Desde a década de 1990, a
intensificação da acumulação de capital, especialmente na sua dimensão
financeira, tem sido um dos pilares para o triunfo do neoliberalismo. Políticas
neoliberais têm incidido sobre a flexibilização do setor imobiliário,
conduzindo assim a um boom imobiliário, acompanhado naturalmente por uma
notável bolha imobiliária.
O capital financeiro tem gerado várias crises
pelo mundo fora e como resposta a urbanização tornou-se um importante estabilizador
econômico, numa escala global. O desenvolvimento imobiliário e a urbanização
passaram então a desempenhar um papel de destaque na expansão do capital nestes
últimos anos. Este processo tem sido sustentado pela abertura do acesso ao
crédito, conduzindo um grande número de pessoas ao endividamento (especialmente
da classe trabalhadora).
Esta expansão do neoliberalismo
inclui a viragem dita empreendedora que muitos governos locais tomaram, ao
desempenhar um novo papel na governação urbana. Estes, em conjunto com agentes
privados e elites urbanas, transformaram-se em promotores e implementadores,
produzindo uma cidade baseada numa lógica de competitividade. Este princípio de
desenvolver e construir a cidade de acordo com a dinâmica do capitalismo
financeiro global deu origem ao que é conhecido como urbanismo neoliberal:
um urbanismo que é submisso às ordens do capital, onde, numa rede global urbana
hierarquizada, onde a competitividade é a chave, os poderes urbanos lutam para destacar suas cidades.
Estes espaços urbanos tendem a ser especializados no dito setor ‘FIRE’ (Finance,
Insurance, Real Estate/Finança, Seguros, Imobiliário).
A produção da cidade como um dos
motores mais relevantes da acumulação de capital, dentro deste quadro do
urbanismo neoliberal, tem contribuído para a geração de novas relações de
poder, espaciais, e sociais, sendo materializadas através de processos como o
empreendedorismo urbano ou a gentrificação. Neste sentido, estas políticas (especialmente
as gentrificadoras) têm sido uma das principais estratégias urbanas que têm
impulsionado as cidades no mercado global. Deste modo, a sua transformação
urbana e política foi refém das lógicas do capital que se manifestaram sob a
atual hegemonia neoliberal. Este processo de transformação acelerou e exacerbou
um padrão de desenvolvimento geográfico altamente desigual.
A
urbanização oferece-se assim como sendo uma forma de resolver o problema do
capital excedente. Nos últimos trinta anos, uma enorme quantidade deste capital
excedente foi absorvida através da urbanização, principalmente pela expansão
urbana, a reestruturação e a especulação imobiliária. A produção da cidade e o
mercado imobiliário têm sido alguns dos principais motores da acumulação de capital
das nossas economias capitalistas urbanas, transformado na principal solução da
crise capitalista e espacial.
Thomas Bloomfield
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho
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