quinta-feira, abril 30, 2020

"O Turismo no Minho no Pós-Coronavírus"

APROTURM - Associação dos Profissionais de Turismo do Minho

Fórum
O Turismo no Minho no Pós-Coronavírus

Tema
"O Impacto do Emprego e Profissões do Turismo"
(30 de abril de 2020)

0.                Agradeço à Associação dos Profissionais de Turismo do Minho o convite que foi endereçado à UMinho para indicar um seu representante para o debate.
Congratulo-me pelo seu sentido de oportunidade, por trazerem para o debate o tema que foi escolhido.
Saúdo os demais oradores e participantes no Fórum, formulando votos de que se encontrem de boa saúde.

1.                A minha intervenção será centrada em 5 tópicos, para destacar aquelas que me parecem ser as questões/preocupações centrais do momento, e fazer a gestão adequada do tempo me foi atribuído.
Esta intervenção é suportada em reflexão própria e nalguma literatura académica do âmbito do turismo (sobre o impacte da COVID-19), que começa a surgir.

2.                Tópicos selecionados:
i)              Incerteza;
ii)           Insegurança;
iii)         Assimetria;
iv)         Reconfiguração;
v)           Retorno ao caminho.

3.                 Desenvolvimento dos tópicos selecionados
i)                   Incerteza
A crise sanitária, na sua expressão no mundo e implicações de saúde, sociais e económicas, foi um evento absolutamente inesperado e esmagador, comparado nas suas repercussões a tragédias como as da 2ª guerra mundial. Ninguém, indivíduos/famílias, empresas e outras organizações, estado, estava preparado para lidar com tal fenómeno e ninguém sabe muito bem o que se vai passar a seguir, como e quando.
Daí resulta que estamos perante um cenário de gestão de um fenómeno num contexto de aprendizagem e adaptação/resposta. O planeamento, a decisão, o investimento devem acontecer mas guiados por esse ambiente de incerteza, o que recomenda muita prudência, e apostas “seguras”, quer dizer, estruturais.
Dado o contexto e implicações mundiais em que a doença decorre, muitas das respostas necessárias só são possíveis de ser dadas e ter alguma efetividade no contexto internacional global, da saúde, à economia e, obviamente, ao turismo, como é sublinhado por Hall, Scott e Gössling (2020). 

ii)                Insegurança;
A insegurança que se vive começa por ser sanitária, sentida por cada um e pelo coletivo, e conduz a insegurança geral, económica social e turística. Em razão disso, adia-se a retoma da vida económica e social e adiam-se decisões, como a aquisição de certos bens (bens duradouros), o planeamento de viagens e o agendamento de férias. Quando não se adiam, avança-se precariamente, ao sabor dos sentimentos e acontecimentos do dia-a-dia, isto é, por exemplo, fazem-se reservas de alojamento para o verão, mas também se cancelam, a seguir, ao menor sinal de incerteza.
Conforme noticiado nos jornais neste final do mês, depois de no dia 14 de abril António Costa ter dito que espera que, no verão, os portugueses tenham possibilidade de gozar férias, as reservas de casas e hotéis no Algarve têm aumentado. O jornal Observador, por exemplo, avançava que os hotéis algarvios estavam a receber cada vez mais reservas, para julho e agosto, de portugueses e turistas estrangeiros, nomeadamente britânicos (cf. ZAP aeiou, de 27 de abril). Entretanto, o diretor da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve adiantava que “É verdade que também tivemos e ainda temos muitos cancelamentos” (ZAP aeiou, de 27 de abril).
Nesse contexto, o mesmo ator associativo acrescentava nas declarações que fez à comunicação social que “O facto de o Algarve ser considerado um destino turístico Covid-Free pode potenciar o aumento da procura externa” (ZAP aeiou, de 27 de abril).

