para controlar a sobrelotação em atrações populares, que não é favorável para um cenário turístico ideal.
Procurar atrair turistas responsáveis, que respeitem o património histórico é também uma solução bastante conveniente para assegurar resultados de um turismo sustentável. E, por fim, importa assegurar que as comunidades locais beneficiam do setor turístico, de modo a contar com o seu envolvimento. Este é o elemento-chave para impedir que as repercussões indesejadas do “overtourism” afetam o seu espaço de residência.
Em suma, o planeamento de um destino turístico deve preocupar-se com todos os elementos que a atividade turística vai afetar, assegurando que as consequências serão maioritariamente positivas, fugindo assim da ameaça do “overtourism”.

Fátima Cunha

Referências:
https://ecobnb.com/blog/2020/02/overtourism-causes-consequences-solutions/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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