A PROCURA TURÍSTICA DAS LEVADAS DA ILHA DA MADEIRA

Passado das Levadas

Ao longo dos últimos anos, as levadas madeirenses têm vindo a afirmar não só apenas o seu valor patrimonial mas, também, o seu valor turístico, que é um dos grandes fatores de atração por quem passa pela Ilha da Madeira.

Como o nome indica, “levada” deriva da palavra “levar”, que neste caso representa o transporte de água, que, através destes mini-canais, tornou possível a partir do século XV o transporte de água desde as regiões norte da ilha, que por norma são mais chuvosas, para a zona sul da ilha, onde predominavam as culturas de bananas, açúcar e também uvas. Sendo estas sempre relacionadas com a exploração dos campos agrícolas desde o povoamento da ilha, estas foram construídas por iniciativa privada até à chegada do século XIX, que devido às dificuldades económicas sentidas neste século, principalmente com a crise da produção vinícola, incentivou o governo português a construir as chamadas “levadas do Estado”. Finalmente, na década de 1940, é criada a Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, que teve o intuito de desenvolver uma construção sem precedentes no que toca à exploração de água, não só para a produção agrícola mas também de energia elétrica.

Nos dias de hoje, podemos encontrar levadas particulares e públicas, sendo estas últimas as de maior extensão e com maior caudal, no entanto, das cerca de 292 levadas existentes, é importante mencionar que 172 são particulares.

Levada do Rei

Turistificação das Levadas

O turismo representa uma das maiores atividades económicas para a Madeira, não sendo esta exceção de muitos outros locais. Situada em pleno Atlântico, esta sempre foi apreciada como destino turístico, principalmente ao longo dos últimos quatro séculos, o que levou a uma mudança na ilha para que se adaptasse ao mesmo. Apesar de as levadas terem surgido como uma necessidade para os habitantes da ilha, depressa se deu a turistificação das mesmas, que outrora apenas serviam para a simples função do transporte de água.

Evidentemente, os elementos naturais que podemos encontrar na ilha representam na sua origem o grande fator de atração, levando a que os recursos naturais promovam um movimento turístico que pode ser desfrutado através de levadas e veredas, representando assim o clima, a paisagem e a natureza da ilha de uma forma contemplativa. Este produto turístico emergente apela a uma tipologia muito específica de mercado, completando o produto dominante, que é o turismo de paisagem e excursões, trazendo uma diversificação e diferenciação ao que está associado a turismo de natureza e paisagem e a património cultural.

Para o povo madeirense, as levadas podem ser consideradas um exemplo de um monumento vivo da cultura da ilha. São o perfeito exemplo de como a intervenção humana foi possível sem que fossem causados problemas ao ecossistema natural, e que contribuíram, na verdade, para a possibilidade da agricultura na ilha.

Embora a Região Autónoma da Madeira disponha de muitos outros recursos de natureza histórica, cultural e até arquitetónica, a maioria dos turistas parece demonstrar uma preferência por uma experiência turística que envolva os moldes atuais adotados pela RAM. As motivações-chave e mais relevantes para quem visita a ilha focam-se evidentemente na beleza da paisagem, e da possibilidade de uma dinamização do bem-estar pessoal, representando assim o percurso das levadas uma excelente forma de usufruir do melhor que a natureza tem para oferecer, através de percursos únicos que permitem desfrutar da paisagem de uma forma única, que não está presente em mais nenhum lugar.

É necessário que a RAM continue a fazer uma aposta na revalorização do fator natureza/paisagem, sempre de uma forma eficiente e sustentável, como tem feito até agora, dado que se trata do único elemento extremamente abundante e que torna passível uma interligação com os diversos elementos da história da ilha. As ofertas variadas e a contextualização e inovação que circundam a temática da paisagem natural devem ser vistas como um veículo para oferecer experiências diversificadas e inovadoras que atribuam uma imagem ao destino e reforcem a probabilidade da fidelização do destino.

Para realçar e dar a conhecer ao mundo as Levadas da Ilha da Madeira ao mundo, o governo regional tem tentado nos últimos anos formular uma candidatura das mesmas a Património da UNESCO.

TOMÁS ORNELAS

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)