iii)              Assimetria
O que se refere antes sobre reservas e cancelamentos de férias no Algarve, percebe-se que se passa com outros territórios. Ponte de Lima, por exemplo, é uma das manifestações da assimetria como o fenómeno sanitário, nas suas implicações económicas, se exprime.
O Algarve, ao ser considerado um destino turístico Covid-Free, pode potenciar a procura externa, na medida em que os seus principais concorrentes se debatem com problemas sérios, a começar pelo sul de Espanha, que é um dos seus maiores concorrentes, segundo o diretor da AHETA (ZAP aeiou, de 27 de abril).
Outra manifestação de assimetria neste fenómeno é a do potencial reforço da procura turística interna, em detrimento da externa, não apenas por razões de confiança mas, igualmente, por determinações administrativas que possam existir (barreiras à circulação de pessoas no contexto internacional) e condicionamentos de transporte (operação das companhias áreas, entre outras, que tem sido um dos setores económicos mais atingidos pela crise económico/sanitária).
Conforme enunciado por Gössling, Scott e Hall (2020), a evidência inicial dos impactes nas viagens aéreas, cruzeiros e alojamento foram devastadores. Embora altamente incertas, as projeções iniciais da Organização Mundial do Turismo para 2020 sugerem que as chegadas internacionais podem diminuir de 20 a 30% face a 2019.

iv)              Reconfiguração
Conforme já assinalado, as mudanças no turismo serão desiguais no espaço e no tempo. Nalguns destinos, este quadro económico/sanitário ditará que reconsiderem a natureza da sua indústria do turismo e se concentrem mais em formas locais e mais sustentáveis ​​de turismo (Hall, Scott e Gössling, 2020). Porventura, num primeiro momento, mais atentos ao turismo interno mas com espaço para a continuação da aposta no turismo internacional.
Em todo o caso, este parece ser o momento para questionar a sustentabilidade do percurso mantido, isto é, para equacionar pôr no terreno apostas turísticas menos massificados e que vão ao encontro de públicos mais exigentes em matéria de experiência turística. Trata-se de apostar em transformações menos centradas no crescimento do número de visitantes e, porventura, mais sustentáveis, nas diversas leituras do conceito, e mais ricas e diversas em matéria de fruição turística e de contributo para o desenvolvimento local. O desenvolvimento de nichos como o ecoturismo, o enoturismo, e o turismo criativo, entre outras, são apostas que fazem particular sentido serem feitas em Portugal.

v)                Retorno ao caminho.
Contrariamente ao que acontecia noutros destinos turísticos nacionais, por exemplo, Lisboa, Porto, Algarve e Madeira, o Minho pré-COVID-19 não se tinha ainda tornado num destino massificado. Aparte isso, muita da sua oferta potencial encaixa bem na estratégia que se reclama ser necessário implementar em Portugal no futuro mais próximo e mais longínquo.
As expressões culturais diversas, materiais e imateriais, a natureza, as manifestações particulares do rural, a gastronomia e vinhos, as rotas de peregrinação e de fruição da natureza, etc., são um pano de fundo suficientemente rico e diverso para sustentar um desenvolvimento turístico rico em experiência proporcionada aos visitantes e promotor de desenvolvimento local/regional. A reconfiguração da oferta não parece ser muito difícil de fazer, e as oportunidades económicas avultam.
Não se pense, no entanto, que mesmo no Minho não há custos. Na verdade, do que conheço no terreno, particularmente da vivência de Ponte de Lima, que tinha uma aposta bastante consistente em matéria de atuação no turismo (e era/é, um dos lugares atravessados pelo Caminho [Central)] de Santiago e de outras “peregrinações”, nomeadamente de natureza gastronómica e ambiental), Ponte de Lima, digo, é o exemplo de um local onde foram feitos investimentos que não vão ser rendibilizados e onde há empregos que não serão recuperados no curto e médio prazos.
Note-se a propósito que já antes da crise sanitária e pese o afluxo crescente de visitantes, era para mim óbvio que a oferta de unidades de alojamento local estava a crescer muito acima das necessidades. Criou-se a ilusão de que havia espaço para todos e a rendibilidade gerada era elevada, o que estava longe da realidade. Muitas dessas unidades não vão voltar a abrir, e outro tanto se passa com uma série de pequenos negócios que giravam em torno do turismo.
Esta é uma realidade que estou convencido que extravasa muito o caso de Ponte de Lima, mesmo no contexto do Minho. No caso de outros territórios que viveram mais intensamente o fenómeno da explosão do turismo em Portugal, a situação será muito mais grave.
Seja como for, acredito que há futuro para o turismo em Portugal, e também no Minho, em particular.

