segunda-feira, março 22, 2021

O TURISMO E O MUNDO PÓS-COVID: UMA REFLEXÃO

       O processo de desconfinamento pelo qual estamos a passar mais uma vez faz emergir reflexões acerca do futuro próximo. Como será o mundo pós-covid-19? Como ficaremos após uma estrutura biológica aparentemente tão simples, como um vírus, ter estado a ceifar tantas vidas no mundo e colacar economias em crise?

A vacina torna-se uma luz no fim de um túnel que cada vez se estende mais ao longo de 2021. Enquanto ficamos a esperar o tão aguardado fim, um ano já se passou no meio de confinamentos, redução drástica da mobilidade, distanciamento social, abertura e fecho de lojas e do comércio, em geral, além de uma série de normas de higiene e segurança que transformaram atividades banais, como uma simples caminhada, em algo complexo e, até mesmo, perigoso.

Nesse contexto pandémico, como pensar o turismo? Não apenas em tempo de pandemia, mas pó-crise sanitária? A atividade, tão importante para dinamizar a economia de vários países do mundo, passou por uma queda drástica não só em função das novas regras estabelecidas pela medicina, mas da redução da mobilidade a nível mundial, com o encerramento das fronteiras terrestres e aéreas para controlo do vírus.

A título de exemplo, podemos pensar no caso de Portugal. Ao longo da última década, o turismo ganhou papel predominante, criando uma forte dependência do país da receita turística. O setor estava em crescimento até ao início da COVID-19, quando somente no ano de 2020 sofreu uma perda superior a 17 milhões de turistas, de acordo com o INE. As perdas refletem a fala do presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, em entrevista concedida à seção de economia do jornal O Sapo (22/01/2021), no qual afirma que o setor de turismo foi um dos mais prejudicados de todos, com empresas que não conseguirão sobreviver e outras que estão com sua “tesouraria num estado dramático”. Nesse sentido, vem sendo discutido o uso de boa parte do fundo de recuperação europeia contra a COVID-19 no setor turístico, pois, de acordo com Luís Pedro Martins, quando este setor se recupera leva a reboque outros.

Entretanto, passando ao largo da questão económica propriamente dita, pensemos na oferta turística, pois esse setor, por ser um produto compósito, necessita de uma multiplicidade de atividades e agentes para se desenvolver. A crise sanitária pela qual estamos passando força uma revisão de tudo o que foi feito até agora. Os especialistas apontam uma retoma por meio da promoção do turismo local, com viagens domésticas e regionais que promovam a sustentabilidade. Os destinos vinculados à natureza vêm ao encontro desse novo momento, bem como a busca de destinos mais seguros e sítios menos conhecidos. Assim, o setor vai se redesenhando com base nas novas necessidades, exigências e novos perfis de consumidores.

Na esteira desse pensamento, temos ainda o turismo dos grandes centros urbanos que anteriormente à covid-19 estavam passando por um processo de massificação e debate envolvendo o desdobramento disso. Tais destinos, em um mundo pós-pandemia, serão ainda atrativos? Ou melhor, poderão comportar esse grande número de turistas? Repensar a sua dinâmica seria a melhor solução e, de acordo com a matéria veiculada pelo jornal Expresso em 25 de novembro de 2020, isso já está a acontecer. Mesmo com a crise económica, algumas cidades já estão buscando soluções que estão vinculadas ao controlo do número de visitantes e criação de rotas alternativas em sítios próximos. Dessa forma, a cidade mantem o turista por mais uma noite, reduzindo o volume total de visitantes, desafoga o centro histórico e equipamentos culturais e promove o desenvolvimento de lugares próximos que antes não eram atrativos.  

A recuperação dos destinos turísticos já existentes, bem com a criação de novos deverá vir acompanhada de um sólido projeto que envolva a iniciativa pública, privada e, principalmente, a população local. Pensar no turismo em um mundo pós-covid é saber que as necessidades e os desafios poderão ser diferentes, cabendo ao setor pensar soluções que estejam de acordo com essa nova realidade.

 

Ana Carolina Viana Guimarães

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

1 comentário:

Unknown disse...

Muito obrigado pela reflexão.
Tenho só uma questão; é Brasileira?