sábado, março 20, 2021

Turismo Sénior

           O envelhecimento da população é um fenómeno de amplitude mundial e Portugal não é exceção. As projeções coincidem com o aumento do índice de envelhecimento da população e a redução dos jovens. Dada a tendência para o crescimento da população idosa, Portugal enfrenta atualmente uma realidade que começa a ganhar um impacte social relevante, destacando-se as baixas taxas de natalidade e de mortalidade e o aumento significativo dos idosos no conjunto do país.

O envelhecimento é um processo complexo, inevitável e irreversível, intrínseco a todos os seres vivos. Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo possível, é atualmente um estímulo à responsabilidade individual e coletiva, com implicações consideráveis no desenvolvimento económico do país. É necessário criar condições para que as pessoas mais velhas sejam atores sociais participativos, proporcionando-lhes acesso à informação, à formação e ao desenvolvimento pessoal e social, através de programas educativos, culturais, de ocupação de tempos livres e lazer.

As últimas décadas demonstraram-se bastante promissoras no que diz respeito às ofertas culturais, educativas e turísticas e a população mais velha cada vez mais é integrada no público-alvo e contemplada nos programas existentes, no entanto ainda existe um longo caminho a percorrer.

No que diz respeito ao turismo sénior destacam-se algumas iniciativas de cariz social onde os municípios colaboram na sua realização para que possam incluir idosos com fragilidades económicas. Como exemplo, o município de Guimarães, juntamente com a cooperativa Fraterna, anualmente disponibiliza aos idosos que possuem o cartão do idoso (ter idade igual ou superior a 65 anos e residir no concelho) a possibilidade de usufruir de uns dias de férias ao nível nacional em roteiros previamente estabelecidos. O valor da comparticipação é calculado de acordo com os critérios definidos pela Câmara Municipal de Guimarães tendo em conta os rendimentos do idoso.

As exigências são cada vez maiores e a sociedade tenderá sempre a adaptar-se, surgindo muitas outras soluções para aqueles em que o tempo é o seu melhor aliado. Neste sentido, a fundação Inatel tem um papel fulcral com a oferta que disponibiliza tanto aos casais séniores como às famílias que incluem os seus ascendentes nos seus planos de férias. Esta fundação atualmente tutelada pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social promove atividades de tempos livres na vertente do turismo social, com projetos e ofertas também focalizadas para a terceira idade.

O turismo sénior não se limita a estas ofertas e vão surgindo associações, cooperativas e até Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que dão o seu contributo de forma informal com o objetivo de proporcionar aos séniores a oportunidade de usufruírem férias, que muitos nunca o tinham feito, tanto por impossibilidade económica como pela rotulagem social que isso acarretava.

O Centro Social das Taipas, em Guimarães, é uma IPSS exemplificativa do impacte que estas entidades podem ter nos seus utentes. Na valência de Centro de Dia, a instituição, anualmente, proporciona aos seus idosos uma semana de férias. Iniciou-se pela contratação de um serviço de colónias de férias na Apúlia, e, com o sucesso desta iniciativa, o Centro Social há cerca de 6 anos iniciou-se autonomamente na preparação de uma semana de férias para os seus utentes num local que muito lhes dizia, Póvoa de Varzim. Esta iniciativa conta com a participação monetária da própria instituição, através de iniciativas promovidas ao longo do ano, e o restante por parte dos utentes.

Para além das iniciativas de lazer associadas ao turismo, as associações e instituições também facilitam um outro tipo de turismo, o turismo cultural. São através destas respostas sociais, onde os idosos passam a maioria do seu tempo, que parte realiza passeios e visitas culturais que de outro modo não teriam conseguido.

O número de pessoas portuguesas acima dos 65 anos que realizaram turismo tem crescido. Segundo os dados do INE, em 2019, 13% dos idosos realizaram deslocações por motivo de lazer e/ou férias, existindo um aumento de 0,4% referente a 2018.  Os valores amplificam-se quando não se tem em conta o motivo da viagem, tendo-se verificado uma deslocação de 16,1% da população com 65 ou mais anos que, em 2019, realizou uma viagem turística.

É notório o impacte que o turismo sénior acarreta para a economia portuguesa, no entanto também se torna visível a necessidade de o mercado do turismo se adaptar e realizar ofertas de acordo com as especificidades que esta população apresenta quer ao nível individual como das famílias.


Sabina Silva Rodrigues

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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