J. Cadima Ribeiro
(Professor do Departamento de Economia da EEG/UMinho; investigador do NIPE e do Lab2.PT)













Referências
Gössling, S., Scott, D. e Hall, M. (2020). “Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of COVID-19”. Journal of Sustainable Tourism,
Hall, M., Scott, D. e Gössling, S. (2020). “Pandemics, transformations and tourism: be careful what you wish for”. Tourism Geographies, DOI: 10.1080/14616688.2020.1759131.
ZAP aeiou (2020). “Covid-19 não trava férias de verão. Reservas de casas e hotéis no Algarve aumentam”. ZAP aeiou, edição de 27 de abril de 2020, http://www.aeiou.pt/.

quarta-feira, abril 29, 2020

O Turismo Rural e o consequente desenvolvimento das regiões

No decorrer do século XX, o turismo obteve um enorme desenvolvimento e aumento, especialmente na segunda metade deste século. Neste período, a procura turística localizou-se maioritariamente em locais com grandes ofertas de infraestruturas levando a que se originassem determinados efeitos negativos para os residentes destes locais e também para os turistas. Devido à grande concentração de visitantes nestes locais, uma parte dos turistas começou a procurar outros destinos como alternativa, dirigindo-se para os espaços rurais que possuem variadas atividades turísticas ligadas ao aspeto rural.
         O turismo em espaço rural tem caraterísticas muito singulares, tendo esta atividade como objetivo principal oferecer aos turistas uma oportunidade de experienciar as práticas, os valores, e as tradições culturais e gastronómicas das sociedades aí residentes. Estes tipo de turismo é considerado um produto completo e diferenciado, possuindo na sua composição alojamento, animação, lazer, restauração, tendo por base acolher os visitantes transmitindo as suas tradições, como por exemplo do artesanato, da gastronomia, da cultura popular e da história rural.
Este modo de turismo possuí vertentes distintas, tal como o turismo cultural, o turismo de natureza, o ecoturismo, entre outras, trazendo vantagens para as potencialidades de determinado espaço rural, levando à criação de pequenos museus, rotas temáticas, feiras e festivais.
Verifica-se um aumento da procura deste tipo de turismo devido ao seu caráter pacífico e em contacto com o meio ambiente, sendo esta uma alternativa excelente para as pessoas que se encontram diariamente nas cidades num ambiente muito frenético. Assim, o alojamento nestes locais deve possuir certas caraterísticas, destinando-se principalmente a grupos pequenos levando à possibilidade de um tratamento individualizado.


         Figura 1: Casa de hóspedes Cantar do Grilo https://www.booking.com/hotel/pt/cantar-do-grilo.pt-pt.html

O turismo nos espaços rurais começou a ser mais privilegiado uma vez que a sociedade se tornou mais consciente e sensível aos aspetos relativos à sustentabilidade, procurando assim uma vida com maior qualidade. Estes lugares são encarados também como memórias de algumas tradições que têm vindo a cair em desuso devido à evolução da tecnologia. 
         Em Portugal, verificou-se um aumento no turismo devido às caraterísticas climatéricas e à sua localização geográfica, no entanto, quando ocorreu este crescimento não houve nenhum tipo de planeamento, trazendo alguns efeitos negativos para a natureza, património e cultura.




Número de hóspedes em estabelecimentos hoteleiros portugueses https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/a-evolucao-do-turismo-em-cinco-graficos


         Estes desequilíbrios no setor do turismo foram recorrentes ao longo dos anos, levando à criação do 1º Plano Nacional de Turismo para o período 1986-1989, sendo esta a primeira vez a existir um planeamento na área do turismo em Portugal. Este plano tinha como principais objetivos a gestão e articulação dos espaços turísticos e o seu ordenamento, privilegiando a sustentabilidade do desenvolvimento. Depois deste primeiro plano a nível nacional começaram a surgir outros incentivos financeiros para que fosse possível ocorrer um reconhecimento da importância do turismo na modernização das infraestruturas.
         Esta atividade económica permite que se criem novos rendimentos, mais postos de emprego e permite também que outras atividades económicas se desenvolvam. O turismo rural em Portugal foi praticado inicialmente pelas classes com mais posses, que viam o campo como local de descanso e repouso, no entanto, isto veio a alterar-se quando o turismo começou a ser acessível a um número maior de indivíduos.
          Podemos afirmar que o turismo em espaço rural tem assumido uma expressão cada vez mais significativa, sendo procurado com maior frequência e por um número considerável de pessoas, levando ao surgimento de mais e melhores ofertas de modo a dar resposta a esta busca.
         Este aumento da procura e oferta do turismo rural levou a um desenvolvimento nestas regiões, sendo necessário ganhar uma maior consciência relativamente às questões ambientais e sociais, mantendo um equilíbrio entre os espaços centrais e periféricos.
         O desenvolvimento rural deve ser encarado como um sistema multidimensional, dinâmico e interativo para que este desenvolvimento seja positivo e traga benefícios para a população aí residente. A implementação de diversas políticas relacionadas com o desenvolvimento rural a nível nacional trouxe mais-valias para esses territórios uma vez que permitiu combater o êxodo rural do país e promover um desenvolvimento destas regiões, diversificando-se as atividades aí exercidas.
         Estas políticas de desenvolvimento regional levam a que o turismo seja capaz de dinamizar a economia, de criar novos empregos e contribuem para que a população queira continuar e viver nos meios rurais, por isso, constatamos que o turismo tem um papel primordial no desenvolvimento rural.

