quarta-feira, março 24, 2021

Paladar como motor do turismo em Portugal

             O nosso paladar é, por vezes, a razão pela qual nos aventuramos a outros lugares e partes do mundo. A vontade de querer conhecer, experienciar e saborear o produto de diferentes culturas é um motor do turismo que não pode ser ignorado. O turista gastronómico viaja à procura da autenticidade dos lugares, através da bebida e da comida (Barroco e Augusto, 2016).

Como vertente do turismo cultural, o turismo gastronómico é o turismo desencadeado pela vontade dos turistas exercerem práticas gastronómicas de uma determinada localidade (Gândara, 2009).

Olhando para Portugal, não há que duvidar que possuímos uma riqueza gastronómica ímpar e de reconhecimento mundial. O turismo no litoral em Portugal é obviamente mais procurado que no interior. No entanto, em termos gastronómicos, existe uma distribuição equivalente de qualidade de produtos gastronómicos por todo o país. Segundo Oliveira (2007), embora o “boom” do turismo rural tenha acalmado, tem ainda potencial de crescimento, pois foi utilizada uma estratégia precária, onde pouco proveito se tirou da importância que a gastronomia tem para os turistas, podendo ter-se aproveitado para combinar melhor o turismo rural e o gastronómico.

Por estas razões, é necessário ter em conta e apoiar os serviços de gastronomia, pois podem ser potenciadores de turismo em zonas menos escolhidas por turistas e ainda aumentar ainda mais a procura no litoral.

Existem várias iniciativas que procuram apoiar e ajudar a dar visibilidade à gastronomia portuguesa. Temos o exemplo da AGAVI e a Comboios de Portugal. A AGAVI é uma associação sem fins lucrativos fundada em 2010 e que se tem vindo a afirmar como um ponto de encontro e interação entre diferentes entidades económicas com o objetivo de promover o dinamismo agroalimentar. A Comboios de Portugal vende bilhetes em conformidade com rotas, como é o exemplo da Rota da Lampreia, que estabelece uma viajem às regiões da Beira Baixa e Tomar, onde o turista pode usufruir de sabores próprios das localidades. Estes tipos de iniciativas são importantes pois não precisamos viajar para destinos exóticos ou longínquos para experimentar sabores incríveis. Temos de apreciar o que é nosso e viajar dentro do nosso país deveria ser sempre uma opção em mente.

O norte de Portugal sofre em termos de acessos de comboio, mas não perde para o sul do país no que diz respeito a riqueza e qualidade gastronómica. Na minha terra de infância, em Fão, todos os anos é feita a “Festa da cerveja e do marisco”, que atrai milhares de turistas ao conselho de Esposende ao longo de uma semana. Estes pequenos eventos, existem por todo o país, todos com igual qualidade e riqueza cultural.

Desde o peixe sempre fresco ao “cozido à portuguesa”, o nosso cantinho tem uma vasta oferta de verdadeiras pérolas gastronómicas. Temos o exemplo da Dieta Mediterrânica que, segundo o Turismo de Portugal, está classificada como Património Mundial pela Unesco.

Como podemos observar, Portugal é uma “mina de ouro” para a gastronomia e não precisamos ir muito longe para descobrir delícias que nos façam “viajar” no nosso pensamento. É, portanto, importante dar valor à nossa cultura gastronómica, apoiá-la e o mais importante de tudo, usufruir.

 

Daniel Brito

Referências:

Oliveria, S. (2007). O turismo Gastronómico e o Enoturismo como potenciadores do Desenvolvimento Regional.

Turismo de Portugal. Retirado em https://www.visitportugal.com/pt-pt/tipo-experiencias/gastronomia-e-vinhos (último acesso 20/03/2021).

Barroco, C. e Augusto, L. (2016). O turismo gastronómico em Portugal: Formas de comunicar os produtos endógenos da região Dão Lafões e Alto-Paiva. Revista Anais Brasileiros, 2, 23-39.

Gândara, J. (2009). Reflexões sobre o Turismo Gastronômico na perspectiva da sociedade dos sonhos. Segmentação do mercado turístico–estudos, produtos e perspectivas. Barueri: Manole, 4-27.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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