domingo, março 21, 2021

A Influência do Veganismo no Contexto Turístico

A adoção do veganismo – um estilo de vida que exclui de forma completa qualquer tipo de produto de origem animal – tem experienciado um crescimento notável, procurado por indivíduos que, por diversas razões, decidem aventurar-se neste caminho. Ao contrário do que muitos acreditam, no entanto, o veganismo vai para além da alimentação, influenciando o dia-a-dia de quem o pratica também ao nível do vestuário, cosméticos e entretimento. Assim, não é nenhuma surpresa que o veganismo afete também a forma como as pessoas praticam turismo.

Planear uma viagem é uma tarefa que requer uma enorme capacidade de organização e preparação, ainda mais limitada quando se adiciona a questão do veganismo. Com o intuito de melhor servir estas necessidades, cada vez mais empresas relacionadas com o turismo prestam atenção aos turistas vegan e surgem mais agências de viagens especializadas no veganismo, que planeiam roteiros focados na gastronomia vegan, bem como passeios sustentáveis. Para quem prefere a independência do planeamento, também o pode fazer, graças ao desenvolvimento dos meios digitais que impulsionam o crescimento do número de sites dedicados a viagens vegan (para encontrar alojamento, restaurante e roteiro de atividades mais adequados).

Além disso, mais companhias áreas têm o cuidado de oferecer opções de refeição vegan a bordo, e vários locais de alojamento procuram fazer com que a estadia nos mesmos seja o mais agradável possível para estes turistas. Entre estes, destaca-se o Hilton London Hotel, que adotou diversas alternativas sustentáveis numa das suas suites, incluindo cartões-chave vegetais, carpetes de algodão ecológico, e material de escritório totalmente desprovido de vestígios animal. A roupa de cama, os produtos de limpeza, e as cabeceiras das camas (tipicamente fabricadas a partir de couro) são outros detalhes tidos em atenção.

O turismo vegan permite que os turistas que seguem este estilo de vida consigam desfrutar das suas viagens sem qualquer receio, tornando a cultura de outros países mais acessível, de forma que seja possível desfrutar igualmente da experiência.

De forma a cativar visitantes e turistas, muitos locais promovem atividades como festivais vegan, como é o caso do Viseu Vegan Fest, que inclui workshops (de detergentes e cosmética natural), exibição de documentários, venda de roupa sustentável, e gastronomia típica. Outro aspeto do turismo vegan é o acesso limitado a ambientes naturais, o que possibilita o bem-estar, tanto do turista como dos habitantes locais. Alguns exemplos de atividades incentivadas são visitas a vinhas cultivadas de forma biodinâmica e fazendas de agricultura orgânica, participação em excursões, aprendizagens culinárias com plantas nativas, e passeios em prol da dinamização do comércio local.

O turismo vegan é maioritariamente adotado por indivíduos vegan, independentemente de o serem há pouco tempo ou não, pessoas vegetarianas em processo de transição, pessoas meramente curiosas com este estilo de vida, e ainda pessoas que demonstram uma enorme preocupação com o meio ambiente, já que alguns estudos internacionais revelaram que o setor turístico é responsável por cerca de 6% do total das emissões globais de CO2, e que, num estudo a 21 500 pessoas de todo o mundo que tinham feito uma viagem ou planeavam viajar nos próximos 12 meses, 86% afirmavam estar abertos a optar por atividades de turismo sustentável (como referido em Estevão, 2021), com o qual o turismo vegan está relacionado. Acima de tudo, estes turistas procuram fazer uma viagem que lhes possibilite uma alimentação mais saudável, que permita a diminuição da sua pegada ecológica, e que lhes proponha uma experiência ética e responsável para com o bem-estar animal.

Em Portugal, denota-se também um aumento na procura pelo turismo vegan, uma vez que, para além dos próprios portugueses que aderem a este estilo de vida, Portugal recebe muitos turistas que procuram esta alternativa. As localidades portuguesas consideradas mais vegan-friendly são Lisboa, Porto e Funchal, sendo que Lisboa é ainda uma das mais aptas ao turismo vegan da Europa, contando com inúmeros restaurantes vegan e vegetarianos, e promovendo eventos como o Veggie World, Veganário e Veggie Vibes. Como não poderia faltar, foi também adaptada a receita do típico Pastel de Belém, de forma a acomodar as restrições vegan. O Porto, por sua vez, conta com a versão vegan da Francesinha, o evento Veggie Fest, e a criação de um mapa turístico, intitulado Veg & Go, que facilita a localização dos espaços vegan. Assim como muitos países à volta do mundo, Portugal compreende a necessidade de adotar alternativas vegan-friendly, de forma a melhor acomodar os turistas que visitam o país.

 

Marta Sofia Fernandes Maia da Costa

 

Referências Bibliográficas

·       Almeida, H. (17 de julho de 2019). Turismo Vegano: Como Funciona? Obtido de Veg Mag: https://vegmag.com.br/blogs/meio-ambiente/turismo-vegano-como-e-isso, acedido em 17/03/2021

·       Curado, S. (18 de abril de 2019). Estas são as localidades mais vegan-friendly de Portugal. Obtido de NIT: https://www.nit.pt/fora-de-casa/na-cidade/estas-sao-as-cidades-mais-vegan-friendly-de-portugal, acedido em 17/03/2021

·       Estevão, J. D. (4 de fevereiro de 2021). Turismo sustentável – 20 formas de preservar o ambiente quando viaja. Obtido de Lugares Incertos: https://www.lugaresincertos.com/dicas-viagem/turismo-sustentavel-ambiente-viajar/, acedido em 17/03/2021

·       Gonçalves, N. F. (s.d.). Turismo Vegano. Obtido de Vegan Business: https://veganbusiness.com.br/turismo-vegano/, acedido em 17/03/2021

·       Turismo Vegan: Um Fenómeno Em Ascensão! (13 de agosto de 2019). Obtido de Associação Vegetariana Portuguesa: https://www.avp.org.pt/turismo-vegan-em-ascensao/, acedido em 17/03/2021

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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