sexta-feira, abril 10, 2020

Vidas Que Mudam Vidas


Foto: Madi Robson

O turismo tem em si imensas e inúmeras vertentes: há quem o faça por fé, quem o procure por descanso, quem vá ao encontro de novas culturas ou até, simplesmente, quem deseje aprofundar o seu conhecimento e ter novas experiências. Interesses sociais são igualmente motores de viagem, de ida, de turismo. A necessidade de se transformar a si e aos outros faz com que exista um nicho de mercado que procure este tipo de aventura para realizar voluntariado.
Estes consumidores que pretendem uma mudança para si mesmos e deixar uma marca aos outros, que utilizam o seu tempo disponível em prol dos mais necessitados, seguem a máxima de que conhecer os lugares ajudando outras pessoas é uma experiência altamente transformadora. Eles usam as suas “férias” para concretizar o chamado Turismo Voluntário, que nada mais é que uma forma de viagem alternativa, em que o indivíduo paga uma taxa para participar em vários tipos de trabalho voluntário (Mostafanezhad, 2013, citado por Kipp, 2020). É também conhecida como uma jornada sustentável, que se baseia no altruísmo e no desenvolvimento pessoal de quem vai e na evolução da região e da comunidade que recebe estes visitantes do bem (Caldas, 2020).
Embora a vontade seja uma condição necessária, esta não é suficiente. É preciso um pouco mais para se estar apto a ir nesta jornada. São efetuados processos de seleção para a escolha das pessoas com aptidões e caraterísticas que vão de encontro às necessidades do local e das pessoas que se pretende auxiliar. A língua pode ser um requisito fundamental: se esta viagem for internacional, um nível de inglês intermédio ou avançado pode ser um fator determinante na escolha do candidato a voluntário.
O que todas estas expedições têm em comum é a necessidade de o aventureiro ter de contribuir com algum dinheiro para fazer face às despesas inerentes a este projeto, desde estadia a alimentação facultadas desta forma pela organização. Isto serve para que este tipo de atividades sejam totalmente viáveis e que toda a liquidez que as agências têm para investir nestas ações seja inteiramente alocada na comunidade auxiliada.
Como já referido, existem vários tipos de actividades colocadas à disposição e que são escolhidas de acordo com as preferências e as causas que os voluntários querem representar. Para quem tem uma preferência pela causa animal, pode realizar esta deslocação para recuperação dos mesmos. Se existir uma melhor preparação e ligação com crianças, a ação pode passar por lhes dar aulas ou até aproxima-las do desporto, artes ou outras áreas. A saúde também pode ser escolhida para este tipo de turismo, dando o seu contributo em clínicas e hospitais. O auxílio pode passar ainda pela construção de casas e edificações necessárias à sobrevivência e qualidade de vida de cada um, mas, para além de amontoar tijolos, estas iniciativas servem para revirar mentalidades e levar, por exemplo, o empoderamento feminino a lugares onde este nunca foi tema de conversa.
Existem algumas entidades que fornecem estas oportunidades em Portugal, uma delas é a ImpacTrip. Esta remota a 2015 e surgiu com o desejo de alterar a forma como as pessoas viajavam, tornando esta situação num momento com impacto social e ambiental positivo. O objectivo base é facilitar a conexão entre voluntários e habitantes locais, tornando possível uma experiência cultural para uns, os voluntários, e um enriquecimento da qualidade de vida das comunidades que os recebem. Outra organização que dispõe deste tipo de serviço é a “Para Onde?”, uma associação sem fins lucrativos que nasceu em 2016 com a premissa de serem criadas oportunidades, quer a nível local, nacional ou internacional, onde pessoas diferentes se possam conhecer, encontrar e lutar por um mundo mais justo.
É uma vida por uma vida, uma transformação, uma boa ação que muda a verdade de quem mais necessita. É um intercâmbio de conhecimentos que altera mentalidades, que abre portas a um futuro e a oportunidades nunca antes pensadas. Turismo Voluntário é isto: vidas que mudam vidas, as delas próprias e as dos outros.

Sandra Matos

Referências Bibliográficas:
Caldas, I., Machado, H., & Sousa, B. (2020). Um olhar exploratório sobre o Turismo Voluntário An exploratory study on Voluntary Tourism. 15–30.
ImpacTrip. Retirado em https://impactrip.com/ (último acesso: 25/03/2020)
Kipp, A., Hawkins, R., & Gray, N. J. (2020). Gendered and racialized experiences and subjectivities in volunteer tourism. Gender, Place and Culture, 1–21.
Para Onde?. Retirado em http://paraonde.org/ (último acesso: 25/03/2020).

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

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