quarta-feira, março 24, 2021

Alojamento Local

Com o elevado aumento do turismo que pudemos ver em Portugal, assistimos também a uma maior oferta e diversificação do alojamento. Entre estas ofertas, quero destacar o alojamento local.

Esta modalidade, que começou por ser apenas uma maneira de pessoas com quartos extras ganharem algum rendimento extra enquanto inseriam as pessoas na cultura local, transformou-se num negócio em que imoveis são alugados na sua totalidade e que contribui para a inflação do mercado imobiliário e a consequente gentrificação dos locais mais procurados.

Esta oferta cria uma alternativa frequentemente mais em conta e com uma certa independência quando comparada com a hotelaria tradicional. É também uma experiência de certa forma mais comunitária, que tem benefícios, como a possível inserção na cultura local e, por outro lado, a possibilidade de conhecer novas pessoas de diferentes lugares e novas perspetivas e interesses.

Apesar deste benefício, o alojamento local é também causa de gentrificação. Este fenómeno significa uma perda de autenticidade, através da perda de pessoas e, consequentemente, de tradições. Isto acaba por ir contra o objetivo pois ao tentar oferecer uma experiência mais autêntica aos visitantes retira-se a autenticidade do local.

A inflação dos preços imobiliários é, para alem da principal razão da gentrificação, também uma desvantagem para os estudantes que têm de arranjar habitação durante o ano letivo e têm assim menos e mais caras possibilidades, pois o alojamento local acaba por ser mais lucrativo para o dono do imóvel.

Esta situação levou a que tenha sido criada em algumas cidades mais afetadas legislação de modo a controlar este tipo de alojamento. Em Portugal, podemos falar do exemplo lisboeta, em que a legislação foi alterada através da implementação de um conjunto de políticas públicas urbanísticas de modo a evitar as desvantagens provenientes da existência desta oferta em excesso.

O aparecimento da pandemia onde nos encontramos afetou enormemente o turismo e, consequentemente, levou a uma crise no setor do alojamento, incluindo o alojamento local. Para ajudar a combater este declínio, o Turismo de Portugal criou o selo Clean&Safe, que pode ser adquirido através de formações para várias atividades, incluindo o alojamento local.

Esta medida, apesar de fornecer uma distinção e garantia de qualidade, não é suficiente para a recuperação do setor pois as fronteiras constantemente fechadas e o confinamento que estamos a viver impede a utilização deste serviço.

Esta pandemia e as suas consequências nos setores da hotelaria provavelmente criarão a necessidade de uma nova perspetiva e utilização dos imóveis de modo a evitar o tipo de avultados prejuízos que se verificam. Podemos assim neste momento verificar uma tendência inversa àquela que tem sido vista nos últimos anos no mercado imobiliário, pois podemos ver agora uma estagnação ou até mesmo contração do mesmo.

Podemos assim concluir que, apesar de existirem benefícios associados a este tipo de alojamento, como a acessibilidade e a partilha de culturas, existem também desvantagens ligadas à consequente inflação imobiliária. Podemos concluir também que, apesar de começar a existir legislação para controlar esta oferta específica, estarão sempre a aparecer mais e é necessário um maior controlo e regulamentação de modo a evitar casos extremos, como pudemos ver em alguns locais mais turísticos. Considero, deste modo, que a existência de alojamento local não é necessariamente algo desvantajoso desde que seja devidamente controlado, pois a maioria dos pontos negativos que advêm do mesmo são consequências de inflação imobiliária.

 

Mariana Antunes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Sem comentários: