Há
alguns dias, a EDP fechou a venda de um conjunto de barragens a uma companhia
francesa, a Engie. Entre as barragens vendidas está a barragem do Tua, barragem
essa que esteve sempre envolta em enorme polémica desde a sua construção devido
à sua localização, que exigiria para a sua construção a destruição de parte de
um troço com cerca de 16km bem como de um conjunto de infraestruturas com
elevado valor patrimonial, cuja construção remonta ao século XIX. Estando
inserida numa zona já por si com elevado valor, a construção desta barragem foi
feita em plena zona protegida do Alto Douro Vinhateiro, zona esta considerado
pela UNESCO como património mundial.
Em
contexto de uma aula de património industrial com o professor Lopes Cordeiro,
foram levantados alguns pontos que eu depois fui analisar a fundo, nomeadamente
no que concerne às contrapartidas devidas pela construção neste local de enorme
valor patrimonial, contrapartidas estas realizadas a conta-gotas e entregues a
um operador turístico que ficaria responsável pela construção e manutenção do
traçado remanescente. Estas contrapartidas deveriam beneficiar a população
afetada pela construção da barragem.
Ora,
seria de esperar que a construção desta barragem numa zona protegida pela
UNESCO seria uma clara mais-valia para a produção elétrica, no entanto e após
alguns estudos é possível constatar que a barragem apenas contribui com cerca
de 0,1% da energia nacional, com um custo entre 5 e 10 vezes superior às
restantes alternativas disponíveis (dados recolhidos pela GEOTA em 2015). Será
então importante analisar se o impacte da construção desta barragem na produção
de energia a nível nacional justificaria os sacrifícios sociais, ambientais, culturais
e económicos a ela associados e os 370 milhões lá investidos.
Concluindo:
agora, o que pretendo com este breve comentário será questionar se Portugal
benefíciou assim tanto da construção desta barragem que justificasse o
alagamento daquela zona e a sua posterior venda? Será a valorização do nosso
património industrial e ambiental assim de tão pouco valor que justificasse a
construção de uma barragem de valor produtivo residual? Convém recordar a propósito
desta temática que havia planos iniciais para a construção de uma barragem na
região do Vale do Côa, que como bem sabemos também é uma zona com elevado valor
patrimonial e arqueológico e que só com muito trabalho de campo foi impedida a
sua construção.
É
importante então que estas questões sejam mais bem trabalhadas, que o nosso
património seja mais bem tratado e que só com uma necessidade imperiosa e com
uma clara mais-valia obras deste género sejam permitidas. Espero sinceramente
que a concessão da exploração das linhas remanescentes bem como a exploração do
rio por parte da empresa dona da Douro Azul e responsável pela recém criada
“Tua - Emoções fortes” constitua uma mais-valia para zona de inquestionável
beleza e que a mesma possa extrair todo o seu potencial do ponto de vista turístico
num claro respeito pelo meio envolvente e pelo seu passado.
Carlos Queirós
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