Sofia Ferreira

Referências bibliográficas:
·        Martins, C. I. M. (2012). Turismo rural e desenvolvimento sustentável: o papel da arquitectura vernacular (Doctoral dissertation, Universidade da Beira Interior).
·       Gomes, A. R. (2016). O turismo rural e o desenvolvimento da região centro (Doctoral dissertation).
·       Gonçalves, D. G. P. (2011). Turismo em espaço rural, hotel rural*****: aplicação no Parque Natural da Serra da Estrela-PNSE (Doctoral dissertation).

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

quinta-feira, abril 16, 2020

Turismo Ambiental: Ilha do Combu


Figura 1 – Baía entre a Ilha do Combu e a cidade de Belém (Acervo pessoal Aline Costa e Erick Batalha)

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. Seu território se estende por 9 países, sendo que 60% da sua extensão está no Brasil. Tendo em vista a diversidade da fauna e da flora, os habitantes da região amazônica viram nessa biodiversidade uma grande oportunidade para o turismo, como acontece no estado do Pará, na região norte do Brasil. Em frente à capital, Belém, existe um conjunto de ilhas nas quais recentemente foi percebido o potencial do turismo, um contraste moderno no qual basta atravessar uma baia para sair da selva de pedra para a selva real.

Figura 2 – Pratos típicos da culinária paraense.

(Fotos disponíveis em https://panoramadeviagem.com.br/saldosa-maloca-almoco-ilha-combu/. Acesso em mar. 2020)

Os ribeirinhos[1] da ilha do Combu construíram restaurantes em palafitas na margem do rio, nos quais oferecem o melhor da comida regional, entre essa oferta estão diversas opções de peixes e mariscos do rio amazonas, como os camarões empanados, e para sobremesa pode-se escolher brigadeiro, conhecido doce Brasileiro, ou até o verdadeiro açaí, fruto nativo da região que já ganhou o mundo..

Figura 3 e 4 – Pinturas de barcos e casas dos ribeirinhos

(Fotos disponíveis em https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303404-d8826462-i182318427-Restaurante_chale_da_Ilha_do_combu-Belem_State_of_Para.html e https://www.pinterest.com/pin/506443920580220931/. Acesso em mar. 2020)

Entretanto, os restaurante oferecem muito mais do que comidas da região. Oferecem também a experiência de se conectar com a natureza. Para entrar nessa aventura pelos afluente do rio amazonas, o primeiro passo é pegar um barco pra atravessar a Baía do Guajará, travessia que dura em mÉdia 20 minutos, até ao restaurante de sua escolha. Das diversas opções de restaurante, muitos são equipados com piscinas infantis, espaço de redario, de jogos, áreas para explorar na floresta através de trilhas construídas ao redor dos restaurantes ou só mesmo o prazer de relaxar nas águas do rio. O objetivo maior é dar a oportunidade aos turistas de se conectarem com a natureza, mesmo a poucos minutos da área metropolitana.

Figura 5, 6 e 7 – Instalações de recreação nas águas do rio.

(Acervo pessoal Aline Costa e Erick Batalha)

Num verdadeiro paraíso tropical, dos banhos de rio às trilhas na florestas, os restaurantes da Ilha do Combu funcionam de sexta a domingo. Entretanto, o restaurante chalé da Ilha está construindo a primeira estrutura de hotelaria que permitirá aos turistas mais da experiencia amazônica. Para saber mais informações sobre as atrações do restaurante ou até mesmo reservar espaços para grupos basta entrar em contato pelos números disponíveis nos seus sites.

