Com a chegada da pandemia a Portugal, surgiu uma necessidade de mudança dos nossos hábitos, o que mudou completamente a nossa perspetiva sobre o mercado imobiliário. Este artigo pretende expor o que modificou a mentalidade dos cidadãos na escolha dos imóveis e o porquê.
Segundo o Modelo
de Alonso (1964), existe uma maior procura dos imóveis nos centros urbanos, tendo
estes uma maior densidade populacional e onde se podem encontrar uma vasta
variedade de serviços ao dispor do cidadão. Sendo que os cidadãos preferem um
imóvel o mais próximo possível destes locais, quer pela distância ao emprego,
às escolas e serviços, quer pela poupança de tempo e de dinheiro nas
deslocações, a procura é superior à oferta do mercado, logo o preço do imóvel é
consequentemente maior.
Enquanto que nos
centros urbanos os imóveis com jardim e espaços exteriores são mais escassos,
devido à própria morfologia urbana e à quantidade de população, as famílias
continuavam a preferir essa localização e estavam dispostas a pagar por um
apartamento T2 no centro urbano o mesmo que pagariam por uma moradia T4 com jardim
numa zona rural, mais distante do centro.
Contudo, esta está
gradualmente a deixar de ser a nossa realidade atual. Hoje vivemos com a
necessidade de permanecer mais tempo no interior das nossas habitações, quer
para vivermos, quer para trabalharmos ou estudarmos. Uma grande parte dos
empregos presenciais foi substituído por um novo método de trabalho à distância:
o teletrabalho. Em paralelo, os alunos passaram também a adotar o regime de
aulas online, chegando ao ponto de
passar a maior parte do dia no interior das suas casas. Esta nova realidade
deixou de priorizar a proximidade ao emprego e ao estabelecimento de ensino.
Até que ponto é que viver num centro urbano é benéfico
durante uma pandemia? Enquanto
que, antes da pandemia, uma habitação tinha menos permanência (maioritariamente
servindo para dormir e permanecer durante um curto espaço de tempo, sendo que
os filhos passavam a maior parte do seu dia nas escolas/ATL e os pais deslocavam-se
para os seus empregos), esta passou a ser um local de permanência constante,
onde se dorme, descansa, trabalha e se estuda.
Posto isto, com a
adesão ao teletrabalho e à telescola, esta realidade torna-se difícil de
adaptar em muitas destas famílias que vivem, por exemplo, em apartamentos no
centro (onde não existe um terraço, nem existem compartimentos suficientemente
aptos para as novas atividades que se desenvolvem).
Sendo que, anteriormente
à COVID-19, a necessidade primordial na escolha de uma habitação era a
proximidade do trabalho e da escola, o cidadão tem agora um novo conceito de habitação,
pois a sua preocupação é maior relativamente ao distanciamento físico, ao
cuidado da saúde mental e física, à capacidade de desenvolver as atividades em
casa e à possibilidade de passear na sua área de residência sem medo do
contágio:
Segundo
o Idealista, “Os espaços
exteriores, como
terraço, jardim ou piscina, tornaram-se nas principais caraterísticas da
pesquisa de casa nos 3 países, tanto
no mercado de venda como de arrendamento. “A procura por terrenos para venda
assumiu uma posição de liderança em Espanha, com um aumento de 72% de março a
setembro, seguida de casas de campo e moradias, indicando claramente a
necessidade de mais espaços interiores e exteriores. Em Portugal, os
apartamentos com terraço e jardim e piscina comuns tiveram um aumento
exponencial de 121%. Os terraços também são a característica mais procurada no
mercado italiano de vendas".
Este despovoamento
gradual das cidades tem implicações económicas e sociais, mas o efeito a longo
prazo irá trazer vantagens em termos de preço dos imóveis. Quanto menos pessoas
existirem num determinado mercado, menor será a procura da habitação nessa região,
o que implicará um decréscimo nos preços das habitações destes centros urbanos.
Para além de que estes se encontram sobrelotados, com poucos espaços verdes,
jardins e terraços, e, por isso, as famílias estão a preferir a aquisição de um
imóvel na periferia, mesmo existindo a necessidade de deslocações pontuais,
porque a preocupação principal dos habitantes passou a ser a salvaguarda da saúde,
a caminhada ao ar livre e o conforto de uma habitação apta para a família. As
famílias preferem agora as habitações nas zonas mais rurais, mais afastadas do
centro, com mais espaço, maior número de divisões para a conceção das
atividades e com uma boa ventilação natural, inseridas em locais dotados de
espaços verdes e de boa qualidade do ar, onde se podem refugiar da densidade da
cidade, em melhores condições.
Ana Catarina Barbosa
Bibliografia:
https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2020/11/03/45143-impacto-da-covid-19-no-mercado-imobiliario-no-sul-da-europa
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)
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