segunda-feira, abril 13, 2020

Queima do Galheiro: uma tradição a estudar

Considero que é escassa a informação relativa a estes ritos pagãos quer do nosso concelho quer de outras regiões, em geral. Há alguns apontamentos que fazem remontar à Grécia Arcaica (deus Dionísio, patrono do vinho e do seu cultivo) a origem do Carnaval, sempre em torno de festejos que honravam a colheita, comemorando-se com alegria o ato de comer e beber indispensável à existencia humana.
Com a proliferação do cristianismo, foram impostas algumas regras sociais, nomeadamente, a abstinencia e jejum em tempo quaresmal (quarenta dias que antecedem a Páscoa), em contraponto à euforia e manifestações populares relativos ao Carnaval. São hoje considerados esses eventos como fazendo parte de todo um património intangível e imaterial. Nesta sequência, considero a tradição da Queima do Galheiro, que acontece na freguesia de Fradelos, no concelho de Vila Nova de Famalicão, uma celebração do Carnaval pagã e única.
Todos os anos, desde que há memória, realiza-se em Fradelos, uma das quarenta e nove freguesias de Vila Nova de Famalicão, a tradicional Queima do Galheiro. Em cada cruzamento ou largo desta freguesia, a população reúne nestes sítios restos de mato, galhos das sementeiras e silvados, em redor de um tronco de pinheiro – galheiro - em forma piramidal, que é encimada por um boneco de palha denominado de “entrudo”. Esta rima de restos agrícolas e florestais será queimada para gaúdio dos moradores, após as 21h, no dia do Entrudo (dia de Carnaval). Os moradores juntam-se em redor da fogueira, num rito perfeitamente pagão, dançam, cantam, bebem e dão largas à euforia que antecede o tempo quaresmal. Esta atividade assinala, por isso, o início e o fim de ciclos religiosos e das colheitas, atraíndo hoje em dia um número cada vez maior de visitantes.
Esta atividade é desenvolvida em Fradelos nos últimos vinte anos pela KOKLUS, uma associação cultural de Fradelos que, em conjunto com a população, tem mantido ativa esta tradição, não a deixando cair no esquecimento.
No âmbito da estratégia de valorização de produtos endógenos e patrimónios intangíveis, preconizado pelas Comunidades do Alto Minho, Cávado e Ave, organizados na associação Minho Inovação, que tem o apoio de Norte 2020 e do FEDER, o Município de Vila Nova de Famalicão tem incentivado e dinamizado esta iniciativa integrante do património imaterial do concelho.

Luís Miguel Cardoso Pinho Ferreira

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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