Figura 8 e 9 – as belezas da natureza da Ilha do Combu.

(Fotos disponíveis em https://bloggiramundo.com/2016/11/10/ilha-do-combu-arte-gastronomia-natureza/ e https://www.facebook.com/pg/combuselva/posts/. Acesso em mar. 2020)

Lueli Hage



[1] Nome dado a quem mora próximo de rio ou ribeira.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

Turismo de Natureza: Parque Natural de Montesinho

A região de Trás-os-Montes distingue-se por diversas razões, que vão desde o fumeiro ao património natural, sendo este segundo o tema central do presente artigo de opinião.
O Parque Natural de Montesinho tem uma área protegida de 75 000 hectares, distribuídos pelas terras frias de Bragança e Vinhais, onde a extensa fauna e flora são protagonistas e onde, entre elas, se encontram o lobo ibérico, a águia-real e o javali, e por onde a nossa vista se perde num manto verde de pinheiros, freixos, carvalhos e castanheiros. Por entre a vegetação e a vida selvagem, nos planaltos e vales encontramos as povoações rurais, que são fundamentais para a valorização e preservação deste património.



Figura 1. Mapa do Parque Natural de Montesinho

O Parque Natural de Montesinho, gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, tem vindo a promover atividades culturais e desportivas de forma a dar reconhecimento às áreas preservadas. Entre estas estão inseridas o património cultural construído, como igrejas, pelourinhos, museus dedicados ao artesanato, o património imaterial, que engloba tradições ancestrais, como a Festa dos Rapazes, a Feira do Fumeiro de Vinhais, a música tradicional e o artesanato caraterístico de cada aldeia, as atividades desportivas, que incluem passeios de bicicleta e pedestres pelos trilhos sinalizados, percursos de escalada, rapel e slide, assim como canoagem nos rios que intercetam o parque. Importa também ter presente a parceria com alojamentos rurais locais, que representam a fonte de rendimento de algumas das populações aldeãs dos concelhos transmontanos.  
         As atividades acima mencionadas são essenciais para promover a região transmontana e o seu vasto património natural, que tem vindo a ser cada vez mais explorado, atraíndo, com maior incidência, os amantes da natureza e aqueles que procuram um refúgio na natureza.

Sara Beatriz Trancoso da Fonte

Referências:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

COVID-19: impactes turísticos e socioeconômicos em Portugal e no Brasil

Vivemos um momento de incertezas e dificuldades. O que vem a ser esta epidemia que nos assola desde o início do ano? O que é a COVID-19 ou, mais popularmente, o chamado coronavírus? Um vírus que só “ganha vida” quando entra em contato conosco. Um verdadeiro predador parasita que se não se alimentar da vida só sobrevive por poucas horas ou poucos dias em algumas superfícies, como plásticos, metais, entre outras.
Acredita-se que o vírus tenha-se manifestado através do morcego, aparentemente porque sua cadeia biológica foi atingida, talvez devido aos desmatamentos exacerbados e o descaso com as questões ambientais, fruto dos interesses de retroalimentação que somente um sistema predatório como o capitalista suscita. Com seus primeiros casos conhecidos na China, em Wuhan, na província de Hubei, se propagou rapidamente por todo o mundo, fazendo com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarasse, em 30 de janeiro de 2020, o estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPI).
Espalhou-se rapidamente por conta das facilidades do tráfego internacional, facilitado por conta das necessidades do sistema económico e do deslocamento de capital proporcionado pelas necessidades de viagens.

