quarta-feira, março 24, 2021

A relação do edifício com a trama urbana

       A cidade contemporânea é um culminar de variáveis que comunicam entre si. As suas complexas relações e comunicações elevam o seu estatuto e qualidade de vida dos seus habitantes, estando intrinsecamente ligado ao crescimento urbano e económico da cidade. Desde a sua composição até às relações periféricas (serviços), estas conseguem delimitar ou potencializar o habitar no edifício.

          A composição social e económica são os fatores que servem de mote para a projeção artística do edifico. A localização na trama urbana e a qualificação dos serviços periféricos criam uma imagem pré-definida da construção, tendo em conta o mercado atual (valor do metro quadrado) e as relações superficiais com a envolvente. Esta logica é mais demarcada em cidades com alta densidade populacional, onde o preço do imóvel e a quantidade de serviços provocam uma construção compactada e com área reduzida, em comparação com habitações unifamiliares na periferia da cidade.

      Um dos exemplos mais marcante é o Japão, maioritariamente na região metropolitana de Tóquio, onde o custo de vida e o preço imóvel são elevados. Devido a esta metrópole, onde existem vários subcentros que descentralizam e expandem a zona urbana, existe uma elevada densidade de construções, limitando a área de intervenção arquitetónica. Esta demarcação reduzida provoca uma mudança construtiva, onde há uma maximização de espaço útil. Um dos exemplos presentes nesta região é House in a Plum Grove, projetada por Kazuyo Sejima, onde, para aumentar o espaço habitável da casa (devido ao tamanho reduzido e custo elevado do lote), a espessura das paredes exteriores e interiores foram reduzidas (50mm e 12mm, respetivamente).

        Outra mudança construtiva presente em regiões com elevada densidade populacional é a destilação do programa em edifícios multifamiliares. Como a procura de habitação é elevada, os edifícios perto do centro de negócios e serviços optam por acolher um programa onde se prioriza a quantidade de apartamentos e não o seu tamanho. Esta abordagem provoca habitações que não conseguem albergar o agregado familiar, obrigando-as a deslocar-se para a periferia do núcleo urbano.

          A abordagem urbana e a sua relação com a população conseguem delimitar os modelos construtivos e, consequentemente, a vivencia dos seus habitantes. A simples limitação de área bruta ou a sua relação com os elementos urbanos geram soluções que evoluem de acordo com a economia e desenho urbano.

 

João Leite

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho) 

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