O processo de desconfinamento pelo qual estamos a passar mais uma vez faz emergir reflexões acerca do futuro próximo. Como será o mundo pós-covid-19? Como ficaremos após uma estrutura biológica aparentemente tão simples, como um vírus, ter estado a ceifar tantas vidas no mundo e colacar economias em crise?
A
vacina torna-se uma luz no fim de um túnel que cada vez se estende mais ao
longo de 2021. Enquanto ficamos a esperar o tão aguardado fim, um ano já se
passou no meio de confinamentos, redução drástica da mobilidade, distanciamento
social, abertura e fecho de lojas e do comércio, em geral, além de uma série de
normas de higiene e segurança que transformaram atividades banais, como uma
simples caminhada, em algo complexo e, até mesmo, perigoso.
Nesse
contexto pandémico, como pensar o turismo? Não apenas em tempo de pandemia, mas
pó-crise sanitária? A atividade, tão importante para dinamizar a economia de
vários países do mundo, passou por uma queda drástica não só em função das
novas regras estabelecidas pela medicina, mas da redução da mobilidade a nível
mundial, com o encerramento das fronteiras terrestres e aéreas para controlo do
vírus.
A
título de exemplo, podemos pensar no caso de Portugal. Ao longo da última
década, o turismo ganhou papel predominante, criando uma forte dependência do
país da receita turística. O setor estava em crescimento até ao início da
COVID-19, quando somente no ano de 2020 sofreu uma perda superior a 17 milhões
de turistas, de acordo com o INE. As perdas refletem a fala do presidente da
Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, em entrevista concedida
à seção de economia do jornal O Sapo (22/01/2021), no qual afirma que o setor
de turismo foi um dos mais prejudicados de todos, com empresas que não
conseguirão sobreviver e outras que estão com sua “tesouraria num estado
dramático”. Nesse sentido, vem sendo discutido o uso de boa parte do fundo de
recuperação europeia contra a COVID-19 no setor turístico, pois, de acordo com
Luís Pedro Martins, quando este setor se recupera leva a reboque outros.
Entretanto,
passando ao largo da questão económica propriamente dita, pensemos na oferta
turística, pois esse setor, por ser um produto compósito, necessita de uma
multiplicidade de atividades e agentes para se desenvolver. A crise sanitária
pela qual estamos passando força uma revisão de tudo o que foi feito até agora.
Os especialistas apontam uma retoma por meio da promoção do turismo local, com
viagens domésticas e regionais que promovam a sustentabilidade. Os destinos
vinculados à natureza vêm ao encontro desse novo momento, bem como a busca de
destinos mais seguros e sítios menos conhecidos. Assim, o setor vai se redesenhando
com base nas novas necessidades, exigências e novos perfis de consumidores.
Na
esteira desse pensamento, temos ainda o turismo dos grandes centros urbanos que
anteriormente à covid-19 estavam passando por um processo de massificação e
debate envolvendo o desdobramento disso. Tais destinos, em um mundo pós-pandemia,
serão ainda atrativos? Ou melhor, poderão comportar esse grande número de
turistas? Repensar a sua dinâmica seria a melhor solução e, de acordo com a
matéria veiculada pelo jornal Expresso em 25 de novembro de 2020, isso já está
a acontecer. Mesmo com a crise económica, algumas cidades já estão buscando soluções
que estão vinculadas ao controlo do número de visitantes e criação de rotas
alternativas em sítios próximos. Dessa forma, a cidade mantem o turista por mais
uma noite, reduzindo o volume total de visitantes, desafoga o centro histórico
e equipamentos culturais e promove o desenvolvimento de lugares próximos que
antes não eram atrativos.
A recuperação dos destinos turísticos já existentes, bem com a criação de novos deverá vir acompanhada de um sólido projeto que envolva a iniciativa pública, privada e, principalmente, a população local. Pensar no turismo em um mundo pós-covid é saber que as necessidades e os desafios poderão ser diferentes, cabendo ao setor pensar soluções que estejam de acordo com essa nova realidade.
Ana Carolina Viana Guimarães
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
1 comentário:
Muito obrigado pela reflexão.
Tenho só uma questão; é Brasileira?
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