O
território nacional, apesar da sua relativa pequena área quando comparado com
os seus congéneres, dispõe de uma enorme variedade e heterogeneidade do seu
património natural. Na verdade, dados do Eurostat indicam que Portugal, entre
os 27 países da União Europeia (N.A. dados pré-Brexit) só é ultrapassado por
Malta, liderando assim, no campo da diversidade paisagística[1].
Acresce ainda que, na sua caraterização biofísica, os elementos e as diferenças
geológicas, climatológicas, hidrográficas, geomorfológicas, dos solos e dos
próprios recursos minerais, tornam-no, sem dúvida, um amplo e abundante espaço
físico nesta componente ambiental. Tais qualidades têm permitido uma oferta
turística igualmente diversa e que abarca muitos públicos com interesses também
estes distintos.
Se desde os anos 50, o turismo de “sol
e mar” tem sido o mais explorado e procurado, esta tendência tem sido não
invertida mas complementada com o aproveitamento total do território nacional,
em particular desde a implementação e execução do Plano Estratégico Nacional de
Turismo 2006-2015 (PENT), oferecendo novos mercados e captando novos turistas,
tanto nacionais, como estrangeiros.
Não se estranha assim, como ferramenta
de desenvolvimento regional, a criação e consequente desenvolvimento do turismo
da natureza, em particular dos trilhos e percursos pedestres, que neste momento
se espraiam de Norte a Sul. Assim, as inúmeras e cada vez mais procuradas
incursões pelas Fisgas de Ermelo (Mondim de Basto), Passadiços do Paiva
(Arouca), a Rota da Garganta de Loriga (Serra da Estrela) ou o Caminho do Xisto
da Lousã (Lousã), nomeando somente alguns, tornam estes locais ex-libris do
pedestrianismo.
É certo que o património natural que se visita neste turismo da natureza, “faz parte dos bens inestimáveis e insubstituíveis de toda a humanidade” (Unesco, Convenção do Património Mundial, 2014) e para nós, enquanto profissionais ligados ao património ou leitores mais atentos e preocupados com a sua preservação e conservação, acarretará sempre enorme valor.
Por
me interessarem as sinergias e relações colaborativas entre instituições e
organismos como forma potenciadora de atividade e crescimento (económico,
social, demográfico), parecem-me pertinentes algumas reflexões.
Para
os amantes da natureza, caminheiros, viajantes ou turistas ocasionais, para
além do bem-estar, do exercício físico, da contemplação da paisagem e de todo a
imersão sensorial, que outras experiências e vivências podem obter na sua passagem?
E que relações de afetividade criam com o local visitado? E, paralelamente, que
aproveitamento, no âmbito do desenvolvimento regional, podem entidades ou
municípios encetar, com o seu património físico, em particular com os
diferentes percursos pedestres que calcorreiam as suas fronteiras internas?
De
que forma se pode estimular a visita a um novo território, e como se podem
motivar regressos? E, ainda, de que forma as terras, as comunidades e os
seus serviços e comércios podem ganhar com estas movimentações turísticas?
Tais questões podem-se colocar para o
novo relocalizado e requalificado Trilho do Castelo, um investimento do
município de Vila Pouca de Aguiar, em plena Serra do Alvão, no âmbito da
construção da Central Hidroelétrica de Gouvães, incluída no Sistema Electroprodutor do Tâmega,
localizada no Rio Torno, sendo este um afluente do Rio Tâmega. Este novo
traçado mantém-se protegido e valorizado pelas diretrizes da Rede Natura 2000,
no qual se insere.
Neste
território em particular, e ancorado neste trilho, na perspetiva dos visitantes,
estes podem observar diferentes pontos de interesse biológico como habitats (vidoal, charnecas, lagoas e afloramentos
rochosos), bem como a flora e fauna autótone (borboletas, libelinhas,
libélulas, anfíbios). Permitem-se ainda as visitas a elementos de interesse histórico
e arqueológico como os núcleos rurais de algumas povoações, sítios
arqueológicos de período megalítico, como o Mamoa do Alto do Cotorino ou as
Sepulturas Medievais escavadas na Rocha.
Por
sua vez, o município poderá aproveitar o fluxo de visitantes encaminhando-o aos
diferentes equipamentos e atividades culturais de que dispõe, estimulando
igualmente a visita aos seus produtos e comércios ligados à gastronomia,
hotelaria, artesanato, indústria local. Utopicamente, pode levar até à
radicação de novos habitantes que se interessem pelo estilo e qualidade de
vida, certamente distinto dos aglomerados de regiões metropolitanas. Justificam-se
as visitas, não só pelo ato de caminhar, mas por todas as experiências
associadas.
Indubitavelmente,
Portugal apresenta inúmeros recursos naturais que podem e devem ser explorados,
em particular no interior e interior norte, onde os vales e montes que rasgam a
paisagem permitem pensar o território, o seu ordenamento e o seu usufruto
(igualmente turístico) de uma maneira muito própria.
Marco Alexandre Rodrigues e Matos
[1] http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Land_cover,_land_use_and_landscape
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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