segunda-feira, março 22, 2021

O IMPACTE DA COVID NA ECONOMIA DOS IMÓVEIS

     Com a chegada da pandemia a Portugal, surgiu uma necessidade de mudança dos nossos hábitos, o que mudou completamente a nossa perspetiva sobre o mercado imobiliário. Este artigo pretende expor o que modificou a mentalidade dos cidadãos na escolha dos imóveis e o porquê.

Segundo o Modelo de Alonso (1964), existe uma maior procura dos imóveis nos centros urbanos, tendo estes uma maior densidade populacional e onde se podem encontrar uma vasta variedade de serviços ao dispor do cidadão. Sendo que os cidadãos preferem um imóvel o mais próximo possível destes locais, quer pela distância ao emprego, às escolas e serviços, quer pela poupança de tempo e de dinheiro nas deslocações, a procura é superior à oferta do mercado, logo o preço do imóvel é consequentemente maior.

Enquanto que nos centros urbanos os imóveis com jardim e espaços exteriores são mais escassos, devido à própria morfologia urbana e à quantidade de população, as famílias continuavam a preferir essa localização e estavam dispostas a pagar por um apartamento T2 no centro urbano o mesmo que pagariam por uma moradia T4 com jardim numa zona rural, mais distante do centro.

Contudo, esta está gradualmente a deixar de ser a nossa realidade atual. Hoje vivemos com a necessidade de permanecer mais tempo no interior das nossas habitações, quer para vivermos, quer para trabalharmos ou estudarmos. Uma grande parte dos empregos presenciais foi substituído por um novo método de trabalho à distância: o teletrabalho. Em paralelo, os alunos passaram também a adotar o regime de aulas online, chegando ao ponto de passar a maior parte do dia no interior das suas casas. Esta nova realidade deixou de priorizar a proximidade ao emprego e ao estabelecimento de ensino.

Até que ponto é que viver num centro urbano é benéfico durante uma pandemia? Enquanto que, antes da pandemia, uma habitação tinha menos permanência (maioritariamente servindo para dormir e permanecer durante um curto espaço de tempo, sendo que os filhos passavam a maior parte do seu dia nas escolas/ATL e os pais deslocavam-se para os seus empregos), esta passou a ser um local de permanência constante, onde se dorme, descansa, trabalha e se estuda.

Posto isto, com a adesão ao teletrabalho e à telescola, esta realidade torna-se difícil de adaptar em muitas destas famílias que vivem, por exemplo, em apartamentos no centro (onde não existe um terraço, nem existem compartimentos suficientemente aptos para as novas atividades que se desenvolvem).

Sendo que, anteriormente à COVID-19, a necessidade primordial na escolha de uma habitação era a proximidade do trabalho e da escola, o cidadão tem agora um novo conceito de habitação, pois a sua preocupação é maior relativamente ao distanciamento físico, ao cuidado da saúde mental e física, à capacidade de desenvolver as atividades em casa e à possibilidade de passear na sua área de residência sem medo do contágio:

Segundo o Idealista, “Os espaços exteriores, como terraço, jardim ou piscina, tornaram-se nas principais caraterísticas da pesquisa de casa nos 3 países, tanto no mercado de venda como de arrendamento. A procura por terrenos para venda assumiu uma posição de liderança em Espanha, com um aumento de 72% de março a setembro, seguida de casas de campo e moradias, indicando claramente a necessidade de mais espaços interiores e exteriores. Em Portugal, os apartamentos com terraço e jardim e piscina comuns tiveram um aumento exponencial de 121%. Os terraços também são a característica mais procurada no mercado italiano de vendas".

Este despovoamento gradual das cidades tem implicações económicas e sociais, mas o efeito a longo prazo irá trazer vantagens em termos de preço dos imóveis. Quanto menos pessoas existirem num determinado mercado, menor será a procura da habitação nessa região, o que implicará um decréscimo nos preços das habitações destes centros urbanos. Para além de que estes se encontram sobrelotados, com poucos espaços verdes, jardins e terraços, e, por isso, as famílias estão a preferir a aquisição de um imóvel na periferia, mesmo existindo a necessidade de deslocações pontuais, porque a preocupação principal dos habitantes passou a ser a salvaguarda da saúde, a caminhada ao ar livre e o conforto de uma habitação apta para a família. As famílias preferem agora as habitações nas zonas mais rurais, mais afastadas do centro, com mais espaço, maior número de divisões para a conceção das atividades e com uma boa ventilação natural, inseridas em locais dotados de espaços verdes e de boa qualidade do ar, onde se podem refugiar da densidade da cidade, em melhores condições.

 

Ana Catarina Barbosa

Bibliografia:

https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2020/11/03/45143-impacto-da-covid-19-no-mercado-imobiliario-no-sul-da-europa

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho) 

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