segunda-feira, abril 13, 2020

O verdadeiro tesouro algarvio

O que pensa o(a) caro(a) leitor(a) quando pensa no Algarve? Praias? Hotéis? Bares repletos de turistas estrangeiros, quiçá? Pois bem, existe um outro Algarve, desconhecido para grande maioria dos forasteiros, sobre o qual me irei debruçar. Fá-lo-ei sem recorrer a qualquer revisão de literatura, pois trata-se de uma temática que me é familiar.
                                                                   Alcoutim
Fonte: visitportugal.pt

Procurada pelo belíssimo litoral que possui, a região algarvia é, porém, constituída por outras duas zonas: barrocal e serra. São estas duas zonas que passam despercebidas para aqueles que, pretendendo chegar às convencionais zonas turísticas, desbravam a região através de uma autoestrada que não faz justiça à paisagem que corta. Com a típica obstinação única por praia e sol, os viajantes acabam, assim, por perder a oportunidade de contemplar uma área que é turisticamente negligenciada.
Sim, ao contrário do que se possa imaginar, o interior algarvio é rico, estética e culturalmente, podendo facilmente digladiar com a beleza do litoral. Por aqui, é possível encontrar pequenas vilas, bonitas serras e imensas zonas naturais, muitas delas áreas protegidas, detentoras de uma vasta fauna e flora. Resumindo, uma realidade que não é publicitada ou divulgada. São imensos, e cada vez mais os spots publicitários relativos ao Algarve, muitos deles até são transmitidos no estrangeiro, mas a verdade é que são raros (senão inexistentes) aqueles que mencionam o valor intrínseco das zonas mais distantes da costa. Pessoalmente, fico com a sensação de que esta região está essencialmente focada em promover praias e campos de golfe.

Monchique
Fonte: postal.pt

Claro que esta divulgação é importantíssima para a região. Disso não haja dúvida. A questão é que se trata de uma estratégica meramente sazonal, que se traduz na ausência de afluência turística no restante período do ano. Embora se tenha revelado preponderante, se esta publicidade não contempla o restante território, não podemos esperar que o turismo progrida de maneira equitativa na região. Ora, e se os próprios portugueses não são conhecedores daquilo que o seu país tem para oferecer, como esperar que os turistas estrangeiros, representantes de uma grande parcela das receitas obtidas na região, estejam cientes do quão diversificado é o Algarve?
Com mais de trezentos dias de sol por ano, e sendo tão dependente do setor como é, explorar turisticamente o restante Algarve traduzir-se-ia num maior desenvolvimento regional, somando-se a isso milhares de postos de trabalho salvos da sempre temida época baixa. Para tal, e começando pelas autarquias, entidades responsáveis devem unir esforços em prol da região e dos respetivos habitantes.

Alte
Fonte: algarvefantastic.com

Se são necessárias provas em como este tipo de iniciativa pode ter sucesso, basta observar aquilo que se passa no Alentejo, região essa que se tem vindo a tornar-se num verdadeiro refúgio para muitos, principalmente para aqueles que procuram uma alternativa à realidade stressante e caótica que vivenciam o resto do ano.
Sabemos que “interior” habitualmente significa inexistência de investimento e de publicidade, mas estamos a falar de uma aposta que se poderia revelar rendível a médio ou longo prazo. Tal como nem sempre o litoral algarvio teve os recursos e as infraestruturas que tem, até porque, outrora, era essencialmente composto por vilas piscatórias, se queremos maximizar o potencial turístico de uma região, temos de lhe fornecer as ferramentas necessárias. Para tal, é imperial uma gestão responsável, que priorize, acima de tudo, a sustentabilidade. Utilizar corretamente os recursos humanos e naturais disponíveis é, aqui, imprescindível.

Eliano Costa

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

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