Com o elevado aumento do turismo que pudemos ver em Portugal, assistimos também a uma maior oferta e diversificação do alojamento. Entre estas ofertas, quero destacar o alojamento local.
Esta
modalidade, que começou por ser apenas uma maneira de pessoas com quartos
extras ganharem algum rendimento extra enquanto inseriam as pessoas na cultura
local, transformou-se num negócio em que imoveis são alugados na sua totalidade
e que contribui para a inflação do mercado imobiliário e a consequente
gentrificação dos locais mais procurados.
Esta
oferta cria uma alternativa frequentemente mais em conta e com uma certa independência
quando comparada com a hotelaria tradicional. É também uma experiência de certa
forma mais comunitária, que tem benefícios, como a possível inserção na cultura
local e, por outro lado, a possibilidade de conhecer novas pessoas de
diferentes lugares e novas perspetivas e interesses.
Apesar
deste benefício, o alojamento local é também causa de gentrificação. Este fenómeno
significa uma perda de autenticidade, através da perda de pessoas e,
consequentemente, de tradições. Isto acaba por ir contra o objetivo pois ao
tentar oferecer uma experiência mais autêntica aos visitantes retira-se a
autenticidade do local.
A
inflação dos preços imobiliários é, para alem da principal razão da
gentrificação, também uma desvantagem para os estudantes que têm de arranjar
habitação durante o ano letivo e têm assim menos e mais caras possibilidades,
pois o alojamento local acaba por ser mais lucrativo para o dono do imóvel.
Esta
situação levou a que tenha sido criada em algumas cidades mais afetadas
legislação de modo a controlar este tipo de alojamento. Em Portugal, podemos
falar do exemplo lisboeta, em que a legislação foi alterada através da implementação
de um conjunto de políticas públicas urbanísticas de modo a evitar as
desvantagens provenientes da existência desta oferta em excesso.
O
aparecimento da pandemia onde nos encontramos afetou enormemente o turismo e,
consequentemente, levou a uma crise no setor do alojamento, incluindo o
alojamento local. Para ajudar a combater este declínio, o Turismo de Portugal
criou o selo Clean&Safe, que pode ser adquirido através de formações para várias
atividades, incluindo o alojamento local.
Esta
medida, apesar de fornecer uma distinção e garantia de qualidade, não é
suficiente para a recuperação do setor pois as fronteiras constantemente
fechadas e o confinamento que estamos a viver impede a utilização deste
serviço.
Esta
pandemia e as suas consequências nos setores da hotelaria provavelmente criarão
a necessidade de uma nova perspetiva e utilização dos imóveis de modo a evitar
o tipo de avultados prejuízos que se verificam. Podemos assim neste momento verificar
uma tendência inversa àquela que tem sido vista nos últimos anos no mercado
imobiliário, pois podemos ver agora uma estagnação ou até mesmo contração do
mesmo.
Podemos
assim concluir que, apesar de existirem benefícios associados a este tipo de
alojamento, como a acessibilidade e a partilha de culturas, existem também
desvantagens ligadas à consequente inflação imobiliária. Podemos concluir
também que, apesar de começar a existir legislação para controlar esta oferta
específica, estarão sempre a aparecer mais e é necessário um maior controlo e
regulamentação de modo a evitar casos extremos, como pudemos ver em alguns
locais mais turísticos. Considero, deste modo, que a existência de alojamento
local não é necessariamente algo desvantajoso desde que seja devidamente
controlado, pois a maioria dos pontos negativos que advêm do mesmo são
consequências de inflação imobiliária.
Mariana Antunes
(Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e
Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património
Cultural, do ICS/UMinho)
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