 Wuhan: primeiro foco da doença.
Fonte: https://i.insider.com/5e29d1b324306a61fb0cc3e7?width=1100&format=jpeg&auto=webp
Diante da atual situação, arrisco-me a uma polémica indagação: até que ponto o turismo pode contribuir para o aumento dos riscos pandémicos e até que ponto estaríamos preparados para enfrentá-los?
A pandemia provoca repercussões econômicas, tanto de natureza transescalar quanto de natureza intertemporal, gerando assim efeitos de transmissão que ressoam no espaço e no tempo de modo distinto, conforme o grau de sensibilidade e vulnerabilidade macroeconômica dos países e microeconômica das cadeias globais de produção e consumo.
As repercussões assimétricas de natureza transescalar acontecem à medida que todas as regiões do mundo são afetadas humanamente pelo surto. Isso provoca tensões nos mercados financeiros, com queda de ativos, e, em um segundo momento, impactes negativos na produção e no consumo ao longo das semanas, em função do desabastecimento das cadeias de distribuição de produtos vindos da China.
Outro aspeto que devemos considerar e que nos atingiu de uma maneira abrupta são as consequências psicológicas devido às mudanças repentinas de rotinas e privações necessárias, como, por exemplo, o impedimento de ter contatos sociais: trabalho e estudo, por exemplo. Profissionais da saúde, limpeza e os que trabalham diretamente no abastecimento alimentício acabam por assumir riscos em prol das populações, desempenhando papel fundamental, merecendo todo o nosso apoio e reconhecimento.
O governo Português tem-se mostrado comprometido, angariando fundos junto da União Europeia para impedir que as empresas iniciem um ciclo de demissões, o que só agravaria o cenário, além de regulamentar a residência dos estrangeiros que aguardam pelo seu visto junto do SEF, garantindo o direito ao sistema de saúde, caso necessário.
Portugal regulamenta a residência de estrangeiros no país devido ao COVID-19.
https://www.publico.pt/2018/11/03/sociedade/noticia/portugal-precisa-desesperadamente-imigrantes-combater-falta-mao-obra-1849788
Muitos países subestimaram o poder de letalidade do COVID-19, seja por interpretações ortodoxas e anacrónicas ou, por mero descuido, demoraram a aderir à quarentena. Infelizmente, muitos desses atrasos se relacionam com a importância do turismo para essas economias. Esse foi o caso da Itália, que se tornou rapidamente o epicentro do vírus na Europa.
Portugal foi um dos primeiros países a seguir os protocolos internacionais, mesmo com a importância da atividade turística e sua queda se dando a cada dia, corroborando as políticas de isolamento recomendadas. Acreditamos colher benefícios no futuro, pois mesmo com o grande número de casos, somos um dos países com os dados mais otimistas do continente na eficácia de controle da pandemia.
Hoje, os Estados Unidos se tornaram o maior epicentro da pandemia, podendo superar a Itália em número de mortes. Infelizmente, é mais um exemplo de país em que o governo insistiu em negligenciar os dados da OMS, ou seja, o isolamento social como principal medida de controle.
Devido à proximidade entre nossos povos, o Brasil é outro país que merece preocupação. A clara inabilidade do presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, assim como problemas estruturais graves, como a nebulosidade dos dados sobre a pandemia devido à defasagem do número de testes, faz-nos acreditar que o número de pessoas infetadas seja superior aos números divulgados. Os governadores dos estados entraram em rota de colisão com o presidente e vêm tentando ao máximo combater a pandemia de acordo com os protocolos da OMS.
Para piorar a situação brasileira, o isolamento social é dificultado porque, desde 2016, houve uma reforma na legislação trabalhista de caráter neoliberal que resultou na precarização do trabalho, aumentando a informalidade e diminuindo benefícios. Isso faz com que muitos trabalhadores se neguem a parar suas atividades, pois não possuem nenhum tipo de segurança social. Hoje, por pressão, o governo brasileiro diz que vai liberar um fundo de ajuda às famílias mais necessitadas. Esperamos que isso se torne realidade em breve.
Com uma taxa estratosférica de mais de 12% da população brasileira desempregada, setores como o turismo são diretamente atingidos. Em Portugal, o turismo também sofreu a queda com o fechamento dos aeroportos e fronteiras, modificando o planejamento das viagens e solapando as agências turísticas de forma inesperada, aumentando a crise económica.
A imprevisibilidade parece ser o conceito mais importante que aprendemos, com duras penas, como nesses últimos dias. Mutações e reações adversas, de indivíduo para indivíduo, remetem-nos para a importante reflexão a respeito das vidas que se foram e das que estão em risco, remetendo-nos para uma frase de Milton Santos (1926-2001), importante geógrafo brasileiro:
“Cabe a nós fazer dessas condições materiais a condição material da produção de uma outra política.”

Karen Cristina Galletto

Referências:
LAI, K. K. R.; WU, J.; HARRIS, R.; McCANN, A.; WATKINS, D.; PATEL, J. K. “Coronavirus Map: Tracking the Spread of the Outbreak”. New York Times [27/02/2020].
Site de Organização Mundial da Saúde -  https://www.who.int/eportuguese/publications/pt/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)