O mercado de habitação é um dos mercados que mais movimenta dinheiro em Portugal, contudo, este está em constante mudança pois é influenciado por várias variantes, como, por exemplo:
ü A
capacidade de compra e os rendimentos obtidos, que estão diretamente
relacionados com o crescimento ou queda da economia do país;
ü Distância
de implantação à cidade ou aos centros de serviços/negócios;
ü Tipo
e dimensão da habitação;
ü E,
na minha opinião, outra vertente que está também diretamente ligada é a
percentagem de turismo que a cidade ou zona atrai.
Como
vimos, o mercado de habitação é muito mais que compra e venda de imóveis. Este,
possui inúmeras variantes e também tem influência em outros assuntos. Desta
forma, coloco a questão:
Em
que medida é que o mercado de habitação influencia a estruturação de uma cidade?
Focando
a cidade do Porto, vemos como é um bom exemplo referente à aplicação das variantes
no mercado de habitação. Tem como destaque a distância ao centro da cidade e a
zona da cidade que possui mais turismo. Estas dimensões são as que mais
influenciam o preço das habitações na cidade do Porto. Mas nem sempre foi
assim. Esta, ao longo dos anos, sofreu uma alteração na sua estruturação e desenho
da cidade.
A
cidade do Porto sempre foi o grande centro de negócios e serviços da zona
norte, contudo, devido à sua importância e à grande industrialização das
décadas passadas, tornou-se numa cidade sobrelotada e com um grande número de
habitantes na pobreza. “O Porto é a cidade do
país com mais bairros sociais. Nestes aglomerados habitacionais vive 20% da
população portuense. Já as chamadas ilhas
são compostas por 1300 casas, albergando sobretudo pessoas que precisam de
viver na cidade, mas têm dificuldades financeiras. A evolução dos bairros
sociais do Porto divide-se em marcos
relativos à história política que influenciaram as escolhas
habitacionais. Em 1956 acaba por ser um marco fundamental, pois, no quadro
do ‘programa de melhoramentos para a cidade do Porto, foram edificados os
grandes bairros sociais que hoje conhecemos. Foi nesta altura que os habitantes das ilhas da área central
foram transferidos para os bairros
construídos na periferia da cidade”*.
Mas qual terá sido o propósito da construção de novos bairros
e o realojamento dos habitantes com dificuldades financeiras na periferia da
cidade?
A partir dos anos 50/60, a cidade do porto ganhava cada vez
mais importância não só com o grande número de serviços mas também
politicamente e economicamente e foi desta forma que surgiu o programa de
melhoramento da cidade. Este programa, dentro dos seus objetivos, teve um propósito
de construção de novos bairros, contudo localizados longe do centro da cidade. Esta
foi uma das formas de retirar do centro a população mais pobre e adquirir
terrenos, edifícios, casas que eram habitados por estes, mas que possuíam uma
boa localização. Com esta nova importância que a cidade do Porto ganhara, as
zonas onde os mais desfavorecidos viviam começaram a ganhar mais valor. Foi
desta forma necessária ação de modo a tirar o maior lucro das zonas centrais.
Como vimos, a construção destes bairros não teve como objetivo principal a
melhoria da qualidade de vida dos habitantes, mas sim o maior lucro e
benefícios que a Câmara poderia adquirir/obter.
Mais tarde, vimos novamente este processo acontecer. Com o
crescimento e valorização do centro da cidade houve necessidade de novamente
realojar os habitantes da zona da ribeira. A zona da ribeira nem sempre foi o
que agora vemos. Esta era uma das zonas mais pobres da cidade do Porto, os
edifícios possuíam casas pequenas e sem condições mínimas, onde por vezes essas
pequenas habitações possuíam um agregado familiar maior do que a casa poderia
suportar. Com as alterações da cidade do Porto, a zona da ribeira ganhou cada
vez mais valor e novamente a classe social elevada, pensando no poder monetário
que poderia ganhar, ofereceu um valor simbólico pelas casas da ribeira, levando
estes habitantes a procurarem habitações na periferia pois o valor económico
das casas no centro da cidade teria aumentado significativamente.
Com a virada do século, a variante do turismo fez com que o
poder económico e a importância da cidade do Porto aumentasse e, consequentemente,
o mercado de habitação.
No meu ponto de vista, o mercado de habitação influencia a
estruturação da cidade. Poderá não ser o principal influenciador, contudo, vemos
que o poder económico referente aos terrenos, edifícios e casas marcou
significativamente o programa de melhoramentos para a cidade do Porto e a
localização da construção dos bairros ou realojamento dos habitantes com menos
poder económico.
Silvana
Manuela Ribeiro Dias
Bibliografia
* https://www.jpn.up.pt/2010/08/14/bairros-do-porto-espelhos-sociais-do-passado-e-presente-da-cidade/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)
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