quarta-feira, março 24, 2021

O Turismo e o seu impacte no Património Cultural

Existe uma forte ligação entre o Turismo e o Património Cultural. A inserção da atividade turística tem de ser realizada num espaço que apresente certas caraterísticas que possam ser transformadas em recursos ou atrativos para a atividade. Estes podem ser naturais ou artificiais, inserindo-se no património cultural de uma região/país.

Por um lado, nota-se que o património cultural é de extrema utilidade para a atividade turística, quando se observa o crescimento de demandas nacionais e internacionais interessadas em conhecerem o legado cultural dos destinos turísticos; por outro lado, o turismo é um grande impulsionador da preservação do património pois a sustentabilidade de uma região não depende apenas da comunidade residente mas, também, dos turistas, que têm o seu papel a desempenhar no desenvolvimento sustentável, visando a minimização dos impactes ecológicos, e promovendo benefícios para a comunidade.

Apesar deste papel mútuo entre os dois, muitas vezes o turismo é percebido como uma atividade negativa no que diz respeito à conservação do património, devido aos danos ambientais e culturais que pode causar, como por exemplo o desgaste inevitável de um local/monumento devido ao número de visitantes. É pois aqui que entra o conceito de turismo sustentável, como forma de encontrar medidas que atuem nessas partes negativas.

A Organização Mundial de Turismo (OMT) adotou este conceito em todos os estudos de planeamento e desenvolvimento turístico. Neste sentido, definiu turismo sustentável como aquele que “atende às necessidades dos turistas de hoje e das regiões recetoras, ao mesmo tempo que protege e amplia as oportunidades para o futuro. É visto como um condutor ao gerenciamento de todos os recursos, de tal forma que as necessidades económicas, sociais e estéticas possam ser satisfeitas sem desprezar a manutenção da integridade cultural, dos processos ecológicos essenciais, da diversidade biológica e dos sistemas que garantem a vida” (NETZ, 2003: 24).

Para o turismo sustentável ter no seu desenvolvimento a garantia de que os recursos de que depende se mantêm ou se valorizam, é preciso ter em conta três princípios fundamentais de sustentabilidade:

A sustentabilidade ecológica, que garante que o plano de desenvolvimento em análise é compatível com a conservação dos processos biológicos indispensáveis, a biodiversidade e os recursos biológicos;

A sustentabilidade social e cultural, que assegura que o desenvolvimento aumenta o controlo das pessoas sobre os seus próprios destinos;

 A sustentabilidade económica, que assegura o desenvolvimento economicamente eficaz, garantindo a utilização dos recursos pelas gerações futuras.

Uma vez que a atividade turística respeite estes três princípios, a mesma pode ser uma mais-valia para a preservação do património cultural.

É de conhecimento geral que o fator que mais impulsiona a atividade turística é a curiosidade em conhecer novos lugares e culturas diferentes, mas é necessário reconhecer que, nos dias de hoje, o turista não procura apenas observar os monumentos de determinado local, mas sim saber a história por de trás do mesmo, o que levou à sua criação, qual foi a sua utilidade e qual é o seu papel no presente. É então nesta relação entre turista e património cultural que o passado é revivido, aproximando assim as pessoas de países e culturas diferentes e tornando o turismo numa indústria cada vez maior.

 À medida que esta atividade vai crescendo, o património cultural passa a ter um papel cada vez mais importante e é neste contexto que se dá início à educação patrimonial, com o objetivo de interpretar, preservar e valorizar o mesmo, de forma a conservar os elementos históricos de determinada região. Sem o turismo, o património não seria tão abordado e grande parte da população não teria conhecimento da importância do mesmo.

À medida que a população local assiste à chegada de estrangeiros que têm como intenção contemplar os seus monumentos e lugares naturais, vão-se apercebendo que, de facto, têm algo de valor e começam mesmo por se envolver em programas de proteção dessas áreas, bem como projetos para promover os destinos junto dos visitantes, de modo a criar empregos nas regiões. A utilização turística dos bens culturais equivale à sua valorização, promoção e conservação, mantendo os locais em bom estado para as próximas gerações.

É então possível afirmar que o turismo, uma vez que seja bem praticado, possui inúmeras vantagens para a conservação do património cultural. Por outro lado, não há turismo sem património e, por isso, é do interesse de todos que se preserve o mesmo de forma a chamar visitantes que possam desenvolver os locais, através da criação de empregos, por exemplo. Estes dois estão, portanto, interligados e dependentes um do outro, tornando-os fatores indispensáveis para o seu sucesso.


Sofia Marques

Referências

Gislon, J. (10 de 10 de 2015). Arquitetura. História. Património. Turismo e o Patrimônio Cultural: uma relação construída para interpretar, valorizar e preservar. Obtido de https://arquiteturahistoriaepatrimonio.wordpress.com/2015/10/10/turismo-e-o-patrimonio-cultural-uma-relacao-construida-para-interpretar-valorizar-e-preservar/

Matos, A. (2016). O papel do turista na conservação do património cultural e natural: Diagnóstico da predisposição do turista para se associar à Associação dos Amigos do Parque Nacional da Tijuca. Coimbra.

Silva, R. (2013). TURISMO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO. Obtido de https://www.eumed.net/rev/turydes/15/valorizazao-patrimonio.html

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho) 

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